Nuno Vasconcellos
Daniel Castro Branco/Agência O Dia
Nuno Vasconcellos

Aconteça o que acontecer, vença quem vencer, o político que será eleito este ano para governar o Rio de Janeiro até 2026 encontrará uma situação bem melhor do que aquela que esperava por Wilson Witzel quando ele tomou posse em 1º de janeiro de 2019. Calma! Antes que alguém tome essa afirmação como uma manifestação de insanidade, é bom explicar a razão de tanto otimismo diante de uma realidade não mostra melhoras significativas na situação do estado.

Com uma dívida que fechou o ano de 2021 na casa dos R$ 141 bilhões (o que equivale a mais ou menos uma vez e meia a arrecadação estadual), o Rio continua com problemas fiscais tão ou mais graves do que os de quatro anos atrás. A situação social parece ter andado para trás ao invés de evoluir nesses quatro anos. O crime organizado continua tão ou mais atuante quanto sempre esteve. A pergunta, nesse caso, é: se tudo parece estar do mesmo jeito, o que justifica afirmar que a situação está melhor?

Lembre-se de que não estamos falando do cenário de hoje, mas do que pode acontecer nos quatro anos seguintes às eleições. Embora os resultados ainda não sejam visíveis e talvez ainda demorem um pouco para serem percebidos pelo cidadão que sacoleja no transporte público a caminho do trabalho ou que corre o risco de ser alvo de uma bala perdida quando volta para casa, o certo é que decisões importantes foram tomadas nos últimos meses. E elas são a semente de mudanças que, no final das contas, significarão mais dinheiro para ser investido em programas que, se forem bem conduzidos, podem melhorar as condições de vida da população fluminense.

NUNCA! JAMAIS!

Uma desses medidas (talvez a principal delas) foi a privatização da Cedae. Não se trata, aqui, de voltar ao velho e desgastado debate sobre as vantagens ou desvantagens de se entregar a empresa de saneamento da capital do estado a uma empresa privada. Qualquer dúvida em torno desse ponto, sinceramente, deixou de existir diante dos quase R$ 30 bilhões em investimentos já contratados pelos consórcios que assumiram os diferentes blocos da antiga Cedae.

A pergunta é: quando a velha, problemática e ineficiente estatal contaria com um programa tão vultoso de investimentos voltado para a recuperação do sistema de água e esgoto do Rio de Janeiro? A resposta é: Nunca! Jamais! Em tempo algum! É claro que as consequências dessa nova situação não se podem ser medidas apenas pelo valor do investimento, mas pelo impacto positivo que pode causar na sociedade.

Esses R$ 30 bilhões significarão a contratação de milhares e milhares de profissionais para trabalhar nos canteiros de obras que serão instalados no Rio. Mais empregos, é claro, significam mais salários e mais dinheiro em circulação na economia local. Isso beneficiará o comércio, que também terá que contratar para atender a demanda crescente. Também beneficiará a indústria do lazer e do entretenimento. A tendência é que, como consequência de tudo isso, entre mais dinheiro nos cofres do estado e do município. Em resumo, haverá a substituição do círculo vicioso da crise pelo círculo virtuoso do crescimento.

É claro que os R$ 30 bilhões dos contratos em torno das áreas da antiga Cedae são uma gota no oceano das necessidades e não suficientes para mudar a situação do Rio. A boa notícia, porém, é que há mais dinheiro chegando. No dia 1º de agosto do ano passado, esta coluna descreveu o trabalho da Alerj que, no final das contas injetará cerca de R$ 10,4 bilhões nos cofres do estado. Trata-se dos recursos dos royalties do petróleo que a ANP deixou de repassar para Rio nos últimos anos. Outros R$ 2,6 bilhões serão repassados aos municípios que sofrem o impacto da indústria de óleo e gás.

