As denúncias divulgadas nos últimos dias contra o ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil), acenderam o alerta nos bastidores do Palácio do Planalto. Em meio às movimentações com Reforma Tributária e impostos sobre combustíveis, interlocutores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acreditam que não deve demorar para que o petista seja pressionado a demitir o ministro.
Juscelino tem sido alvo de acusações de usar o Orçamento Secreto para beneficiar trecho de estrada que passa pela fazenda da família, além de ocultação de patrimônio ao não declarar cavalos à Justiça Eleitoral. Ele ainda é suspeito de usar um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para ir a um leilão de equinos.
Embora ainda não se tenha uma pressão explícita, há membros da cúpula do Planalto favorável à demissão de Juscelino. Para eles, as denúncias são fortes e podem impactar a imagem do Planalto.
Lula, porém, tem por costume querer segurar seus ministros ao máximo. Ele, por exemplo, manteve Daniela do Waguinho, ministra do Turismo, acusada de elo com milicianos no Rio de Janeiro.
Na época, o próprio petista afirmou que não deixará ministros "no meio da estrada". A fala é vista internamente como válida também para Juscelino, embora o petista já tenha cobrado uma explicação sobre o uso do Orçamento Secreto para beneficiar uma pista próxima à sua fazenda.
Duas pessoas próximas à cúpula do Planalto disseram ao iG que Lula ainda está ‘passando por cima’ as denúncias. Segundo as fontes, a preocupação do governo é com as pautas emergenciais, deixando de lado as polêmicas.
Uma delas admitiu à coluna a preocupação do petista com o desgaste do governo. Nesse caso, há dois pontos que precisamos mostrar: Congresso Nacional e imagem externa.
Antes de tomar posse, Lula afirmou querer manter um “governo perfeito” nos primeiros seis meses. A quebra dessa perfeição poderia afetar a credibilidade do petista, que tenta manter a imagem intacta.
Fora isso, a relação com o Congresso poderá ser afetada com a possível demissão do ministro. Juscelino assumiu o cargo na “cota política”, ou seja, na necessidade de conseguir apoio dos congressistas. Em seu terceiro mandato e conhecido por ser do “baixo clero da Câmara”, o parlamentar foi alçado ao primeiro escalão do Planalto indicado pelo União Brasil.
A possível saída de Juscelino pode piorar a relação com o partido comandado por Luciano Bivar (SP). Nas últimas semanas, a legenda pediu mais espaço, o PT rebateu e Lula precisou intervir para acalmar os ânimos.
Acusações contra Juscelino
Ministro das Comunicações, Juscelino Filho é acusado de direcionar R$ 7,5 milhões do Orçamento Secreto para a cidade de Vitorino Freire (MA), comandada por sua irmã, Luanna Rezende. Do total, R$ 5 milhões foram usados para asfaltar uma estrada que passa pela fazenda de sua família. A denúncia foi divulgada pelo jornal O Estado de S. Paulo .
O ministro ainda é suspeito de ocultar R$ 2,2 milhões em cavalos de raça na prestação de contas à Justiça Eleitoral na campanha para deputado federal de 2022, segundo o Estadão . Ao Tribunal Superior Eleitoral, Juscelino disse ter R$ 4,4 milhões em patrimônio.
Outra denúncia que chegou ao Palácio do Planalto é o uso de um avião da FAB para a participação de um leilão de equinos em São Paulo. Segundo o jornal, o ministro disse que teria uma viagem de “urgência”, justificativa tradicionalmente acatada pela presidência da República.
As fontes ouvidas pela coluna disseram que de todas as denúncias, a última é a que pode influenciar nas decisões da cúpula do Planalto. Embora ainda minimizada, a descoberta da “falsa justificativa” incomodou a cúpula petista.
O iG tentou contato telefônico com o ministro Juscelino Filho, mas não obteve retorno. A coluna ainda entrou em contato com o Ministério das Comunicações, que se limitou a enviar uma nota dos advogados do ministro.
"O ministro foi a São Paulo em agenda oficial, com claro interesse público, o que justifica o uso do transporte da FAB, assim como retornou a Brasília em voo solicitado por outro colega ministro. Não houve qualquer ilegalidade por parte do ministro Juscelino nas agendas e, como forma de demonstrar seu zelo com o dinheiro público e seu compromisso com a transparência, o ministro determinou apuração sobre os procedimentos administrativos relacionados à viagem", disse a defesa do ministro.
Questionada sobre a possibilidade de saída de Juscelino, a pasta não respondeu.