Mudar de profissão pode parecer difícil, especialmente quando os dois cargos exercem funções completamente diferentes. Porém, Daniel Ferretto, de 43 anos, conseguiu ir da “água para o vinho”, como ele mesmo descreve, com muito sucesso. Mais conhecido como Professor Ferretto na internet, o policial federal se licenciou da corporação para se tornar um dos maiores influenciadores digitais de matemática do Brasil.
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Ferretto já era professor de curso pré-vestibular desde 1998, antes de começar a estudar matemática na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Durante 10 anos, o professor tinha a mesma rotina: lecionava cerca de 65 aulas semanais, em seis cidades do estado. Foi nesse momento que sentiu que algo estava faltando e decidiu abandonar o salário equivalente a R$ 10 mil na época para prestar concurso para a Polícia Federal.
O professor pediu, então, demissão das seis empresas em que lecionava, vendeu seu carro e foi morar com a mãe em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, a fim de estudar para ser aprovado no concurso público da polícia. Após muitas provas, em 2012, o professor conseguiu ser aprovado na Polícia Federal e foi trabalhar em Chapecó, em Santa Catarina, lugar para onde se mudou com a esposa e deu início a sua carreira como policial.
De policial federal a professor
Apesar de ter conseguido passar no concurso que queria, Ferretto ainda não estava satisfeito com a sua vida profissional e começou a sentir vontade de dar aulas novamente. Foi então que, em 2013, o policial percebeu que o YouTube era a plataforma que poderia ajudá-lo a voltar a lecionar e ainda assim permitir que ele continuasse dentro da Polícia Federal.
“Um filme começou a passar na minha cabeça e alguns raciocínios lógicos começavam a ser resolvidos. Comecei a entender por que eu dava tantos passos para trás para cumprir com um objetivo, e porque assumia tantos riscos. A resposta era que eu queria ser empreendedor”, explicou.
Em abril de 2014, o professor criou o canal, chamado “ Ferretto Matemática ” e foi dessa forma que começou a postar vídeos de maneira amadora na plataforma e a entregar conteúdo de graça para o público. “Foi bem despretensioso quando eu comecei. Eu nunca imaginei que eu ia ter a quantidade de inscritos que eu tenho ou que eu iria criar uma plataforma para vender curso.”
Porém, nem tudo foi fácil, já que se destacar é um dos principais desafios para aqueles que tentam se comunicar pelo YouTube. Os cerca de 1,9 bilhão de usuários que acessam a plataforma diariamente, segundo a corporação, têm a atenção disputada por diversos canais, com conteúdos variados.
“Quando eu estava criando o meu canal, eu decidi ensinar da minha forma. Quando a gente está ensinando em cursinho, a gente tem um número de aulas por semana, certinho. A gente tem que dar aquele assunto em determinado momento. Então ali eu pensei: vou ensinar da maneira que eu sei. Começando pela matemática básica, resgatando todos os conceitos do fundamental e do ensino médio que são muitas vezes esquecidos. Eu tô me preocupando com a quantidade de aulas em cada assunto e devagarinho eu vou abrangendo um monte de gente”, contou.
Outras dificuldades que o meio digital impôs ao professor foi aprender a lidar com a tecnologia, com os equipamentos de gravação e com a falta de contato direto com os alunos. “Sou eu e a câmera. Em sala de aula a gente tem o feedback, o aluno pergunta, você fica ciente de quais são as dúvidas dele. Então, essa proximidade física é algo totalmente diferente do conteúdo online.”
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"Eu acho que todo mundo tem a ganhar"
Apesar dos desafios, o professor foi se profissionalizando na atividade e, após dois anos, decidiu realizar um empréstimo com sua mãe e investir R$ 70 mil para criar uma plataforma de estudo online e passar a disponibilizar conteúdos pagos por meio de assinatura.
“Eu acho que, pela democratização da internet, pelo YouTube permitir que qualquer pessoa possa incluir assuntos ali, eu acho que essa é uma nova forma de o professor disseminar aquilo que ele mais gosta, atingindo mais pessoas e ajudando mais pessoas. Eu acho que todo mundo tem a ganhar.”
Com o crescimento do curso online e do canal no YouTube, Ferretto decidiu pedir licença não remunerada para a Polícia Federal , a fim de se dedicar totalmente a suas plataformas de conteúdo.
Mesmo após ter transitado por duas profissões que costumam ser enquadradas pela atual sociedade polarizada como 'de posicionamentos políticos opostos', o policial licenciado diz acreditar que tanto policiais como professores apenas defendem o que é o melhor pra eles e que cada um está certo ao seu modo.
“Eu acredito que cada categoria acaba defendendo os seus interesses. Tem que defender o que seria melhor pra eles. Em primeiro lugar, eu acho que tem que pensar que nem todo mundo vai ganhar, então se tiver que ceder para melhorar o todo, melhorar o Brasil, eu acho que é super válido."
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Atualmente, o gaúcho mantém seu canal com mais de dois milhões de inscritos, uma equipe de 17 profissionais, uma plataforma de curso online e um blog pessoal, em que publica dicas de estudo para seus seguidores. O Professor Ferretto não revela seu faturamento, mas afirma que é dez vezes maior do que ganhava como servidor público e, com o grande sucesso, preserva como objetivo "ampliar o número de brasileiros que tomem gosto pela matemática, de uma forma divertida e prazerosa de aprender”.
Confira um vídeo do canal "Ferretto Matemática":