Nunca estivemos tão bem informados como agora sobre a extensão de falcatrua e roubalheiras por quem está ou esteve nos governos. Coloco no plural, porque as coisas não acontecem só na esfera federal.
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No sábado, por exemplo, estive numa mesa de dez pessoas, em que um dos presentes resolveu fazer um mea culpa, e ao mesmo tempo uma queixa contra o bloqueio de sua conta, “que seria a minha garantia na velhice”, coisa de uns R$ 10 milhões que recebera de “comissões”, como confessou sem ninguém o inquirir, exibindo a humildade de seus valores, frente aos monumentais desvios e falcatrua da esfera federal.
A coisa dele era com o governo de São Paulo, cujas figuras, atuais ou passadas, o irritam quando se mostram indignados com a corrupção federal, tendo eles participado do butim local.
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Ninguém se surpreende mais com essas “horas da verdade” espontâneas, ou induzidas pelos procuradores da Justiça. Existe uma saturação de acusações e todo mundo se pergunta o porquê de não entrarmos na fase prática das condenações, com tanta gente presa sem ser julgada.
Aí entra o fator dos privilégios para parlamentares e autoridades em geral, que é o tal “foro privilegiado”, equivalente à indulgência plenária da Igreja Católica, aquele passaporte para que o fiel vá para o céu, mesmo que morra em “pecado mortal”.
Ou seja, o politico pode pecar à vontade contra a honestidade, mas só poderá ser julgado pelo Supremo. Este, claro, não tem como se livrar de uma multidão de processos antes que prescrevam. Cármen Lúcia, a presidente do STF, mencionou uma espécie de mutirão para correr com esses processos, enquanto a Câmara Federal pretende acabar com o foro privilegiado, cortando também na própria carne.
Enquanto isso, a gente continua sendo informada de falcatrua atrás de falcatrua, seja pelos canais competentes, ou num despretensioso almoço entre conhecidos.
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E como num jogo de futebol, todo mundo tem como certo o fato de haver três ministros que parecem não querer apressar em nada o andamento da miríade de processos. A saber, os senhores Ricardo Lewandovski, Dias Toffoli, e Gilmar Mendes, que a torcida pela justiça reconhece como torcedores do time adversário.
Roberto Muylaert é editor e jornalista