A derrota de Jair Bolsonaro (PL) nas eleições do ano passado foi vista como um forte ‘golpe’ por aliados, mas não um prejuízo político ao ex-presidente da República. O cenário, porém, começou a mudar no começo deste ano e sinaliza para o enfraquecimento do bolsonarismo no Brasil.
A candidatura de Rogério Marinho (PL-RN) na disputa pela presidência do Senado era a esperança do bolsonarismo para manter o controle do Congresso Nacional e travar pautas do governo federal para enfraquecer Lula. Enquanto aliados de Marinho viam chance de vitória, frustrada durante a contagem que reelegeu Rodrigo Pacheco (PSD-MG) por mais dois anos.
Outro fator que coloca o bolsonarismo em xeque é a vontade de deputados e senadores do Centrão de migraram para a base de Lula. Membros do Progressistas e Republicanos, partidos que faziam parte da ‘tropa de choque’ de Bolsonaro, não querem suas imagens ligadas ao ex-presidente.
Até dentro do próprio PL Jair Bolsonaro não é unanimidade. Congressistas acreditam que apenas os aliados mais fiéis do ex-presidente, como Carla Zambelli, Bia Kicis, Rogério Marinho, Flávio Bolsonaro e Ricardo Salles devem se manter na oposição ferrenha ao atual governo.
Um deputado ouvido pela coluna, acredita que os aliados mais fiéis ao ex-presidente devem ficar agrupados na oposição. Esse mesmo parlamentar apoiou Bolsonaro na gestão passada e tratou o grupo como ‘eles’, sugerindo que apoiará Lula neste primeiro momento.
O congressista ressaltou ainda ser cedo para saber o quanto há de enfraquecimento do bloco bolsonarista. A certeza mesmo será nas eleições de 2024, quando o grupo do ex-presidente tentará lançar candidatos para retomar o controle das principais cidades do país.
Barulhos devem incomodar governo
Se há uma coisa que o bolsonarismo sabe fazer muito bem é barulho. E essa é aposta de aliados de Bolsonaro para manter o bloco vivo na política brasileira.
Um senador disse que a imagem do bolsonarismo foi arranhada pelos ataques de 8 de janeiro. Na visão do parlamentar, os ataques prejudicaram qualquer tentativa de comando de Bolsonaro no Congresso ou, até mesmo, a criação de uma oposição forte à Lula.
Porém, eles devem usar o barulho e inflamar apoiadores para pressionar os congressistas a adiar votações e mudar pautas de interesse de Lula. Essa, inclusive, é uma das principais preocupações da cúpula petista.
Bolsonaro nos EUA
Uma das principais reclamações da oposição é não ter um nome forte para fazer frente aos petistas neste momento. Nem o filho 01 do ex-presidente, o senador Flávio Bolsonaro, é visto como uma liderança dentro do bolsonarismo.
Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente, e Carla Zambelli, deputada federal, muito menos. Ambos respondem por processos judiciais, como o desrespeito às leis ambientais (Salles) e porte ilegal de arma nas vésperas das eleições presidenciais (Zambelli).
De fato, a única liderança vista como potencial de segurar o avanço de apoio ao presidente Lula é o próprio Jair Bolsonaro. Porém, o ex-presidente está nos Estados Unidos e não tem previsão de volta ao Brasil.
Nos últimos dias, Bolsonaro tentou partir para ameaça e disse que voltaria ao Brasil nos próximos dias. Fontes próximas do ex-presidente ouvidas pela coluna acreditam que isso não deve acontecer tão cedo.
A ‘fuga’ de Jair Bolsonaro incomodou até mesmo o presidente do PL, Valdemar Costa Neto. A aliados, Costa Neto disse que Bolsonaro ‘morreu politicamente’ e tenta encontrar alternativas para abandonar o barco do bolsonarismo.
Enquanto alguns correlegionários querem o embarque no governo Lula, outros alertam que o PL cresceu na onda bolsonarista e deveria tomar cuidado ao desembarcar do apoio do ex-presidente. Diretores do partido, porém, acreditam que não vai demorar muito para que o bolsonarismo se torne apenas uma parte da história política brasileira.