Educação financeira poderá fazer toda a diferença entre o céu e o inferno
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Educação financeira poderá fazer toda a diferença entre o céu e o inferno


A importância da educação financeira como parte do ensino escolar cresce todos os anos. Iniciativas americanas como ‘Jump Start’, ‘Next Gen Personal Finance’, a brasileira ‘Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF)’ ou o modelo finlandês que inclui a matéria na grade curricular desde a infância demonstram um crescente processo de conscientização sobre o tema. 

Em um mundo globalizado e capitalista, com livres mercados, o analfabetismo financeiro fortalece uma desigualdade social negativa. Apenas um seleto grupo, que tem o incentivo de adquirir este conhecimento, eventualmente estará preparado para usar as inúmeras ferramentas disponíveis, que trazem a eles benefícios assimétricos em relação ao resto da sociedade. Não é culpa deles, mas é responsabilidade da sociedade civil identificar e melhorar essa situação, para que, no futuro, a concorrência seja ao menos mais igualitária. 

Estamos falando da compreensão do sistema bancário, corretoras, economia comportamental, gestão de orçamento, impacto de escolhas de carreira, habilidades de consumidor, uso de seguro, investimentos em mercados financeiros, tipos de ativos, dívidas e crédito, além de consultores e tributos. Adicionalmente, a compra de uma casa ou apartamento, ativos digitais, empreendedorismo, apostas, filantropia e leitura de relatórios (ex. fluxo de caixa, balanço, DRE). 

Esses temas têm uma característica em comum: todos são entediantes ao extremo. Muito vem sendo feito para gamificar os tipos de conhecimento a fim de facilitar a aprendizagem. A melancolia e o investimento de tempo que esses temas exigem são tantos, que indivíduos (incluindo eu), criaram o hábito de terceirizar essa dor de cabeça para consultores externos. 

Nada contra terceirizar, mas da mesma forma que existem bons médicos, advogados, arquitetos e engenheiros, existem aqueles que são ruins. Erros médicos são mais comuns do que imaginamos; perder uma causa por perda de prazo de advogado também; e quantos arquitetos finalizam reformas dentro do prazo e do orçamento previsto? E por último, já vimos pontes e prédios caírem por má engenharia. Infelizmente, com consultores financeiros não é diferente. 

Na prática, crianças que participam de programas de educação financeira tendem a economizar dinheiro regularmente e a planejar melhor suas finanças. Indivíduos com formação financeira têm menos chances de acumular dívidas de cartão de crédito e são mais disciplinados em pagar suas contas em dia. Além disso, são mais inclinados a planejar e investir a longo prazo, o que resulta em retornos mais estáveis e crescimento patrimonial.

A falta de conhecimento adequado aumenta a probabilidade de participação em especulações de alto risco, muitas vezes sem uma compreensão completa das ameaças envolvidas. Isso é comum no mercado global de Forex (mercado de câmbio descentralizado), onde pessoas podem perder seus investimentos em questão de segundos. Além disso, a ausência desse conhecimento é um fator significativo que contribui para o envolvimento em atividades de apostas e jogos de azar.


A crise financeira de 2008 resultou em um aumento significativo nas taxas de suicídio em vários países, especialmente entre indivíduos que enfrentaram graves dificuldades econômicas. Isso também ocorreu em outros tempos e lugares onde pessoas perderam, em curto espaço de tempo, grande parte do seu património mal investido.

Como sabemos, a exposição constante a propagandas cria necessidades artificiais e incentiva o consumo impulsivo. Mais um desafio para as novas gerações. O excesso de informação pode sobrecarregar a capacidade de tomada de decisão das pessoas, levando-as a escolhas irracionais. Empresas que vendem falsas expectativas monetárias, como promessas de enriquecimento rápido, exploram a falta de literacia financeira das pessoas.

Imagine duas situações hipotéticas: Ana e João, ambos com 20 anos, começaram suas aplicações com R$10.000. Ana investiu sabiamente em um fundo de índice diversificado com um retorno médio anual de 7%. João fez alguns investimentos ruins e teve um retorno médio anual de 3%. Após 40 anos, Ana acumulou cerca de R$149.745, enquanto João atingiu aproximadamente R$32.620. Em outras palavras, a responsabilidade de Ana a levou a acumular um patrimônio 5 vezes maior que João. Esta é a mágica dos juros compostos, ele é intolerante a erros, mesmo que poucos. 

As crianças podem começar a entender conceitos básicos de finanças, como poupança e gastos, a partir dos 6 anos. Estes ensinos devem evoluir até o último ano escolar. Na universidade, independente do tema escolhido, deve-se considerar que os estudantes passem por um exame que definirá se vão ter obrigatoriedade de participar de 0 a 4 cursos de educação financeira. Veja; o historiador, o filósofo, o jornalista e o designer também precisam saber viver na sociedade moderna. 

Para adultos, o desafio é ter acesso a um ensino confiável e de qualidade em educação financeira. Muitas instituições oferecem cursos gratuitos promovendo conhecimento com viés e conflito de interesses, com empresas que querem lhe vender algum produto ou serviço. 

Recursos online, como MOOCs, aplicativos financeiros e podcasts, tornam o aprendizado contínuo mais acessível. Além disso, eventos comunitários, como palestras, seminários e grupos de discussão, promovem a troca de conhecimentos e experiências. Empregadores podem apoiar a educação financeira ao incluir programas educativos e consultoria como benefícios aos funcionários.

Não é fácil. Estudo o tema desde criança, e mesmo após anos de aprendizado, cursos, inúmeros livros, podcasts, aplicativos, palestras, erros e alguns acertos, ainda me sinto um amador. Porém, inevitavelmente em algum momento vamos nos aposentar, e naquele dia poderemos estar orgulhosos e seguros, ou tristes e vulneráveis. Educação financeira poderá fazer toda a diferença entre o céu e o inferno. 

Referências:

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2. Lusardi, Annamaria, Mitchell, Olivia S., “The Economic Importance of Financial  Literacy: Theory and Evidence,” Journal of Economic Literature, 2014.

3. FINRA Investor Education Foundation, National Financial Capability Study, 2018.

4. Jump$tart Coalition, State Financial Education Mandates Report, 2018.

5. OECD, PISA 2015 Results (Volume IV): Students' Financial Literacy, 2017.

6. Chang, Shu-Sen, et al. "Impact of 2008 global economic crisis on suicide: time trend study in 54 countries." BMJ, 2013.

7. Lester, David. "Suicide and the Stock Market: Evidence from the United States." The American Journal of Psychiatry, 1997.

8. Fountoulakis, Konstantinos N., et al. "Relationship of suicide rates to economic variables in Europe: 2000–2011." The British Journal of Psychiatry, 2014.

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10. Atkinson, Adele, Messy, Flore-Anne, “Measuring Financial Literacy: Results of the OECD / International Network on Financial Education (INFE) Pilot Study,” OECD Working Papers on Finance, Insurance and Private Pensions, No. 15, 2012.

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16. Schor, Juliet B. "The Overspent American: Why We Want What We Don’t Need." Harper Perennial, 1999.

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