O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), disse ter preocupação ‘zero’ com o impacto das investigações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na sua campanha pela reeleição no pleito de 2024. Segundo Nunes, é preciso investigar as denúncias, mas negou fazer um pré-julgamento sobre as ações contra Bolsonaro.
O paulistano tem tentado o apoio do ex-presidente e tem dado sinais de aproximação com a cúpula bolsonarista em São Paulo. Nunes tem se reunido frequentemente com Jair Bolsonaro e pares do PL para tentar alavancar a campanha e ganhar mais tempo de TV. De quebra, ele ainda negocia o cargo na vice-prefeitura na chapa.
“Eu quero, eu desejo o apoio do presidente Bolsonaro. Eu quero e desejo o apoio do Tarcísio, do PL, do Republicano, do União Brasil, enfim, de todos os partidos. Eu não vou ficar fazendo aqui uma situação de ficar em cima do muro com relação ao apoio do presidente Bolsonaro por conta de que tem uma investigação, uma matéria. Se o Lula levou 10 contêineres de presentes, agora porque o Bolsonaro ganhou um presente, estão fazendo uma situação totalmente fora da questão proporcional. Estão tratando de forma desproporcional um em outro”, disse Nunes em entrevista ao iG.
“Zero. Absolutamente zero. Zero, zero, zero, zero. Todo agente público tem que ser investigado, vai ser investigado e é o que tem que ser feito. Pelo fato de estar sendo investigado, nenhum problema, as pessoas, quando entram na vida pública, sabem que tem que dar explicação, tem que colocar à disposição das autoridades todas as informações e eu acho que o presidente está fazendo isso”, concluiu.
Bolsonaro é alvo de investigações da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a venda de joias da presidência da República recebidas do governo árabe. Ele ainda é investigado por influenciar os ataques de 8 de janeiro em Brasília e já prestou depoimento por suspeita de fraudar cartões de vacinação.
Para defender sua tese, Nunes exemplificou a candidatura de Fernando Haddad à presidência da República em 2018. Na época, o atual ministro da Fazenda alçou o segundo turno mesmo com a prisão de Lula.
“As últimas eleições quem foi eleito foi o Bruno Covas e eu: centro. Antes do Bruno, João Dória, centro. Antes do João Dória, o Haddad, que era de esquerda e não foi reeleito, perdeu no primeiro turno. E lembrando que a eleição do Haddad, ela se deu dentro de um contexto que a gente precisa observar. O Haddad é abraçado com Paulo Maluf, portanto, uma sinalização para a direita. E aí, antes dele, o Kassab, centro. Antes do Kassab, o Serra, centro”, disse.
“A cidade de São Paulo, estou falando pelos dados das eleições, não é nem alguém de esquerda e nem de direita, mas uma pessoa de centro”, concluiu.
O nome de Ricardo Nunes, porém, ainda sofre forte resistência entre a cúpula bolsonarista no PL. A ala mais radical da legenda defendia uma candidatura própria, com o ex-ministro Ricardo Salles encabeçando a chapa.
Salles chegou a se colocar à disposição, fez pré-campanha, mas foi minado pelo partido. Isso gerou revolta do deputado federal, que questionou a decisão do presidente do partido, Valdemar Costa Neto.
Para ter o apoio de Bolsonaro, Nunes deve investir na sua relação com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). O chefe do Palácio dos Bandeirantes é o principal financiador da campanha do prefeito paulistano e acredita que o ex-presidente poderá somar o coro.
O prefeito também admitiu ter conversado com Ciro Nogueira, presidente do Progressistas, e que tenta conquistar o apoio do União Brasil, que estuda lançar Kim Kataguiri.
"Eu tenho tido muito mais diálogos, por exemplo, com os Republicanos do que eu tenho com o PL. Eu tive muito mais diálogos, por exemplo, com o Ciro Nogueira do que com o Bolsonaro. O problema é que o Bolsonaro foi presidente e aí tem uma luz para ele. Agora, é importante, dentro dessa construção da eleição, que todos os partidos de centro e de direita [se juntem] e o presidente Bolsonaro está inserido. Não tem um grau ali de importância maior e muito menos menor".
