Em um mundo em que não faltam tensões geopolíticas como Gaza e Ucrânia é importante não esquecer o tema da inflação americana. É importante ver como os economistas analisam esse assunto e, mais relevante ainda, conhecer suas implicações para a política econômica.
A medida de inflação é algo muito simples: uma média ponderada das variações de preços de bens e de serviços, de arroz à internet no caso do IPCA o nosso termômetro oficial composto por 377 itens.
Já se ela capta mesmo o que os economistas entendem por inflação isto é o aumento persistente do nível geral de preços, a resposta é bem mais difícil. Há preço que variam muito de mês a mês, em ambas as direções; outros se movem comparativamente pouco, mas quase sempre em um único sentido. O primeiro conjunto de preços voláteis traz mais ruído que informações pelo menos na leitura mental de inflação; já o segundo costuma nos dar informações mais confiáveis sobre o seu comportamento recente.
Medidas que dão mais peso aos componentes pouco voláteis do índice de preços são conhecidas como núcleos de inflação e frequentemente norteiam análises do fenômeno, inclusive a dos próprios Bancos Centrais.
Bancos Centrais precisam entender em particular se a variação observada de preços é persistente e não fruto de flutuações de curtíssimo prazo, bem como ter uma ideia mais clara da força desses movimentos.
Desenvolveram, assim, um pequeno arsenal de núcleos alguns mais simples por exemplo, definindo a priori preços que consideram voláteis, como alimentos e energia no caso americano, outros um pouco mais elaborados.
Tais métricas não necessariamente são bons indicadores de como a inflação se comportará no futuro, mas costumam nos dar uma ideia mais clara de como se comporta naquele momento.
No caso americano, a inflação cheia nos últimos quatro meses variou bastante, atingindo 0,63 % em agosto último o equivalente a 8 % ao ano, mas caindo para 0,05 em outubro, ou seja, 0,5 ao ano.
Por outro lado, a média de cinco diferentes núcleos de inflação nos mesmos meses revela uma certa estabilidade do ritmo de aumento de preços, 0,34 % e 0,30 %.
Por essa ótica, a inflação americana tem rodado na casa de quatro a quatro e meio por cento nos últimos poucos meses, bem menor do que os valores ao redor de sete por cento ao ano registrados em meados do ano passado. Essa redução pode ajudar o atual governo nas eleições de novembro próximo.
É um progresso respeitável em intervalo até que curto comparado a experiências anteriores, mas não há que ignorar que falta um tanto para que a inflação volte a meta de dois por cento estabelecida pelo Federal Reserve.
Parece, portanto, afastado o risco de novas rodadas de elevação dos juros nos EUA, perspectiva que levava ao fortalecimento do dólar frente às demais moedas globais e, consequentemente, também em relação ao real.
Não se afigura provável, contudo, reverter tão já o processo iniciado em 2022, ou seja, ainda teremos de conviver algum tempo com a taxa de juros básica americana próxima a 5,5 % ao ano. Isso tem implicações relevantes para o comportamento de juros no Brasil.