Cemitério de Vila Formosa, em São Paulo
Foto: Eduarda Esteves/iG
Cemitério de Vila Formosa, em São Paulo

Neste dia de Finados, mais do que homenagear os que morreram em consequência da Covid-19, é hora de perguntar: quantas dessas perdas poderiam ter sido evitadas? Até o momento, o Brasil registra cerca de 160 mil mortes em consequência da doença — sendo 22 mil delas, no Rio de Janeiro. Mais do que de números, estamos falando de seres humanos e é por eles que devemos parar para refletir.

Estamos falando de mães, pais, filhos, irmãos, esposas, maridos, parentes e amigos que partiram sem receber uma despedida digna daqueles que os amavam. Muitas dessas mortes eram evitáveis e precisamos nos responsabilizar por elas. Ninguém pode ser culpado, claro, pela existência desse vírus letal — mas precisamos olhar com cuidado para as circunstâncias que envolveram a disseminação e o tratamento da doença.

Muitos se contaminaram devido à falta de cuidados mínimos ou da proteção adequada. E muitos morreram porque não receberam a devida atenção e tiveram adiado para amanhã um tratamento que poderiam ter iniciado ontem.

Houve, desde o início, discussões desnecessárias e tentativas sem sentido de transformar a maior crise sanitária da história do país num trampolim político inoportuno. E mesmo agora, quando o mundo caminha para desenvolver, em prazo recorde, uma vacina capaz de resolver o problema, surgem divergências capazes de impedir que o Brasil, ao invés de assumir a dianteira na solução, continue a fazer parte do problema.

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Ao contrário de outros países, que dependem exclusivamente da ajuda internacional para solução de problemas desses tipo, o Brasil conta com dois institutos reconhecidos no mundo inteiro por sua excelência na produção de vacinas e soros. A Fundação Oswaldo Cruz, no Rio, e o Instituto Butantan, em São Paulo, , independente de quem os controle, devem se unir e trabalhar unidos para a produção e distribuição da vacina. Ainda há tempo para essa decisão, que deve ser tomada não apenas como uma homenagem aos que morreram mas, principalmente, em respeito às vidas das pessoas que serão salvas por essa solução.

Desde o início da pandemia, oito meses atrás, muitos erros foram cometidos e milhares de mortes desnecessárias ajudaram a inflar as estatísticas fúnebres. Mas seria injusto com o pessoal da linha de frente, ignorar a quantidade de vidas que se salvaram graças à ação eficiente dos profissionais e à abrangência do sistema público de saúde do país. Diferente do que se viu em países mais ricos do que o Brasil, onde pessoas morreram por falta de atendimento e por não dispor de equipamentos que pudessem salvar suas vidas, entre nós não houve esse tipo de problema. De um modo geral, quem precisou de atendimento, o recebeu.

Isso precisa ser registrado. Mesmo com toda ineficiência que se vê na atuação de gestores que, em várias partes do Brasil governam com os olhos postos nas eleições municipais e põem seus objetivos políticos adiante dos interesses da população, o Brasil deu um exemplo que precisa ser reconhecido e valorizado. Foi capaz de se mobilizar para montar, do Oiapoque ao Chuí, uma rede capaz de acolher quem dela necessitava no momento de aflição.

Houve falhas? Sim, houve. Mas também houve acertos e que precisam servir de alicerce para oferecer à população, em caráter permanente e não apenas em situações de crise, um tratamento ágil, eficiente e respeitoso, capaz de aliviar a aflição e o sofrimento. E, mais do que isso, para evitar que, nos próximos dias de finados, precisemos chorar por vidas que poderiam ter sido salvas.

(Siga os comentários de Nuno Vasconcellos no twitter e no instagram: @nuno_vccls).

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