Nuno Vasconcellos
Daniel Castro Branco/Agência O Dia
Nuno Vasconcellos

Ninguém tem o direito de ficar indiferente diante das cenas monstruosas do ataque desferido há uma semana por uma horda de sádicos do grupo terrorista Hamas contra civis israelenses. A escolha, nesse caso, é simples: ou se está do lado dos bárbaros que chegaram matando quem estava em seu caminho ou se solidariza com as vítimas. Ponto final. Não há meio termo nem argumentos civilizados que justifiquem a carnificina.

Nas primeiras imagens do massacre, jovens que se divertiam num festival que acontecia perto da Faixa de Gaza fogem desesperados dos terroristas. Colhidas de surpresa, mais de 270 pessoas foram chacinadas em menos de 20 minutos. Entre as vítimas, três brasileiros: as cariocas Bruna Veleanu, de 24 anos, e Karla Steltzer, de 42 anos, além do gaúcho Ranani Nidejelski Glazer, de 23 anos.

Ao todo, de acordo com números que ainda podem ser revistos para cima, morreram 1.200 pessoas do lado israelense. Entre eles, apenas 169 eram militares. Israel, como os próprios terroristas sabiam que aconteceria, reagiu à agressão e declarou uma guerra que ninguém sabe dizer quanto tempo deve durar. Na contraofensiva, mais de 1.400 palestinos tinham sido mortos até a quinta-feira. Neste momento, a perda de vidas já é bem maior.

A morte de uma única pessoa em conflitos abjetos como esse — que deixam mais vítimas entre a população vulnerável do que entre os que disparam o primeiro tiro — deve ser lamentada e repudiada com todas as forças. Antes, porém, de seguir com esse relato, um ponto precisa ficar claro. Da mesma forma que não se pode confundir o povo palestino com os terroristas que cometem todo tipo de barbaridade em seu nome, não há ideologia capaz de justificar a morte de jovens israelenses, em sua maioria, judeus.

DESTRUIÇÃO DE ISRAEL — A guerra travada neste instante opõe um Estado democrático constituído em torno de um arcabouço institucional sólido a um grupo terrorista interessado apenas em destruí-lo. Este é o ponto de partida de qualquer debate sobre o tema: estejam seus governantes certos ou errados, sejam de direita ou de esquerda, pacifistas ou beligerantes, Israel é uma democracia em que as autoridades são chamadas a responder pelos erros que cometem.

Assim como a ex-primeira-ministra Golda Meyr e seu ministro da Defesa, Moshe Dayan, heróis da Guerra dos Seis Dias em 1967, pagaram com suas carreiras políticas pelos erros cometidos na Guerra do Yom Kippur, em 1973, o primeiro Ministro Benjamin Netanyahu terá que responder ao fim da guerra pelas falhas que cometeu ao ter deixado o país exposto a um ataque de proporções assustadoras. E quanto aos terroristas? A quem têm que prestar contas pelas atrocidades que cometem?

E mais: o que explica um ataque sanguinário como esse justo num momento em que o governo de Israel, que vem buscando se entender com os vizinhos árabes, estava a um passo de estabelecer relações diplomáticas com a Arábia Saudita? O que explica tanta barbárie num momento em que a descoberta de reservas de gás natural na costa israelense muda a posição estratégica o país no mercado de energia mundial? Será que o Irã, arqui-inimigo de Israel e adversário histórico da Arábia Saudita, não usou os terroristas do Hamas e o povo palestino como massa de manobra para seus interesses?

Quaisquer que sejam as respostas a essas questões, é certo que os palestinos, assim como os moradores das comunidades do Rio de Janeiro, têm o direito de viver em segurança e não serem feitos de escudo humano por criminosos que se misturam com eles. O povo palestino tem direito a ter seu próprio Estado — mas é lamentável perceber que seus principais líderes políticos, embora manifestem esse desejo da boca para fora, parecem envolvidos com outras prioridades. No fundo, eles não passam de fantoches manipulados por terroristas que têm como objetivo a destruição do Estado de Israel.

