Apontadas quase sempre como poluidoras e impactantes ao meio ambiente, as indústrias querem mudar sua imagem e assumir um papel mais responsável na cadeia da sustentabilidade. Para marcar o "Dia Mundial da Água" , empresas são conclamadas a se unirem à Coalizão Brasileira pela Resiliência Hídrica. Trata-se de um esforço de impacto coletivo voltado para a proteção e recuperação de bacias hidrográficas.
As ações são capitaneadas tecnicamente pelo Pacto Global da ONU – Rede Brasil e pelo Instituto Cerrados, que recebem apoio financeiro, material e operacional de empresas engajadas. A propostas contêm medidas efetivas, como o monitoramento da perenidade de recursos hídricos, combates a incêndios, ao desmatamento, assim como proteção e reflorestamento de áreas degradadas.
Mãe D´água
No Cerrado, nascem 8 das 12 bacias que correm como artérias pelo Brasil. Por isso, esse bioma é chamado de "Berço das Águas". É responsável pelo abastecimento de 40% dos habitantes do país e 80% da irrigação nacional e a produção de carne e soja do Brasil. Isso sem falar da sua importância na produção energética, garantindo a nossa matriz limpa baseada na eletricidade.
Mesmo com tamanha relevância estratégica, dados apontam que 53% desse bioma foi desmatado e, junto com a Amazônia, somam mais de 91% das áreas queimadas e devastadas no Brasil segundo levantamento feito em 2023, índice alarmante que faz elevar o nível de urgência e preocupação ambiental.
Elo das Águas:
A principal iniciativa da Coalisão é embasar o projeto "Elo das Águas", com agenda de trabalho com compromissos programados para os próximos seis anos, entre eles, a restauração de uma área que abrange mais de mil hectares no perímetro do Cerrado. O foco é na Bacia do Paraná, com planos para criação de uma indústria de restauração e ações de engajamento de atores em prol de sua preservação.
“A coalizão é um instrumento de ação coletiva que entendemos como um passo fundamental para a construção de resultados de larga escala e de impacto. Investir em água é investir conjuntamente em ações que garantam a reposição hídrica, sobretudo em bacias hidrográficas já consideradas críticas”, explica Rubens Filho, gerente de Água e Oceano do Pacto Global da ONU – Rede Brasil.
O trabalho a ser feito na região não é fácil. Há muito o que ser restaurado depois de tanta destruição.
“São no mínimo cinco milhões de hectares de passivo ambiental que deveriam ser restaurados. Os esforços que têm sido feitos para a restauração têm alcançado centenas de hectares, mas não são suficientes. É preciso criar uma capacidade restaurativa na escala da demanda. Por isso, o Instituto Cerrados, junto com seus parceiros, está criando o Projeto Elo das Águas, que vai restaurar e criar uma capacidade de restaurar mil hectares por ano. Daí a ideia da indústria da restauração, sempre criando uma cadeia produtiva justa”, afirma Yuri Salmona, diretor do Instituto Cerrados.
Primeiras ações
Antes mesmo dessa coalisão e a entrada de outras entidades, a Coca-Cola e o Instituto Cerrado já estavam realizando, desde 2022, iniciativas que serviram de embrião para o projeto mais amplo.
“Estamos comprometidos em disseminar as melhores práticas de segurança e resiliência hídrica, impulsionando os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e ajudando a minimizar o estresse hídrico no mundo. Sabemos que é uma jornada contínua, por isso, seguimos atuando e buscando aliados para cada vez mais fazer a diferença nas comunidades”, ressalta Rodrigo Brito, diretor de sustentabilidade da Coca-Cola Brasil, empresa integrante da Coalizão Brasileira pela Resiliência Hídrica.
As iniciativas se estendem a outros pontos do Hemisfério Sul, incluindo Argentina, Chile, Bolívia, Uruguai e Paraguai. Os projetos fazem parte de uma agenda global de sustentabilidade adotada pela empresa, com metas de, até 2030, apoiar projetos de conservação em 60 bacias hidrográficas em áreas em que atua. Outra meta é chegar a 100% da reposição ao meio ambiente do volume de água utilizada na produção de suas bebidas.