
Uma equipe de astrônomos liderada pelo brasileiro Felipe Alves fez recentemente um belo registro do nascimento de duas estrelas binárias. Trabalhando atualmente no Instituto Max Planck, na Alemanha, ele e seus colaboradores usaram o observatório ALMA, no Chile, para fazer a imagem. O estudo foi publicado na prestigiosa revista Science.
A imagem é curiosa, e revela um formato de rosquinha ou pretzel gerado pelo movimento do gás e poeira ao redor das estrelas. São justamente os ingredientes para a formação dos astros.
O trabalho é importante para o entendimento da formação de estrelas em sistemas duplos como o observado aqui. Como esses pares de estrelas nascem, e como se desenvolvem posteriormente?
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A importância das estrelas binárias
Muita da nossa compreensão sobre o nascimento e a evolução de estrelas assume que elas vivem sozinhas, isoladas de suas companheiras.
No entanto, sabemos hoje que a maioria das estrelas no Universo, talvez até 85% delas, vive em sistemas binários, provavelmente afetando a evolução uma da outra.
Você viu?
É como psicólogos não levassem em conta os nossos irmãos e irmãs, e tentassem explicar tudo que vivemos apenas a partir de pai e mãe. Imagine explicar as características do personagem Ron Weasley, dos livros do Harry Potter, sem falar de seus irmãos!
Dessa forma, é de grande valia encontrar estrelas que estejam nascendo juntas. Não as veremos crescendo juntas também, afinal o processo leva milhões de anos, mas podemos agora investigar os detalhes dos primeiros estágios dessa relação fraternal.
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A astronomia depende da tecnologia
Um outro aspecto importante do trabalho é o que a tecnologia nos permite agora observar. Inaugurado em 2011, o ALMA nos permite enxergar detalhes destes discos de poeiras que até então seriam impossíveis para qualquer telescópio na Terra ou no espaço.
Alves ressalta a importância do investimento em tecnologia para o progresso da ciência. “O telescópio ALMA representa um enorme passo nesta direção, não somente por fazer-nos revisar nosso conhecimento sobre a formação de estrelas, mas também pela alta demanda tecnológica para seu funcionamento. Apesar de eu estar no exterior, reforço a importância de mantermos o Brasil sempre envolvido em tais projetos, que já se mostraram frutíferos em outras ocasiões.”
O Brasil fazia parte do ALMA através de um acordo com o consórcio europeu ESO, mas a falta de pagamento infelizmente levou à suspensão do acordo.
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