Terroristas que, por sinal, lucram com a manutenção da situação atual. Tanto isso é verdade que, como está mais do que provado, parte substancial do dinheiro dado ao povo palestino como ajuda humanitária vai parar nas mãos dos terroristas que o subjugam e fingem agir em nome dele. Até o Brasil, que nunca teve recursos suficientes para resolver os problemas de seu próprio povo, já contribuiu com dinheiro para o povo palestino — mas ninguém é capaz de prestar contas dos recursos doados.

Em 21 de julho de 2010, o presidente Lula destinou R$ 25 milhões do povo brasileiro (quantia que, naquela época, equivalia a praticamente US$ 25 milhões) para a reconstrução de Gaza. A Comunidade Europeia sempre mandou recursos para lá. Em 2021, o Catar — onde, por sinal, os cabeças do Hamas vivem em segurança, enquanto seu povo sofre na Faixa de Gaza e na Cisjordânia — destinou US$ 500 milhões para ajuda ao povo palestino. Cerca de um terço de tudo o que foi mandado para lá, ao invés de ser aplicado na construção de escolas, hospitais, estações de tratamento de água e outras benfeitorias, foi usado para comprar armas para os terroristas.

CONEXÕES INTERNACIONAIS — Embora seus objetivos sejam diferentes, grupos terroristas e as organizações criminosas ligadas ao narcotráfico são vinhas da mesma cepa — e não é por acaso que estão cada vez mais claras as conexões que existem entre eles. Em julho de 2019, este jornal publicou uma série de reportagens, assinada pela jornalista Bruna Fanti, que apontava a ligação entre as organizações criminosas brasileiras PCC e Comando Vermelho com o grupo terrorista libanês Hezbollah.

O texto mencionava o brasileiro Elton Ramich, conhecido pelo apelido de Galant, como responsável pela ligação entre os s grupos. O acordo criminoso envolvia compra de armamento, lavagem de dinheiro e proteção. Inimigo declarado de Israel, o Hezbollah também entrou na guerra e, a partir de suas bases no Sul do Líbano, já começou a atacar Israel. Ou seja, o conflito no Oriente Médio tende a se alastrar — e, por mais brutais que as imagens venham a ser expostas daqui por diante, é preciso ter sempre em mente que esta guerra começou com o ataque covarde do Hamas a Israel.

As cenas e os relatos chocantes sobre bebês assassinados nos braços de pais que tentavam protegê-los, as agressões e os sequestros de idosos, mulheres e crianças correram o mundo. No princípio, houve até quem tentasse negar as atrocidades e pôr em dúvida os relatos sobre bebês queimados e degolados pelos terroristas. Assim como muita gente, por ignorância ou por falta de caráter, ainda hoje nega as atrocidades cometidas pelos nazistas contra os judeus durante a Segunda Grande Guerra, houve quem tentasse negar a barbaridade e dizer que aquilo não passava de fake news. Imagens em poder do governo de Israel e mostradas a autoridades dos Estados Unidos e à emissora de TV CNN comprovam a brutalidade.

As reações ao morticínio, claro, não tardaram. A grande maioria das reações, no Brasil e no mundo, foi de indignação diante de tanta covardia. Houve, porém, quem insistisse em justificar o injustificável e jogar sobre a vítima a culpa pela agressão que sofreu. E, para isso, apelou para expedientes rasteiros e reprováveis. Na Câmara dos Deputados, por exemplo, houve um fato que demonstrou como agem políticos que, sem coragem de assumir em debate aberto seu apoio aos terroristas, dão um jeito de culpar o agredido pelo golpe que o atingiu. São como os hipócritas que costumam culpar a mulher que usa minissaia por ter atiçado o desejo do estuprador.

