Em 1995, o jornalista francês Dominique Bauby sofreu um grave AVC, que o deixou completamente incapaz de falar ou movimentar-se. A única exceção era sua pálpebra esquerda. A partir desse pequeno movimento, ele conseguiu criar um canal de comunicação com o mundo ao seu redor. Assim, letra por letra, o francês foi capaz de relatar suas memórias no livro “O Escafandro e a Borboleta”, depois transformado em um belo filme.
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Bauby foi mais uma das vítimas da terrível Síndrome do Encarceramento, uma condição neurológica rara, na qual ocorre a paralisia de praticamente todos os músculos de pacientes. Basicamente, a pessoa fica presa dentro do seu próprio corpo, mas sua consciência pode estar intacta. Ela também é uma das consequências mais cruéis para os portadores da Esclerose Múltipla Amiotrófica (ELA), que o astrofísico britânico Stephen Hawking possui.
Nesta quarta-feira (1º), pesquisadores de um instituto de Genebra, na Suíça, anunciaram o desenvolvimento de uma tecnologia capaz de romper o silêncio entre vítimas, médicos e familiares. Basicamente, ela lê a mente dos pacientes e é capaz de detectar respostas diretas (sim ou não) a partir de alterações nos níveis de oxigênio no cérebro.
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A interface que conecta humanos e computadores é uma touca, parecida com as de natação e equipada com sensores. Os cientistas fizeram um experimento com quatro pacientes, fazendo perguntas cujas respostas já eram conhecidas, como “o nome da sua mãe é Ana?”. Dessa forma, o computador foi calibrado e aprendeu a interpretar as alterações cerebrais, atingindo um nível de precisão de 75% ao final de dez dias de atividades.
Apesar do sistema ainda não conseguir interpretar palavras ou letras, ele traz consigo uma esperança gigantesca. Três das quatro vítimas da Síndrome do Encarceramento que participaram do estudo, registrado no periódico científico “Technology Review”, responderam “sim” à afirmação “eu amo viver”.
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Segundo o neurocientista Niels Birbaumer, responsável pelo projeto, o fruto mais gratificante da experiência foi a reação das famílias dos pacientes voluntários. “O alívio deles foi enorme ao saber que os entes queridos não querem morrer”, afirmou o pesquisador.