Jonathan Haidt, renomado psicólogo social, tem expressado sérias preocupações sobre os impactos negativos dos smartphones na saúde mental e no desenvolvimento social das crianças. Baseando-se em estudos publicados em revistas respeitadas, como o ‘Journal of Abnormal Psychology’ e ‘Clinical Psychological Science’, Haidt argumenta que o uso excessivo de aparelhos está fortemente associado ao aumento das taxas de depressão, ansiedade e solidão entre os jovens, o que sugere uma ligação direta entre o uso de dispositivos móveis e o bem-estar psicológico.
Além disso, Haidt alerta para os efeitos prejudiciais dos smartphones no desenvolvimento social das crianças. A interação face a face, crucial para gerar a empatia e as habilidades sociais, é, cada vez mais, substituída pela comunicação digital, o que pode lesar a capacidade dos jovens de formar e manter relacionamentos saudáveis.
Haidt também menciona que o desempenho acadêmico pode ser afetado negativamente, pois as constantes notificações e o acesso às redes sociais distraem os estudantes e comprometem seus hábitos de estudo.
Em contraste, pesquisadores como Candice Odgers, professora de psicologia na Universidade da Califórnia, argumentam que o uso de smartphones não é necessariamente prejudicial e que o contexto do uso é crucial.
Odgers destaca que, para muitos jovens, os celulares oferecem oportunidades importantes para conexão social, suporte emocional e acesso a recursos educacionais. Ela aponta que, em alguns casos, o uso de redes sociais pode até melhorar a saúde mental, proporcionando um sentido de comunidade e pertencimento.
Além disso, críticos argumentam que o alarmismo em torno dos smartphones pode desviar a atenção de outros fatores mais críticos que afetam a saúde mental dos jovens, como problemas familiares, bullying e questões socioeconômicas. Eles defendem uma abordagem mais equilibrada, sugerindo que, com orientação e limites adequados, o uso pode ser integrado de forma benéfica à vida dos adolescentes.
Se realizarmos uma analogia entre os países que conseguiram manter a saúde e enriquecer ao mesmo tempo, o Japão é o vencedor. No país do Sumô, apenas 4.5% da população é obesa, enquanto na Grã-Bretanha 26%, e nos EUA 42% e esse resultado deve-se à educação. Os japoneses não só deram o livre arbítrio, como ensinaram as pessoas a se alimentarem melhor. Ou seja, talvez tenhamos uma chance com a tecnologia.
Os países democráticos têm um mecanismo especial para lidar com circunstâncias onde se considera restringir liberdades, mas que aparentemente a população está esquecendo. Enquanto os países autoritários funcionam de forma hierárquica onde um manda e os outros obedecem, sem um sistema de debate, nós temos a possibilidade de questionar e testar.
Precisamos que governos estaduais e municípios tenham a possibilidade de legislar para proteger a criança dentro de um mecanismo pré-estabelecido de coleta de informação para análise científica. Desta forma, teremos várias regiões optando por políticas diversas, cujo os resultados serão avaliados pela sociedade civil, universidades, empresas, etc. Com o tempo, aquelas regras de maior sucesso serão naturalmente replicadas.
Até lá, precisamos que as escolas proíbam a entrada de celular durante todo o período de estudo. Alunos poderão colocar seus celulares em armários e pegá-los de volta no horário da saída. O uso de eletrônicos deve ser limitado aos aparelhos escolares, que por sua vez restringem o uso de aplicativos sem objetivo pedagógico.
Adicionalmente, sugiro conversar com as crianças sobre o problema para desenvolver autoconsciência. Minha esposa e eu, temos bastante preocupações referente a exposição excessiva de nossas crianças de 7 e 9 anos a eletrônicos. Criamos dois dias sem o uso deste tipo de tecnologia em casa. Também conversamos com eles sobre os estudos que visam alertar sobre o mau uso do celular e o que eles ensinam. Ainda estamos longe de resolver o problema, mas sentimos uma melhora substancial.
A nível mundial precisamos de uma entidade sem fins lucrativos como a Internet Engineering Task Force (IETF), que desenvolve e mantém os padrões da internet, para que aplicativos sigam determinados padrões de desenvolvimento para interagir com as necessidades de controle parental. Exemplo, eu restringi no perfil dos meus filhos no Netflix, filmes e seriados do famoso ‘Luccas Neto’. Porém, novos lançamentos não entram nesse filtro, não faz nenhum sentido, concorda? E o fato de que a restrição em um aplicativo de streaming não é automaticamente replicada para os outros, complica a vida dos pais.
Do ponto de vista federal: uma legislação que desincentive a comercialização de aplicativos para o consumidor final que não interage com interfaces de controle parental, com maior alíquota de impostos, seria bem vinda. Por isso, é preciso criar os mecanismos de medição para poder fornecer aos cidadãos os resultados de diferentes experimentos regionais de forma transparente. Por último, investimento em pesquisa e desenvolvimento para fomentar a análise dos dados coletados, e o desenvolvimento de soluções de mercado.
Fico triste quando vou a aniversários e vejo crianças de 13 anos sentadas uma ao lado das outras brincando com seus celulares sem interagir entre elas. É aterrorizante quando recebo os amiguinhos dos meus filhos em casa e eles não querem descer para o playground, ou quando não querem se aventurar em um jogo de tabuleiro ou ver um filme porque estão hipnotizados no celular. É nossa responsabilidade como adultos resolver o problema, não deles. O perigo é claro e presente, precisamos agir hoje.