Não podemos mais assistir atônitos ao festival de absurdos produzidos diariamente pelo presidente Jair Bolsonaro.
Cristiano Beraldo
Não podemos mais assistir atônitos ao festival de absurdos produzidos diariamente pelo presidente Jair Bolsonaro.


O episódio do manifesto pedindo harmonia e senso de responsabilidade aos Três Poderes da República, elaborado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e pela  Federação dos Bancos (Febraban), e apoiado por dezenas associações de diversos setores da economia real, nos dá a verdadeira dimensão do momento que vivemos no Brasil.

De um lado temos uma clara mudança de postura por parte dos empresários, que por necessidade ou conveniência estavam agindo com cômoda passividade em relação ao Governo Federal. Com alguns setores surfando a onda da inflação alta, do Real desvalorizado e excesso de liquidez inundando o mercado financeiro, parece finalmente ter se imposto a realidade de que não é possível prosperar no longo prazo estrangulando a massa da população.

De outro lado temos a Fiesp, que cedeu às pressões de Brasília e recuou da publicação do manifesto mesmo depois de já ter colhido assinaturas e informado que se responsabilizaria pelos custos de publicidade. Insatisfeitas, algumas associações passaram a se manifestar isoladamente e registrar sua preocupação com os rumos que o país tomou. A Fiesp, que sempre exerceu uma liderança forte, de repente foi atropelada no papel de porta-voz das empresas de São Paulo.

Entretanto, o que mais chamou atenção em todo esse imbróglio foi a postura adotada pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal. Houve um total abandono da institucionalidade com que ambos sempre se posicionaram no debate político e seus presidentes atuaram de forma ostensiva e grosseira para barrar a publicação do manifesto. Todas as armas disponíveis foram utilizadas. Tanto as comerciais, com ameaça de dificultar os negócios entre os dois bancos públicos e as demais instituições financeiras, como as institucionais, com ameaça de retirada de ambos da Febraban.

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É de uma imoralidade absoluta o Governo Federal utilizar-se destas conceituadas instituições como instrumento para defender politicamente o Presidente da República. Afinal, não há dúvida sobre quem é o responsável pelo desequilíbrio vivido hoje entre os Três Poderes e quem seria o maior prejudicado com a publicidade da insatisfação de dezenas de setores da economia.

Chegou a hora de reconhecer que não há país forte sem progresso e prosperidade para a população como um todo. E é preciso aceitar que o país se encontra em um grave momento político e econômico, o que tem representado um peso cada vez maior nas costas do brasileiro.

Por isso, não podemos mais assistir atônitos ao festival de absurdos produzidos diariamente pelo presidente Jair Bolsonaro. Não podemos normalizar o uso de recursos humanos e financeiros da União para fins tão medíocres como transformar os presidentes dos bancos públicos em meros soldados da guerrilha bolsonarista. O presidente cria no país um falso clima de golpe enquanto incentiva a população a se armar e depois escala os puxa-sacos de plantão para atuar quando a sociedade reage.

O caminho necessário para que se acenda a luz no fim do longo túnel brasileiro é aquele em que se assume a real condição do país, se abandona as paixões mal correspondidas e se compreende que a evolução do indivíduo depende do coletivo. Discursos eloquentes, tão cheios de falsas certezas e improváveis previsões, não são suficientes para colocar nosso trem de volta nos trilhos.

Se instituições respeitadas como a Fiesp continuarem se dispondo a condescender com a cruzada lunática que tem dominado Brasília, em breve veremos nosso retrocesso institucional e econômico macular definitivamente nossas perspectivas de futuro.

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