O jornalista e historiador Thiago Gomide
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O jornalista e historiador Thiago Gomide

Voluntário na Rádio Roquette Pinto de 2010 a 2017, o jornalista, historiador e colaborador do portal o Dia, Thiago Gomide, 36, foi nomeado diretor-presidente do veículo pelo  governador Cláudio Castro (PL) este ano, quando a rádio, de 87 anos, inaugurou um estúdio no Palácio Guanabara.

Em entrevista ao jornal, ele fala sobre a mudança de nome do veículo – que em 2017, trocou a homenagem ao pai da radiodifusão por "94 FM" –, o funcionamento de uma rádio pública, a importância do ouvinte para o veículo estatal e de seu diferencial: "o veículo de Estado tem que ter um cuidado maior com o que fala e produz, além de abrir o microfone para olhares múltiplos".

Como foi chegar e assumir a rádio rebatizada como 94 FM? E como a volta ao nome antigo se reflete nos rumos atuais?

Thiago: Como historiador, considero a mudança de nome uma tragédia, pela importância do personagem e de respeitar a história. Eu não conseguia me identificar com 94 FM. Não se apaga um nome; não se destrói a memória. A Roquette Pinto sempre foi uma rádio cultural e educativa, ofertando o que não tem em outros veículos: dar voz a pessoas que não têm espaço, músicos sem a chance de serem ouvidos.

Temos que ser abertos e encontrar os diferentes ouvintes, por mais que gere menos audiência. A rádio pública precisa ser encarada como uma escola, além de prestadora de serviço. Além disso, é nossa obrigação olhar para os 92 municípios do estado, não só para a capital. Precisamos dar espaço na nossa programação aos talentos do interior.

O que são os programas de prestação de contas?

Um secretário, prefeito, deputado ou mesmo um tribunal pode aproveitar os microfones não para proselitismo político, e, sim para prestação de contas no seu mandato. Quando o Tribunal de Contas do Estado ou de Justiça assinam uma coluna, eles educam a população sobre o que os órgãos fazem.

O que é jornalismo público para o senhor?

É um jornalismo pautado nos conceitos mais profundos da educação: respeito às diferenças e a responsabilidade em não tratar o outro como menor. O veículo de Estado tem que ter um cuidado maior com o que fala e produz, além de abrir o microfone para olhares múltiplos, respeitando as leis e a individualidade.

O papel da rádio pública é dar audiência? Se não, qual é?

Não, o papel é dar voz e permitir que toda a sociedade possa interagir com uma rádio pública, aproveitando profissionais com credibilidade. Eu não toco a música bombada no TikTok, pois se faço isso, elimino artistas do interior que não estão na rede social.

O nosso papel é social. "O Som da Rua", por exemplo, é um programa de músicos de rua, enquanto o "Papo Reto" revela potências de favelas. Com a nossa credibilidade, atraímos voluntários, que vão de Ricardo Cravo Albin e Lula Vieira a Rosa Perdigão, da Associação nacional das Baianas de Acarajé. Nosso setor jornalístico conquistou o Prêmio Sebrae de Jornalismo, por meio do trabalho da Cláudia Barcellos, que trabalha na casa há anos.

Ela recebeu o programa "Toda Tarde", e abordou o empreendedorismo como uma das vertentes. É uma vitória coletiva, mas com as digitais da Cláudia.

Então como a rádio mede a resposta do público?

Pelas redes sociais, WhatsApp e muitas ligações. A Dona Zélia, da Tijuca, é um símbolo: até já trouxe bolo. O ouvinte tem que sentir que faz parte, entender nosso funcionamento, afinal, somos pagos com dinheiro público. No Enem, por exemplo, dedicamos parte da programação com conteúdo educativo para jovens que não têm condições de ter uma educação de qualidade.


Como você enxerga o rádio, um veículo quase centenário, em tempos de TikTok?

Quem tem celular? Só no estado, existem milhares de estudantes sem internet. Neste cenário, a rádio costuma ser ponto de encontro dos menos favorecidos, tanto que a audiência aumentou em 20% na pandemia. Justamente, por ser um lugar de troca, de intimidade e conforto. E tem a questão financeira também: é caro ter televisão, mas o radinho de pilha é mais fácil. De qualquer forma, também investimos no futuro, mesmo com baixo orçamento: passamos a transmitir em vídeo os shows direto do nosso auditório, deixando um acervo para as próximas gerações.

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