A ONU, a ordem mundial e seus bugs
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A ONU, a ordem mundial e seus bugs


A Carta das Nações Unidas foi formulada em 1945, após a Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de evitar futuros conflitos globais. Desde então, a ONU tem adaptado suas funções para enfrentar esses desafios, como mudanças climáticas, terrorismo internacional e pandemias.

Países membros devem respeitar e promover os princípios como a soberania, a igualdade entre os Estados e a não intervenção nos assuntos internos dos outros países. Além disso, têm o dever de cooperar na resolução de conflitos internacionais por meios pacíficos, abster-se de usar a força em relações internacionais de maneira incompatível com os objetivos das Nações Unidas, e apoiar missões de paz.

Ao longo do último milênio, a quantidade e severidade de conflitos armados têm passado por uma transformação notável, influenciada por mudanças políticas, tecnológicas e ideológicas. Segundo o historiador Steven Pinker, em seu livro "The Better Angels of Our Nature", a violência humana, incluindo conflitos armados, tem diminuído de maneira significativa ao longo dos séculos. 

Para muitos isso parece contraintuitivo, mas considere que em diversos momentos do passado era possível matar pessoas por crimes como bruxaria, heresia, traição contra o estado ou monarca (podendo claro, ser completamente fabricada para eliminar adversários), adultério, imoralidade sexual, blasfêmia, homosexualidade, fechamento de portas em horário comercial para manipular preços, dívidas, falsificação de moeda, espionagem e sacrifício ritual. 

Porém, homens com sede por  poder encontraram dificuldades com a  ordem mundial estabelecida e para alcançar seus objetivos precisam encontrar formas de hackear o sistema atual. Assim foram estabelecidas organizações paramilitares como o grupo Wagner vinculado ao governo Russo, ´proxies´ do Irã como Hezbollah no Líbano e Houthis no Iêmen.

A criação do Grupo Wagner, por exemplo, uma empresa militar privada (PMC), é amplamente vista como parte da estratégia da Rússia para projetar poder e influência internacionalmente, mantendo um nível de negação plausível e minimizando o envolvimento oficial do estado, reduzindo assim, tanto o escrutínio doméstico, quanto internacional e potenciais reações adversas. 

Esta tática vem funcionando além das expectativas como vista na  guerra de Gaza entre Israel e Hamas. Israel vem sendo atacado por forças ligadas ao governo Iraniano em Gaza (Hamas). Líbano (Hezbollah), Síria (IRGC ou Quds), Iraque (IRGC ou Quds), Iêmen (Houthis) tentam infiltrar a Jordânia para abrir mais uma frente e quando Israel ataca iranianos envolvidos na guerra em solo sírio é visto como agressor de um país que até então não estava envolvido no conflito. 

Os terroristas de Gaza são vistos como coitados que estão apenas realizando uma resistência a entidade sionista poderosa e colonialista, quando claramente se trata de um conflito regional de 5 países mais o hamas que são fundamentalistas, violentos e fracassados contra um país soberano, democrático, liberal, capitalista e bem-sucedido que apenas quer defender sua população. Se trata da antiga máxima do poder, “encontre um inimigo externo para responsabilizá-lo sobre os problemas internos que não tem competência para resolver”.

O uso de organizações paramilitares e terroristas permite às nações se omitirem da responsabilidade, ao mesmo tempo em que ganham flexibilidade para realizar ações que de outra forma seriam consideradas como declarações de guerra. Assim, enfraquecem governos adversários enquanto conseguem manter o seu poder interno.  

Quando estas organizações ‘passam dos limites’, o governo responsável mira no líder e o elimina fazendo parecer um acidente, como foi o  caso de Yevgeny Prigozhin chefe do Grupo Wagner. Afinal, acidentes aéreos parecem mais comuns do que pensamos.  

Infelizmente, não trago soluções para o problema em si, mas a ausência do debate em volta de temas como esse, cria incentivos para que mais organizações sejam formadas e para que as existentes recebam cada vez mais recursos. No acumulado, esta será uma ameaça existencial para o ‘rule-base-order’ criado após a Segunda Guerra Mundial, o que resultará em caos e retrocesso. 

Se engana quem acha que por estarmos geograficamente longe das zonas de conflitos, não somos impactados. Há evidências de que organizações como ISIS (Islamic State of Iraq and Syria), Taliban, Boko Haram, Hezbollah, Al-Qaeda, Al-Shabaab entre outras estão envolvidas em atividades de vendas de armas, tráfico humano, trabalho escravo, comercialização de drogas entre outras atividades criminosas que desastabiliza nações em geral e em especial regimes democráticos. 

As nações democráticas devem se unir para combater de forma coordenada essas organizações. Como uma OTAN especializada na luta contra o eixo mal. Isso deve aumentar o custo para nações que escolhem apoiar esses grupos e criar um caminho para que prefiram a diplomacia. Precisamos acordar enquanto ainda há tempo.

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