Sem levar seu ponto de vista para debate em plenário, como devem fazer aqueles que respeitam a democracia, um grupo de parlamentares petistas, liderado pelo deputado Odair Cunha, de Minas Gerais, na quarta-feira passada, deu um jeito de responsabilizar Israel pelos atentados. Com a cumplicidade do deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP), que presidia a sessão, contrabandearam para dentro do pacote de 16 moções contra os atentados, aprovadas pela Câmara, um trecho que “repudia a violência do Hamas e do Estado de Israel, que resultou na morte de centenas de civis israelenses e palestinos, bem como no recrudescimento dos conflitos na região”.

A propósito, o flerte do PT com o Hamas não é recente. Em novembro de 2021, dez deputados do partido — entre eles Alexandre Padilha (SP) e Paulo Pimenta (RS), ministros de Lula — assinaram um manifesto em que se intrometiam em questões internas do Reino Unido, que acabara de classificar o grupo como organização terrorista. Sob o título “Resistência Não é Terrorismo”, os petistas expressaram seu “profundo descontentamento” e atribuíram ao governo britânico a intenção de “atingir a legítima resistência palestina contra a ocupação e o apartheid israelense”.

Outro que falou sobre o que não é de sua competência foi o MST — que espalha o terror no campo brasileiro e, mesmo sem ter existência jurídica reconhecida, acha-se no direito de meter o bedelho em temas internacionais de alta gravidade. Com um erro crasso de concordância nominal logo na primeira frase, os invasores de terras soltaram um manifesto que diz “O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra mais uma vez reitera nosso apoio total e irrestrito à luta do povo Palestino pela sua autodeterminação e contra a política de apartheid implementada por Israel”.

Além de maltratar a língua portuguesa (o pronome apropriado, nesse caso, seria “seu” e não “nosso”), a nota, como acontece sempre que o MST se manifesta, maltrata também a verdade. O PSOL foi na mesma linha, com a deputada Luciana Genro (RS), classificando Gaza como a “maior prisão a céu aberto do mundo”. Segundo a deputada, “a resistência palestina vive e é legal perante o direito internacional. Ilegal é o apartheid, o colonialismo e a limpeza étnica promovidos pelo regime israelense”.

OPORTUNISMO — Note-se que a palavra apartheid, usada na nota dos deputados petistas de 2021, reaparece na manifestação do MST, na fala da deputada Luciana Genro e de todos os que tentam transformar a vítima em responsável pela agressão. Mais do que forçar a barra para construir uma “narrativa” em torno do assunto — como é moda na esquerda brasileira —, a insistência no uso dessa expressão faz lembrar a prática nazista, segundo a qual uma mentira repetida mil vezes acaba por se tornar verdade.

Mais longe do que os outros, porém, foi um cidadão chamado Sayid Marcos Tenório, presidente do Instituto Brasil Palestina e até dias atrás “aspone” do deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA). Diante das imagens ultrajantes de uma mulher sendo arrancada pelos cabelos do porta-malas de um carro com as calças manchadas, o ativista escreveu: “Isso é marca de merda. Se achou nas calças”. Em seguida, o militante publicou um emoji de uma risada...

No mesmo dia, Tenório criticou o posicionamento do governo brasileiro sobre o atentado. Embora o presidente Lula sequer tenha se referido ao Hamas ao apresentar suas “condolências” aos familiares das vítimas, reconheceu que se tratava de um ataque terrorista. O homem escreveu: “que declaração fajuta! Que ataque terrorista o que, Lula! Os palestinos têm o direito de resistir a opressão e o roubo de terras que Israel pratica há mais de 75 anos”.

Depois dessas manifestações, Tenório perdeu a boquinha do PCdoB, que lhe garantia um salário mensal superior a R$ 21 mil. Ou seja, recebia do contribuinte brasileiro para destilar seu ódio, seu preconceito e seu machismo. A cauda da demissão, com certeza, foi a crítica a Lula, e não o comentário abjeto sobre a mulher humilhada, a razão da demissão do “ativista”.

Enquanto as democracias consolidadas do mundo apoiaram e se solidarizaram com Israel, ditaduras cruéis como a do Irã e da Venezuela, assim como toda a esquerda latino-americana dão apoio aos terroristas. Toda?... Bem, houve casos de políticos de esquerda que estão envolvidos em disputas eleitorais e foram em outra direção. Políticos em busca de votos sabem que podem perder apoio caso manifestem seu apoio ao terror.

