Até o surgimento da Rio-Santos, a Estrada Paraty-Cunha era a única via de acesso a Paraty a partir de Guaratinguetá. Era uma estrada precária e perigosa, mas que contava com um mínimo de manutenção para que permanecesse aberta, exceto nos períodos de grandes chuvas, quando fechava.
Para os habitantes de Paraty, o asfaltamento da Paraty-Cunha foi anunciado por meio século. Nos idos de 1980, houve um acordo entre os governadores Montoro e Brizola, para que fosse asfaltado o trecho de São Paulo, até o alto da serra, enquanto o governador fluminense iria pavimentar do litoral até o alto da serra.
O lado de São Paulo foi executado conforme combinado, mas o trecho fluminense foi feito de forma irregular e acabou deixando um naco de nove quilômetros sem asfalto, o que inviabilizava a estrada, não sem antes destruir uma grande quantidade de carros que ousaram descer a serra e enfrentar o trecho de terra e pedras.
Roberto Muylaert: Direitos mal adquiridos
Diante de uma população cética, foi anunciado, cinco anos atrás, que finalmente a estrada seria completada, com traçado ecológico, cerca para isolamento da mata e até passagens elevadas para animais. O piso seria de bloquete de concreto, e guardas florestais a fiscalizariam 24 horas, para que não houvesse abuso.
Um pedágio seria cobrado para permanente conservação da via, sendo proibido o tráfego de caminhões. Pode parecer um sonho, mas no ano passado tudo isso se concretizou, e os motoristas, incrédulos, começaram a utilizar aquele caminho tão belo e agradável, reduzindo o tempo de viagem de São Paulo em uma hora, em relação à vinda por Taubaté-Ubatuba.
Acontece que todo aquele planejamento ecológico foi esquecido, e a estrada foi entregue sem nenhum tipo de fiscalização, ou polícia rodoviária. Agora, quem percorre o trecho, que se insere entre as melhores estadas do Brasil, disputa espaço com grandes jamantas, ônibus e todo tipo de veículo pesado, sem que exista alguém a quem recorrer.
Roberto Muylaert: Prenderam o Juquinha
A estrada que foi inexequível por meio século agora está construída de maneira exemplar, para em seguida ser abandonada por completo, até que o excesso de peso destrua os bloquetes de concreto tão bem assentados de forma artesanal.