Woke, um pesadelo insone
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Woke, um pesadelo insone


Os slogans todos conhecem: a luta anticolonial, o revisionismo histórico (não baseado em evidências, mas em narrativas selecionadas), a teoria racial critica e os desdobramentos, (também filtrados) como a ideologia de gênero e a linguagem neutra. São essas as bases teórico-metodológicas com as quais a ideologia woke trabalha.

Recentemente, em função da guerra unilateralmente declarada pelo exército terrorista do Hamas , observou-se um novo e inusitado front nesta ideologia: um arraigado antissemitismo. Muitas vezes estrategicamente disfarçado pela retórica antissionista. Como tem ficado cada vez mais evidente o antissionismo é uma espécie de desculpa do soft power para não incorrer em uma judeofobia politicamente incorreta.

Para ir além dos refrões, o uso de terminologias reducionistas, as notícias falsas e arregimentação de outras forças, tanto laicas como jihadistas, o movimento vem se arraigando, especialmente nos campi das universidades norte-americanas, penetrando no mindset da classe média e em vários rincões da sociedade.

Assim, optamos por examinar sinteticamente cada uma das aporias woke, visando buscar se seus testes de hipóteses passariam por um crivo analítico. Importante salientar que este artigo não pretende estimular as polarizações preexistentes, nem está alinhado a uma corrente específica de pensamento.

O objetivo desta matéria é exatamente refutar a ideia de que haveria uma espécie de argumento final, como sugerem alguns textos dos acadêmicos ligados à ideologia. Precisamos defender a liberdade de expressão, já que achamos que o debate não pode ser intermediado por padrões principistas que rejeitam a argumentação "a priori" por vir de agendas “que não são vinculados à extrema esquerda” ou não comungam com valores “que não sejam progressistas” (sic).

Progressismo, conceito que do ponto de vista formal hoje não é senão uma carta de compromissos vaga e que abriga várias tendências ideológicas. Normalmente estaria associado à defesa intransigente defesa de valores liberais e democráticos, mas nos partisãns woke estes valores também têm se relativizado. Ao assim proceder, a parcela da comunidade acadêmica que clama por liberdade absoluta, deseja licença para ameaçar e conclamar extermínio de outras nações e etnias. E que almeja, na verdade, cancelar aquela parcela que enxerga o debate como um esforço de análise da realidade e não como uma alusão às pautas ideológicas predefinidas.

Vale dizer, se não se pode ser seletivo em matéria da defesa da liberdade de expressão tampouco deve-se permitir que a intolerância tenha uma tal expressão que lhe permita suprimir o debate ou coagir fisicamente os oponentes. E parece ser este o caso. Como bem sintetizou a advogada Lena Barcessat “A ideologia woke rejeita o livre pensamento, o pensamento crítico, através do cancelamento das outras formas de pensar”.

Esta forma de racionalizar uma série de preceitos ideológicos deu origem ao conceito de interseccionalidade.

Vejamos como a definiu a militante Carla Akotirene em uma recente entrevista:

“É uma ferramenta teórica e metodológica usada para pensar a inseparabilidade estrutural do racismo, capitalismo e cisheteropatriarcado, e as articulações decorrentes daí, que imbricadas repetidas vezes colocam as mulheres negras mais expostas e vulneráveis aos trânsitos destas estruturas.”


Neste sentido, nota-se que a interseccionalidade é uma espécie de novelo de co-dependencias conceituais, sempre com uma conotação de denúncias e perspectivas negativas e que, ao fim e ao cabo visam opor-se à “sociedade opressora”. Ora, ao assim entender quase todo mundo ocidental, e, propor que os seus valores sejam combatidos, fica-se com a impressão de que a oposição da teoria teenager é ao mundo tal como o conhecemos. E vale indagar: seria substituído por qual tipo de sistema? Mas se isso não está muito claro há parâmetros indiciários que pressupõem que a doutrina woke não passe de um culto, intolerante e radical, que, ao defender a própria supremacia intelectual não apenas despreza, como sugere a abolição da diversidade de pensamento.

Mas o fato é que ao estabelecer uma relação axiológica de valoração negativa ligando capitalismo/racismo/cisheteropatriarcado, conceitos que estão tão vinculados e intrinsecamente conectados que não se pode isolá-los para produzir qualquer análise.

É uma síntese ideologicamente forçada para atribuir senão todas, mas boa parte das mazelas à perfomance das sociedades ocidentais, já que em sua maioria são capitalistas e heterossexuais, mas, para frustração do núcleo duro de mais esta tese de ofício, não necessariamente racistas. Ao assim unir os conceitos sob a forma de um “pacote”, estariam garantindo uma espécie de imunidade analítica antecipada, uma vez que só se pode compreender de forma “verdadeira” estes conceitos, se fossem tomados como um tanden, pois viriam sempre juntos, pois indissociáveis.

Destaco aqui a palavra “inseparabilidade”, que demonstra como o contexto transformou-se num álibi para tecer distorções. Não é fortuito que as reitoras universitárias de Harvard, Penn e do MIT, tenham evocado a palavra “complexidade”. A indulgência da complexidade gera uma confusão voluntária a qual embaralha o que precisa ser objetivamente discutido. Em outros tempos chamaríamos de dogmas. Daí o nome interseccionalidade que favorece uma farsesca terminologia instrumental como, por exemplo, nomear todos aqueles que não se submetem ao ideário de “fascistas”.

Só se poderia compreender bem o conceito caso houvesse clara percepção destas linhas que se cruzam. Como acredito um pouco na premissa cartesiana, aquela das ideias claras e distintas, admito certo constrangimento em penetrar nesta estranha definição.

Não seria o caso de perder tempo para melhor compreendê-la se esta exótica mistura de militância, ideologia radical, e, até certo ponto conspiratória, não tivesse com ajuda de financiamento de países autocratas, dominado parte significativa do ambiente universitário norte americano e se expandido para países do terceiro mundo de forma acrítica. E, principalmente, se não estivesse tão comprometida com o combate à discriminação de forma eletiva.

Um comprometimento que resvala em uma peculiar seletividade da anti cultura woke: esmorecer quando se trata de condenar o antissemitismo, falha quando se trata de denunciar grupos ou etnias “midiaticamente menos interessantes” como os massacres contra os cristãos na Nigéria, os muçulmanos Hazara no Afeganistão, os Yazidis no Iraque, os Rohingyas em Brunei. E, claro, na recente e ignominiosa omissão quando os inimigos da humanidade, o exército terrorista do Hamas, cometeu crimes sexuais inomináveis contra mulheres judias e não judias no dia 07 de outubro em Israel .

Talvez seja melhor mergulhar na velha sonolência para esperar que o pesadelo insone dos “acordados” passe logo e voltemos a viver sem as aberrações do terror justificado, e livres de aventuras ideológicas pueris.

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