Vice é do Bolsonaro
Durante as negociações com o PL, Nunes e Costa Neto decidiram que Bolsonaro será o responsável pela escolha do vice da chapa do prefeito paulistano. Inicialmente, o nome mais cotado era a da ex-prefeita Marta Suplicy, mas o próprio ex-presidente tratou de barrar a sugestão.
Além de Marta, foram cotados os nomes da deputada federal Maria Rosas (Republicanos), da vereadora Rute Costa (PSDB) e do delegado Osvaldo Nico Gonçalves, chefe da Polícia Civil do estado. Entretanto, Bolsonaro olha o cargo como uma forma de manter seu eleitorado em São Paulo e quer um nome de extrema confiança dele para o posto.
Nos últimos dias, a cúpula bolsonarista em São Paulo tratou de tentar alavancar o nome da secretária de Políticas para a Mulher, Sonaira Fernandes. Filiada ao Republicanos, Sonaira é ligada ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), filho do ex-presidente, e faz parte da ala ideológica do bolsonarismo.
Nunes negou ter um vice já escolhido para a sua chapa e disse acreditar que o nome só será definido no próximo ano. O prefeito ressaltou que o cargo não precisa ser ocupado por um nome do PL obrigatoriamente, mas é necessária uma pessoa que agregue ao governo.
“Eu estou combinando com todo mundo. Vamos sentar com todos os partidos e aí a gente define conjuntamente. Cada partido vai colocar ali as suas considerações e ponderações. E o que eu tenho visto bastante é o PL dizer que é o maior partido, e é verdade. É um partido que tem o maior tempo de televisão e isso pesa. Agora vamos supor que o PL vem com um nome que não seja um nome que vai agregar. Acho que aí vem o outro partido com o nome bom. Então, vai ser uma decisão conjunta”, declarou.
“E o próprio presidente Bolsonaro falou para mim e declarou, inclusive, publicamente, que ele não faz questão de indicar o vice. E que não faz questão, inclusive, de que o vice seja do PL”.
Ricardo Nunes ainda pediu uma pessoa que conheça a cidade de São Paulo, mas tenha articulação para fortalecer a prefeitura.
“Acho que é algo que a gente está discutindo muito cedo. Esperando o que vem. O que teve agora o presidente Valdemar Costa Neto citar o nome da Marta Suplicy. Mas acho que é muito cedo”, disse Nunes.
“Tem que ser alguém que conheça a cidade. Que é fundamental. Que tenha um bom conhecimento da cidade para me ajudar. E que a gente tenha algo que agregue para a chapa. Não pode ter alguém que não tenha conhecimento profundo da cidade que não agregue nada” concluiu.
Anonimato
Ao iG, Ricardo Nunes rebateu pesquisas e afirmações de que seria um ‘prefeito anônimo’. Segundo ele, mais de 80% da população paulistana o reconhecem como prefeito e esse assunto não dá dor de cabeça neste momento.
“Esse é um tema que não me preocupa agora. Eu tenho acho que 80% de nível de conhecimento é muito alto”.
E declaração vai no sentido contrário a um levantamento feito pela Paraná Pesquisas em fevereiro em que mostrou Ricardo Nunes com 15% de conhecimento da população da capital. Entretanto, a gestão Nunes tem aprovação de 56%.
Nas últimas pesquisas eleitorais, Ricardo Nunes apareceu atrás do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), com porcentagens que variam entre 7% e 17%.
Nunes ainda usou exemplos de Gilberto Kassab e Bruno Covas nas eleições de 2008 e 2020. Para ele, ambos tinham o conhecimento inferior que os adversários na campanha eleitoral.
“As pesquisas não demonstram isso. Mesmo assim a gente observa que os candidatos, por exemplo, o Bruno um ano antes da eleição também tinha um nível de conhecimento que não era assim aquilo que se imagina para quem é o prefeito. O Kassab também, igual ao Bruno, tinha bastante conhecimento, mas não era um nível para quem imagina de um prefeito”.