Esse dinheiro, pelo que ficou acertado quando a Assembleia Legislativa definiu os critérios de distribuição dos recursos, não poderá ser usado para dar aumento ao funcionalismo. Todo ele deverá ser aplicado em investimentos em saúde, educação, segurança e infraestrutura. Ou seja: terá que ser utilizado em benefício de toda a população.
Ainda em relação ao petróleo, a maior riqueza do estado, há um outro detalhe. A guerra causada pela invasão da Ucrânia pela Rússia impactou os preços do petróleo e nada indica que eles voltem tão cedo aos níveis de dois anos atrás, quando o preço do barril girava em torno de US$ 50 na bolsa de Londres. O barril na casa dos US$ 100 estimulará a indústria de óleo e gás e trará de volta os investimentos que ficaram contidos nos últimos anos. Pelo menos, é isso que indicam os movimentos das companhias petroleiras.

PÃO QUE O DIABO AMASSOU
É por causa de situações como essas que se pode prever melhoras na situação do estado nos próximos anos. Embora ainda seja cedo para mensurar os benefícios que serão gerados pelos novos investimentos, o certo é que os frutos começarão a ser colhidos durante o mandato do político que cuidará do estado nos próximos quatro anos. O novo governador (que pode, inclusive, ser o atual, caso ele consiga atrair o eleitorado) encontrará um cenário mais otimista do que aquele que esperava por Witzel no dia de sua posse. E o otimismo, convenhamos, é um sentimento que andou afastado do Rio nos últimos anos.

O cenário, por tudo o que foi dito acima, mostra um caixa mais recheado à espera do novo governador. Ele terá mais dinheiro para investimentos, que gerarão mais empregos num estado que tem comido o pão que o diabo amassou nos últimos anos. Essa situação, obviamente, remete a uma outra dúvida: a quem entregar o comando do estado nas próximas eleições?

Calma! Ainda é cedo se falar em nomes ou para se apontar favoritos num cenário eleitoral que ainda sofrerá mudanças importantes nos próximos meses. O que se pode afirmar, porém, é que essa nova situação apenas aumenta a responsabilidade do eleitor. Afinal, a história mostra que instalar no Palácio Guanabara um nome despreparado para conduzir o estado em momentos de fartura é tão ou mais nocivo do que se deixar seduzir por promessas vazias e errar na escolha em períodos de escassez.

É preciso, portanto, escolher bem o candidato e essa escolha precisa ser pautada por algumas premissas. A primeira delas é que não se faz política nova com métodos velhos. As promessas populistas e a falta de consistência de propostas que parecem grandiosas demais para o pouco que se tem são algumas das posturas que o eleitor deve rechaçar ao fazer sua escolha. Vender como fácil a solução de problemas que se acumularam nos últimos anos é algo que também deve servir de alerta ao cidadão na hora do voto.

O compromisso com a transparência é essencial, mas não basta. A honestidade não deve ser vista como uma vantagem, mas como uma obrigação de qualquer um que pleiteie o cargo. A condenação ao crime organizado é essencial, mas não deve ser o único critério de escolha. O compromisso do novo governador do Rio deve ser com o futuro — e não com as dificuldades do presente e muito menos com os hábitos viciados do passado.

O fundamental, como já foi dito e redito em edições passadas desta coluna, é que todos os políticos do estado se unam em torno de um plano de salvação para o Rio. Todos os parlamentares das bancadas federal e estadual devem deixar seus interesses políticos de lado por um momento e trabalhar juntos na elaboração de um plano para ser aplicado não apenas no próximo mandato, mas, também, nos mandatos seguintes.

Insistir nesse ponto pode soar até ingênuo diante de uma realidade política em que cada um parece mais voltado para a satisfação dos próprios interesses do que para o bem do Rio de Janeiro. Mas, como já foi dito, isso posto em primeiro lugar. Sem critérios e sem consenso em torno das prioridades do estado, todo dinheiro que entre no caixa agora será insuficiente para espantar os fantasmas que poderão voltar a assombrar se o trabalho não for bem feito agora.

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