Assisti, na última segunda-feira (12), a entrevista concedida por Rodrigo Maia, Presidente da Câmara dos Deputados, ao programa Roda-Viva da TV Cultura . Alguns minutos se passaram desde o início de sua fala, quando me veio uma epifania reveladora: Maia é o verdadeiro Presidente do Brasil. Sim, enquanto Bolsonaro sequestra para si todo o debate, que hoje não alcança espessura milimétrica, Maia – para o bem ou para o mal – faz.
Rodrigo Felinto Ibarra Epitácio Maia é deputado federal pelo Democratas e, desde julho de 2016, o 54º Presidente da Câmara dos Deputados do Brasil. É filho de Cesar Maia e, bem por isso, espécime de uma linhagem de políticos oriundos do que o bolsonarismo radical chamaria de “Velha Política”. Isso mesmo. A sua história se entranha na história da redemocratização do Brasil e na sua Nova República, que é o todo da “Velha Política”.
Cesar Maia é filho de Felinto Epitácio Maia, avô de Rodrigo, ex-diretor da Casa da Moeda, membro do clã dos Maia, cujo ancestral comum é Francisco Alves Maia, um fidalgo do Porto, que chegou em Pernambuco no século XVIII. Cesar foi militante de esquerda no movimento estudantil e membro do Partido Comunista Brasileiro, preso em 64, exilou-se no Chile, onde estudou economia com José Serra e onde nasceu Rodrigo. Voltou ao Brasil em 1973. Foi preso no aeroporto e permaneceu detido, nos calabouços da Ditadura, por 3 meses. Tornou-se membro do PDT em 1981 para garantir a vitória eleitoral de Brizola, ao descobrir a fraude eleitoral que ficou conhecida como o “escândalo Proconsult”. Rompeu com Brizola em 1991, para ingressar no PMDB, concorrer e vencer, no ano seguinte, a disputa à Prefeitura do Rio de Janeiro. Elegeu, em 1996, já no PFL, o seu sucessor e perdeu, em 1998, a disputa pelo governo para Antony Garotinho. Seria novamente prefeito do Rio em 1999, dessa vez pelo PTB, para derrotar o seu outrora aliado, Luiz Paulo Conde, que concorria pelo PFL. Esse embate não impediria Maia de se candidatar e vencer, em 2004, ainda no primeiro turno, e pelo PFL, mais uma eleição à Prefeitura do Rio de Janeiro.
Cesar Maia fez muita coisa importante na Cidade Maravilhosa, ainda que seja alvo de críticas e duras acusações.
Rodrigo é um prodigioso aluno dessa combatida, mas, por que não dizer, saudosa (diante do que a sucedeu), escola da política brasileira.
Enquanto Bolsonaro impõe disciplina intestinal à comunidade administrada, achincalha seus oponentes políticos, reabre as feridas pustulentas do regime militar, faz piada com minorias, festeja o nepotismo e joga apenas com e para a sua militância, Maia arroga ao Parlamento a tarefa de governar o país. É pelas mãos desse rebento da
“Velha Política”, que a “Nova Política” se lança a reformas drásticas, invariavelmente favoráveis às empresas e ao capital.
Engana-se quem acredita que o Executivo emplacou a reforma previdenciária e a lei de liberdade econômica, ou que irá liderar a simplificação do regime tributário. As reformas aprovadas na Câmara dos Deputados são reformas da Câmara dos Deputados. O regime previdenciário continua a ser de partilha, por oposição ao regime de capitalização nocional desejado pela equipe do Ministro da Economia. A Medida Provisória de Liberdade Econômica, igualmente proposta pela equipe econômica, é muito diferente do texto aprovado da Lei de Liberdade Econômica. E o provável é que a reforma tributária seja também uma reforma do Parlamento e não do Executivo.
Eu faço muitas e severas críticas a essas alterações legislativas, mas elas são substancialmente menos gravosas aos direitos individuais e coletivos, aos legítimos interesses do Brasil (e aparentemente reversíveis, no devido tempo), do que aquelas pretensões que substituíram.
Isso tudo, somado à segurança e habilidade com que desviou das cascas de banana no Roda-Viva, levou-me a concluir que, por ora, Maia é, como sugeriu Paulo Guedes, o cara e, talvez, o verdadeiro Presidente do Brasil.
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