O país viveu um 07 de setembro bastante atípico nesse 2021. No dia em que deveríamos comemorar os 199 anos do grito de D. Pedro às margens do Ipiranga e dar os primeiros passos nas comemorações do bicentenário da Independência, em 2022, o Brasil de verdade foi tomado por um clima de apreensão e incerteza.
O próprio Jair Bolsonaro marcou para essa data manifestações populares de apoio à sua presidência e às suas propostas de ruptura institucional. Nas últimas semanas o país foi tomado por notícias, boatos e expectativas de multidões nas ruas com armas, bombas, porretes e muita disposição para “invadir e fechar” o Supremo Tribunal Federal, o Congresso e tudo mais que represente uma “ameaça” à liberdade e ao progresso do país.
Mas o dia 7 chegou e passou sem maiores traumas. O número importante de manifestantes que foi às ruas em São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e outras cidades nos ajuda a entender melhor o atual momento do bolsonarismo. De um lado temos mais bem definido o perfil das pessoas dispostas a dedicar seu tempo para defender o Presidente. É um grupo heterogêneo formado por voluntários, onde se enquadram especialmente pessoas da terceira idade, por contratados, que recebem algum tipo de vantagem ou incentivo pessoal para participar, e alguns evangélicos estimulados por seus líderes religiosos. A grande maioria deles sequer entende de verdade como as instituições atrapalham o país e se informam por manchetes sensacionalistas e correntes do “zap”.
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De outro fica mais clara a falta de força de Jair Bolsonaro para levar adiante seu sonho de permanecer no poder sem precisar enfrentar novamente as urnas. Enquanto ele investe na lógica de responsabilizar o Supremo Tribunal Federal pelos males do Brasil e direciona o veneno da militância contra o Ministro Alexandre de Moraes, que será presidente do Superior Tribunal Eleitoral durante as eleições de 2022, o Presidente incorre em claros crimes de responsabilidade.
Graças a isso ele conseguiu colocar na pauta da imprensa, do Congresso e dos tribunais superiores a viabilidade de seu impeachment. Um tema que era dado como improvável há poucos dias tornou-se objeto de discussão em grupos políticos importantes como PSD, PSDB, MDB e outros.
A essência política do impeachment transforma seu processo em um fenômeno altamente impactado pelo “efeito manada”. Quando grupos importantes aderem à sua realização outros grupos são levados a trabalhar com a expectativa de poder da nova configuração do Executivo Federal. Com isso o Presidente acusado sofre um rápido processo de abandono e não consegue evitar seu impedimento.
Mas além do aspecto político há também a reação popular que se organiza em manifestações marcadas para o dia 12 de setembro em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e outras cidades. Com o objetivo de pedir a saída de Bolsonaro da presidência, essas manifestações ganharam inúmeros apoios desde o dia 7 de setembro e já confirmaram presença o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, os senadores Simone Tebet e Alessandro Vieira, o ex-candidato a presidente e senador Alvaro Dias e o músico Tico Santa Cruz dentre outros.
Com todas essas peças no tabuleiro torna-se previsível que o país viverá momentos conturbados nos próximos meses. Mas ao contrário do que espera Jair Bolsonaro, o cenário é bastante desfavorável ao presidente e começa a se desenhar no horizonte uma promoção de patente no Palácio da Alvorada. A saída do Capitão e a chegada do General.