Aline Macedo
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Aline Macedo

Formado em Direito e pós-graduado em Gestão Estratégica, Processos e Projetos Integrados em Segurança Pública pela Coppead/UFRJ, o delegado Giniton Lages foi o primeiro responsável pela investigação dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, em 2018. Atualmente dirigindo o Departamento Geral de Polícia da Baixada Fluminense, o delegado usou sua extensa experiência na área de homicídios para escrever "Quem matou Marielle?", em parceria com o cientista político e jornalista Carlos Ramos. "Imediatamente, fiz a leitura que ali estava um caso com um potencial muito grande de repercussão", diz sobre o crime.

Como foi o seu primeiro contato com o caso Marielle?

"Na época, eu não estava tomando conta da Delegacia de Homicídios da capital, e sim da Baixada. Imediatamente, fiz a leitura que ali estava um caso com um potencial muito grande de repercussão, semelhante ao assassinato da juíza Patrícia Acioli. Naquele momento, o Rio estava sob intervenção na área de segurança. O Dr. Rivaldo Barbosa tinha acabado de assumir o comando da Polícia Civil, e eu não sabia o que iria acontecer com a minha equipe. Para minha surpresa, no dia seguinte ao crime, recebo uma ligação para ir à chefia. Ao chegar lá, estavam o Dr. Rivaldo e o deputado Marcelo Freixo, além do então delegado titular da DH da capital, Fabio Cardoso, e foi anunciado que eu tocaria o caso."

O que diferencia este caso?

Comecei a trabalhar em delegacias de homicídios ainda no projeto piloto, em 2010. Essa experiência dá uma percepção muito rápida do tamanho do problema. A forma como o crime foi executado, o local, a perícia do atirador para fazer os disparos com os carros em movimento, com uma arma curta, e informações que as vítimas foram seguidas fogem aos padrões de observação dos crimes normais. Tudo foi feito milimetricamente para não deixar rastros.

Por que que até hoje não foi possível apontar os mandantes?

Em 1940, o legislador já entendia que uma investigação de homicídio é complexa. Não é à toa que o prazo para investigar e punir alguém é de 20 anos, que é quando o crime prescreve. Em um ano de trabalho, entregamos os executores, e isso já foi uma vitória. O assassinato se dá dentro de um universo de violência urbana que não para. Precisamos ter a percepção das deficiências de insumos tecnológicos.

E que deficiências seriam essas?

Precisamos de uma política de rastreio de armas e munições, assim como de um banco de dados de papiloscopia que congregue o Brasil todo, além de bancos genéticos. Os sistemas do Detran e Denatran deveriam ser invioláveis, deixando rastros de quem acessa. Descobrimos que existem acessos pela internet que não são rastreáveis. Isso teria ajudado a descobrir como o carro usado no crime foi clonado.

Quais foram as principais dificuldades durante a investigação?

Neste caso, temos a ausência de vestígios materiais que pudessem rapidamente identificar os autores, já que eles não desceram do veículo. Não temos testemunhas presenciais; a única é uma sobrevivente de dentro do veículo. Não temos impressões digitais, nem nos estojos de munição. Sabíamos que o veículo era clonado, e não foi possível rastreá-lo. A munição foi identificada, mas era de um lote de 200 mil unidades. Como se rastreia essa arma e esse autor, sendo que o armamento e as munições não são bem controlados no país?

Quais os seus objetivos ao escrever "Quem matou Marielle"?

Fomos audaciosos. Por um lado, a ideia era mostrar os bastidores e fazer com que os leitores vislumbrem como operamos e nossas dificuldades para dar respostas à família e à sociedade. Outro objetivo é causar reflexão: ele é uma janela para os 45,5 mil assassinatos ao ano (dado de 2019). Tivemos 47 policiais dedicados a este caso, e dificilmente podemos dispor dessa força. Também propomos uma reflexão entre o sigilo da investigação e o direito à informação. A melhor forma de trabalhar é em sigilo, principalmente quando há repercussão. No caso Marielle, vazaram imagens de monitoramento da vítima, declarações da sobrevivente... Isso influencia as próximas testemunhas. Para contarem o que sabem, elas precisam da certeza de que os depoimentos estão protegidos.

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