A realização da 15ª Cúpula do Brics, em Joanesburgo, na África do Sul, recolocou o nome do bloco nas manchetes dos principais veículos de comunicação.
Ricardo Stuckert/PR
A realização da 15ª Cúpula do Brics, em Joanesburgo, na África do Sul, recolocou o nome do bloco nas manchetes dos principais veículos de comunicação.


Desde 1992, os países vêm negociando para reduzir a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, para mitigar a ameaça existencial que emerge para a humanidade com a mudança do clima. Não houve progresso: a concentração continua aumentando, tendo atingido 415,78 partes por milhão em outubro do ano passado. Consequência dela, eventos climáticos extremos são cada vez mais frequentes e intensos. Cientistas vêm alertando que se a concentração ultrapassar 450 partes por milhão, a gravidade das mudanças causará profundos impactos sobre a vida na Terra.

Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul estão entre os maiores emissores de carbono. Os quatro primeiros são, juntamente com Estados Unidos, União Europeia, Inglaterra, Japão, Indonésia e Coreia do Sul, potências climáticas - países com emissões relevantes de gases de efeito estufa no total global, bem como com capacidade humana e tecnológica para implementar a descarbonização.


Entender o compromisso desses países com a agenda climática é essencial para analisar as perspectivas de mitigação da mudança do clima.

Desde 2015, com o Acordo de Paris, cada país indica suas metas de redução de gases de efeito estufa, com obrigação de aumentar a ambição periodicamente. Nesse novo modelo, analisar o compromisso com o clima requer ir além de análise de política externa para entender as dinâmicas da política doméstica dos países.

No regime internacional do clima, quatro dos Brics formaram a coalizão Basic. A Rússia não entrou porque tem posicionamentos e trajetória peculiares, dificultando posições comuns com os Basic. Segue muito forte na Rússia o negacionismo climático.

Nesse sentido, ainda que falte certa consistência à coalizão Brics, seus membros, agora com novas adesões, seguem representando uma categoria de países que influenciam a realidade empírica.

A coalizão Basic tem avançado, tanto nas dinâmicas de política doméstica como nas posições no regime internacional climático, na transição de baixo carbono.

O país que mais contribuiu para o aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, entre 1850 e 2023, foram os Estados Unidos, seguidos por China, Rússia e Brasil. A Índia vem em sétimo lugar e a África do Sul em décimo sexto lugar.

No caso do Brasil, as emissões do setor de uso da terra e florestas são as mais relevantes no total de emissões desde 1990 e seguem bastante acima dos demais setores.

Dados seu nível de emissões e sua participação nas cadeias globais de energia, inclusive as de tecnologia de baixo carbono, a China é o ator mais importante na dinâmica global da descarbonização; portanto, avanços da agenda na China são condição necessária para um avanço internacional consistente.

A Índia é um ator conservador no regime climático e um dos mais ativos defensores das responsabilidades comuns, porém diferenciadas, e da doutrina das responsabilidades históricas.

Quando o clima ganhou força na agenda internacional, a África do Sul passava pela transição de um regime autoritário para a democracia e, por isso, nesse país a transformação energética e ecológica enfrenta desafios múltiplos.

Dentre os Brics, o Brasil é o mais bem posicionado para acelerar a descarbonização. Em relação ao setor de mudança de uso da terra e florestas, a mudança no governo federal em 2023 deve reverter o desmonte institucional no monitoramento e na aplicação da lei contra o desmatamento.

Os padrões internacionais mais rigorosos em relação à proteção ambiental para produtos agropecuários também contribuem para a descarbonização brasileira, dada a participação do setor nas cadeias globais de valor. No setor de energia, há alto potencial de avançar a descarbonização no Brasil com ampliação da participação de energia solar e eólica, e investimentos na produção de hidrogênio verde.

Os Brics são atores relevantes na política climática. Os cinco estão entre os maiores emissores de gases de efeito estufa, tanto em relação a níveis históricos como em trajetória de emissões desde 1990. Estão também entre os grandes produtores e consumidores de combustíveis fósseis, cuja combustão desde 1850 responde pela maior parte do acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera. Para uma descarbonização planetária bem-sucedida o engajamento dos Brics é essencial.

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