Uma das perguntas que mais escuto de jovens que consideram a carreira de cientista é: o que é necessário? Será que sou suficientemente inteligente para virar cientista ?

Isso é uma pena. Muitos pensam que todos os cientistas são gênios predestinados, e que existe um mecanismo mágico que determina, no momento do nascimento de cada um, se temos a capacidade intelectual para a pesquisa científica.

Albert Einstein, 1879-1955, cientista
LIBRARY OF CONGRESS/REPRODUÇÃO
Albert Einstein, 1879-1955, cientista

Outros pensam também que é necessário possuir uma memória incrível. Aquele seu colega que tira 10 em Física e Matemática porque conseguiu decorar todas aquelas fórmulas complicadas será o próximo vencedor do Nobel? Não necessariamente.

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É verdade que o começo da carreira de um cientista — ou de um astrônomo, no meu caso — vem com muito estudo. Temos de aprender sobre Mecânica Quântica, Relatividade Geral, Cálculo Diferencial e todas as ferramentas necessárias para o desenvolvimento profissional.

Mas os cursos universitários (pelo menos aqueles com bons professores) não dependem tanto de memória. O objetivo aqui é treinar estudantes a utilizar as ferramentas e resolver problemas através do raciocínio lógico, para prepará-los para o que vem mais tarde.

E o que vem mais tarde é a parte mais divertida. Há alguns ingredientes para se criar um bom cientista que não aparecem no estereótipo: a curiosidade, a criatividade e a perseverança. Nós precisamos de tudo isso todos os dias se quisermos fazer uma ciência de ponta.

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Uma nota boa numa prova de matemática requer uma certa habilidade específica para reproduzir no papel o que foi aprendido nas semanas anteriores. No entanto, esse é um conhecimento já existente, e o professor ou professora sabe a resposta de antemão. A ciência, ao contrário, requer a produção de conhecimento, algo que nunca se soube antes. O importante são as perguntas, não as respostas.

Pense no exemplo de Albert Einstein. Ele conseguiu imaginar um universo diferente, com regras novas. Concebeu uma nova noção de espaço-tempo, reinterpretando resultados experimentais de uma forma inovadora, o que levou à criação da Teoria da Relatividade. Ele era muito inteligente, claro, mas o que sempre me impressionou foi a capacidade de refletir sobre um problema físico e criar algo tão diferente.

Em um exemplo mais recente, Rainer Weiss, Barry Barish e Kip Thorne ganharam o Nobel de Física em 2017 pela detecção de ondas gravitacionais, geradas pela colisão de dois buracos negros. Era um efeito previsto por Einstein desde o início do século XX, mas que nunca tinha sido observado.

Para detectar as ondas, era necessário detectar movimentos no instrumento menores que um milésimo do tamanho do núcleo atômico! Eles levaram quase 40 anos construindo o laboratório perfeito, apesar de muitos dizerem que não seria possível. No final, graças à capacidade de inventar novos instrumentos e o trabalho duro ao longo de décadas para superar os desafios, podemos “escutar” as ondas do universo de uma nova maneira.

No final, a ciência é uma aventura para apaixonados. São aqueles com a curiosidade e a perseverança para estudar o mundo e criar novas interpretações para fenômenos físicos que revolucionam a nossa compreensão do universo todos os dias.

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