Os pilares da criação na Nebulosa da Águia, um dos mais famosos — e mais lindos — berçários estelares, onde ocorre o nascimento de estrelas.
ESA/NASA/Hubble
Os pilares da criação na Nebulosa da Águia, um dos mais famosos — e mais lindos — berçários estelares, onde ocorre o nascimento de estrelas.

“Somos feitos de poeira de estrelas.” Com essa frase, Carl Sagan, astrônomo e divulgador norte-americano falecido em 1996, resumia de forma poética o ciclo de vida dos elementos e das estrelas no Universo. Mas o que exatamente ele queria dizer com isso? Como o nascimento de estrelas está relacionado à vida na Terra?

Estrelas nascem e morrem. Durante esse processo, novos elementos são fabricados, e estes elementos permitiram o surgimento da vida na Terra, e talvez até mesmo em outros planetas. É um ciclo da vida digno do Rei Leão.

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O nascimento de estrelas e as fábricas de elementos

As estrelas funcionam efetivamente como fábricas de novos elementos. Logo após o Big Bang, existiam pouquíssimos elementos no Universo. Praticamente tudo que existia era feito de hidrogênio ou hélio.

Esse também é o principal ingrediente de estrelas. No interior de estrelas, como por exemplo o Sol, uma fornalha de dezenas de milhões de graus Celsius permite que esses elementos “cozinhem”. A união de átomos de hidrogênio pode formar átomos mais pesados, como o hélio, o carbono e o oxigênio. É um processo denominado fusão nuclear, e é o que gera todo o calor e luz que recebemos do Sol.

No entanto, se esses elementos são produzidos no interior de estrelas, algo precisa acontecer para que possam ser utilizados na criação da vida. E para isso a estrela precisa morrer.


A morte das estrelas e o ciclo da poeira estelar

O destino final de uma estrela depende do seu tamanho, de sua massa. As maiores estrelas explodem de forma espetacular em supernovas. As menores, como o nosso Sol, perdem gradualmente suas camadas, lançando no espaço o seu conteúdo, formando belas nebulosas planetárias durante dezenas de milhares de anos. São processos distintos, mas que de maneira diferentes liberam os diversos elementos nas vizinhanças da estrela moribunda.

Ao se misturar com o gás interestelar, os elementos podem ajudar a compor a próxima geração de estrelas, que serão então mais ricas em ingredientes diferentes de hidrogênio e hélio.

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Alternativamente, esses elementos podem se unir em pequenos grãos de carbono e silício, por exemplo. Essas serão as sementes dos planetas que se formarão ao redor de novas estrelas. Assim recebemos TODOS os ingredientes para a criação da vida na Terra, incluindo o carbono que compõe nosso DNA e o oxigênio que respiramos.

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Mistérios ainda por resolver

Se por um lado sabemos com detalhes como os elementos se formam no interior das estrelas, por outro ainda precisamos entender o que exatamente ocorre para estimular a formação de estrelas.

A figura que ilustra essa coluna mostra um belo exemplo de uma região onde o gás está sendo usado para formar novas estrelas. Mas como isso acontece? Por que o gás é compactado em uma região tão pequena que permite a fusão nuclear, e por que apenas parte do gás é usada neste processo?

São perguntas ainda não respondidas, e que instigam a curiosidades de astrônomos e cientistas que querem entender melhor o ciclo de vida cósmico.


Observações finais

Agora o leitor deve estar se perguntando por que decidi escrever sobre isso hoje. Talvez seja porque anteontem foi a quarta-feira de cinzas, um momento de refletir sobre ciclos e o início da quaresma que culmina com a Páscoa, um símbolo de ressurreição na tradição cristã.

Mas mais provavelmente a inspiração veio da minha segunda filha, que nasceu na semana passada. Como um novo pai (novamente), é difícil não refletir sobre ciclos de vida, na Terra e no Universo.

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