O candidato peronista ao governo da Argentina, Sergio Massa, prometeu reconhecer o Hamas como organização terrorista caso seja vitorioso nas eleições que acontecem este mês. Em tempo: a Argentina abriga uma colônia judaica numerosa e influente e o apoio de Massa aos terroristas, na véspera do pleito, certamente lhe custaria votos preciosos numa disputa apertadíssima.

Outro que destoou do apoio ostensivo de seu próprio partido aos ataques terroristas foi o deputado Guilherme Boulos, que deve disputar a prefeitura de São Paulo pelo PSOL no próximo ano. São Paulo, como se sabe, é berço de maior comunidade judaica do Brasil. Em suas primeiras declarações sobre o assunto, Boulos nem citou o Hamas ao falar dos atentados terroristas. A falta de uma condenação explícita aos atentados levou o ex-secretário de saúde do município, Jean Gorinchteyn, que é judeu, a abandonar a coordenação da pré-campanha do candidato. O mal-estar gerado pela saída fez Boulos voltar atrás. A tocar novamente no assunto, se solidarizou “com todos os familiares das vítimas dos ataques propagados pelo Hamas”.

AMOR PELOS OPRESSORES — Toda guerra é revoltante e essa, mais ainda. Tanto pela selvageria que a iniciou quanto pelas consequências da reação de Israel — que, embora justificável, causa dor e sofrimento ao povo feito de escudo pelos terroristas. Disposto a acabar de vez com o Hamas, o governo de Israel tem castigado a Faixa de Gaza e ordenou que a população civil saia de lá e vá para a Cisjordânia, ao Norte. A logística da operação é complexa — ainda mais porque os chefes terroristas, protegidos em seus esconderijos no Catar, ordenaram que o povo fique onde está. Quanto mais palestinos tombarem por ação das Forças de Israel, melhor para seus objetivos.

Em meio a tudo isso, fica difícil entender a posição dos políticos da esquerda brasileira e seu apoio aos terroristas que iniciaram o conflito. Não dá para entender, por exemplo, como líderes partidários, assim como deputadas e deputados de esquerda, defendem grupos que se guiam por princípios opostos aos que eles, pelo menos da boca para fora, dizem defender.

Eles se dizem defensores da democracia, mas fazem juras de amor às ditaduras mais sanguinárias do mundo. Além disso, admiram regimes que maltratam as mulheres e são especialmente cruéis com as pessoas LGBT. Os valores feministas e o apoio aos gays, lésbicas e trans, que orientam suas ações no
Brasil, não se estendem às pessoas sujeitas a regras medievais em áreas controladas pelos fundamentalistas islâmicos que mandam no governo do Irã e sustentam o Hamas.

Semanas atrás, o Prêmio Nobel da Paz foi concedido à iraniana Narges Mohammani — condenada a 31 anos de prisão e a 154 chibatadas por sua pela luta contra a repressão às mulheres do Irã. Não se ouviu da esquerda um único aplauso à escolha. Também não se ouviram denúncias das condições sub-humanas em que vivem as mulheres no Irã, em Gaza e na maioria dos países árabes. Isso sem mencionar as pessoas atiradas do alto de edifícios por serem homossexuais.

Confrontada com seu silêncio diante das atrocidades contra mulheres e gays nas ditaduras islâmicas, ou das violações dos direitos humanos na Venezuela, na Nicarágua ou em Cuba, a esquerda brasileira costuma dizer que não tem o direito de interferir em questões internas de outros países. Essa postura supostamente ética não vale para todos os países: no momento em que o governo britânico apontou o Hamas como um grupo terroristas, os deputados do PT correram para condenar a atitude. O fato é que essa turma, que tanto cobra dos adversários respeito pelas regras da democracia, não perde uma única oportunidade de demonstrar seu amor sem limites pelas ditaduras e pelos governos opressores.

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