Sheila Irvine, paciente que participou dos testes, utilizando o dispositivo para voltar a ler
Reprodução/BBC
Sheila Irvine, paciente que participou dos testes, utilizando o dispositivo para voltar a ler

Um microchip implantado no fundo dos olhos está ajudando pessoas com deficiência visual grave a recuperar parcialmente a visão, segundo um estudo publicado nesta segunda-feira (20) no New England Journal of Medicine.

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A pesquisa envolveu 32 pacientes com atrofia geográfica, uma forma avançada de degeneração da retina dos olhos, relacionada à idade. Após 12 meses do implante, 26 deles apresentaram melhora significativa na capacidade de ver detalhes finos, de acordo com os resultados do estudo.

Novo tratamento

Fotografia do implante PRIMA implantado na retina humana (esquerda) e ampliado para mostrar detalhes (direita)
Science Corporation/AP Business Wire
Fotografia do implante PRIMA implantado na retina humana (esquerda) e ampliado para mostrar detalhes (direita)


O tratamento conduzido pelo estudo consiste na inserção de um minúsculo implante, "mais fino que um fio de cabelo", sob a retina. Os pacientes utilizam óculos especiais equipados com uma câmera de vídeo, que captura imagens e as projeta no implante por meio de luz infravermelha.

O sistema, chamado PRIMA, combina o implante e os óculos, funcionando como uma “retina fotovoltaica artificial”. Foram avaliadas a visão dos participantes com e sem os óculos PRIMA após 6 e 12 meses do implante.

O principal objetivo era ver se houve melhora significativa da visão (pelo menos 0,2 ponto na escala usada pelos médicos) e registrar eventos adversos graves relacionados ao implante ou ao procedimento durante o primeiro ano.

Uma das pacientes, Sheila Irvine, de 70 anos, contou à BBC que foi “incrível” voltar a ler e fazer palavras cruzadas. “É lindo, maravilhoso. Isso me dá um prazer enorme. A tecnologia está avançando tão rápido que é incrível fazer parte disso" , disse.

Apesar dos avanços, o uso do dispositivo ainda exige esforço. Irvine precisa manter o queixo apoiado em um travesseiro para estabilizar a câmera, e o sistema consegue focar apenas em poucas letras por vez. Segundo a BBC, letras como “C” e “O” são difíceis de distinguir sem o modo de ampliação.

Atrofia geográfica

A atrofia geográfica afeta cerca de 5 milhões de pessoas no mundo e é a principal causa de cegueira em idosos. Até recentemente, não havia tratamento capaz de restaurar a capacidade de leitura ou reconhecimento facial, explicou o oftalmologista alemão Frank Holz, autor principal do estudo.

Segundo ele, o progresso até agora era limitado a medicamentos que apenas retardavam o avanço da doença.

Existem dois tipos de degeneração macular: a úmida, causada por vasos sanguíneos anormais sob a retina (com tratamentos já disponíveis há anos), e a seca, mais comum, que afina a mácula e forma pequenos depósitos de proteína na retina.

“Agora, com esse implante de apenas 2 milímetros, conseguimos restaurar parte da visão central de pacientes que já tinham perdido completamente essa área da retina” , afirmou Holz.


Estudo em fase experimental

Apesar do otimismo, especialistas alertam que o estudo ainda é pequeno e experimental. O PRIMA, desenvolvido pela empresa norte-americana Science Corporation, ainda não tem licença de uso comercial e só está disponível em testes clínicos.

Em nota, o fundador e CEO da companhia, Max Hodak, disse que o avanço “reforça o compromisso com tecnologias capazes de transformar vidas” .

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