Visão esquemática do chafariz de gás produzido por um buraco negro supermassivo.
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Visão esquemática do chafariz de gás produzido por um buraco negro supermassivo.



Você deve ter lido o título e agora está aí pensando… “Ué, mas buracos negros não são aqueles objetos que sugam tudo ao seu redor?” De certa forma, isso é verdade: a gravidade em um buraco negro é tão forte que nem a luz consegue escapar — daí o seu nome.

No entanto, nem tudo que está fora do buraco negro cai ali dentro imediatamente. Pense na Terra: ela gira ao redor do Sol, e ao girar ela evita cair no centro do Sistema Solar. Da mesma forma, se a matéria próxima ao buraco negro se movimentar suficientemente rápido, poderá orbitá-lo sem cair. E é aí que as coisas começam a ficar interessantes.


Buracos negros e núcleos ativos

Hoje sabemos que todas as galáxias têm um buraco negro supermassivo em seu interior. Quando digo supermassivo é grande mesmo; alguns deles têm mais de 10 bilhões de vezes a massa do nosso próprio Sol.

Ainda assim, quando comparado à sua galáxia hospedeira, o buraco negro central em geral é algo diminuto. Na nossa própria galáxia, por exemplo, temos um buraco negro com massa de alguns milhões de sóis, enquanto a galáxia inteira tem cerca de 100 bilhões de estrelas.


Leia mais: colisões de galáxias ajudam a formar buracos negros supermassivos


Desta forma, o buraco negro é relativamente “pequeno” e só afeta a região imediatamente ao seu redor. Nessa parte do espaço, o buraco negro acaba funcionando como um grande ralo cósmico, com a matéria ali espiralando e caindo aos poucos.

Por outro lado, essa matéria gira tão rápido que esquenta e produz uma enorme quantidade de energia — às vezes são mais brilhantes que todas as centenas de bilhões de estrelas da galáxia somadas!

Você viu?

Essa energia é capaz até mesmo de produzir jatos de gás que são levados a milhões de anos-luz de distância! Não é à toa que dizemos que essas galáxias possuem Núcleos Ativos .

Infelizmente, essa região é tão pequena que representa um verdadeiro desafio observacional para os astrônomos. São pouquíssimos os núcleos ativos que podemos observar com detalhes no universo, e por isso entendemos muito pouco de sua estrutura física.

Por isso a descoberta desta semana foi tão interessante. Astrônomos japoneses usaram observações detalhadíssimas obtidas com o radiotelescópio ALMA e compararam com modelos computacionais de última geração, tentando entender o formato do disco de matéria ao redor do buraco negro.

Muitos modelos assumem que havia um toro de matéria ao redor do núcleo ativo, como se fosse uma rosquinha interestelar. No entanto, Takura Izumi (líder da pesquisa) e seus colaboradores notaram que na verdade o formato é mais de um chafariz, caindo pelo ralo e ocasionalmente sendo relançado para cima, caindo novamente no disco.


O futuro: observando buracos negros

A descoberta tem implicações importantes para o funcionamento do mecanismo físico de emissão de energia em núcleos ativos. Quem sabe não conseguimos descobrir em breve a origem e o funcionamento dos jatos de milhões de anos-luz?

Além disso, esperamos para 2019 a primeira imagem do horizonte de eventos de um buraco negro . Aí sim, veríamos uma imagem, inédita na história humana, da fronteira além da qual nem a luz pode retornar. Isso vai dar uma bela coluna aqui no Astronotícias!


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