Ciência brasileira: participação feminina cresce 29% em 20 anos, mas cai conforme avanço na carreira
Agência Brasil
Ciência brasileira: participação feminina cresce 29% em 20 anos, mas cai conforme avanço na carreira

A participação de mulheres como autoras de  publicações científicas no Brasil cresceu 29% nos últimos vinte anos. As informações são do relatório da Elsevier-Bori intitulado "Em direção à equidade de gênero na pesquisa no Brasil", lançado nesta sexta-feira (8).

Segundo o estudo, em 2022, 49% da produção científica brasileira apresentou pelo menos uma mulher entre os autores. Atualmente, o Brasil ocupa a terceira posição entre os países com maior participação feminina na ciência, entre as nações analisadas (18 países mais a União Europeia), ficando atrás apenas da Argentina e de Portugal, que registram, respectivamente, 52% de publicações científicas com autoras mulheres.

De 2018 a 2022, mulheres com até cinco anos de carreira representaram 51% das autorias ou coautorias em publicações científicas, enquanto entre pesquisadores com mais de 21 anos de carreira, essa participação feminina caiu para 36%.

O relatório apresenta um levantamento da quantidade de autores homens e mulheres que contribuíram com publicações científicas entre 2002 e 2022, utilizando a base de dados Scopus.

Disparidades nas áreas de conhecimento
A participação feminina na produção científica nas áreas associadas à Ciência, Tecnologia, Engenharia e Medicina (STEM)  aumentou de 35% em 2002 para 45% em 2022. No entanto, o relatório observa uma desaceleração no ritmo de crescimento da participação de mulheres nessas áreas a partir de 2009-2010, quando comparado com o crescimento total de todas as áreas combinadas.

Persistem disparidades na participação feminina em diferentes áreas do conhecimento. De acordo com os dados do relatório, a participação feminina de 2018 a 2022 ultrapassa os 60% em áreas como Enfermagem (80%), Farmacologia, Toxicologia e Farmacêutica (62%) e Psicologia (61%), enquanto permanece abaixo dos 30% em áreas como Matemática (19%), Ciência da Computação (21%) e Engenharia (24%).

Na Enfermagem e Psicologia, houve uma diminuição de 3,4 e 3,1 pontos percentuais, respectivamente, na presença de autoras mulheres ao longo de uma década, sugerindo um maior equilíbrio entre homens e mulheres na publicação. Por outro lado, as áreas de Economia, Econometria e Finanças, Negócios, Administração e Contabilidade, Ciências Ambientais e Veterinária registraram o maior crescimento no número de autoras mulheres neste período, com aumentos de 9,2 pontos percentuais (economia), 8,0 pontos percentuais (negócios), 6,6 pontos percentuais (ciências ambientais) e 6,0 pontos percentuais (veterinária).

“O tema da equidade de gênero na pesquisa no Brasil é multifatorial, conforme as cientistas avançam em suas carreiras vários desafios se apresentam e muitas vezes não há apoio institucional para lidar com essas demandas. Um deles é a maternidade: as bolsistas mulheres de pós-graduação têm o mesmo tempo que os bolsistas homens para entregarem seus projetos, porém muitas vezes elas assumem vários papéis: são mães, esposas, cientistas, responsáveis pelo lar, etc. Como equilibrar todas essas demandas?”, comenta Fernanda Gusmão, Gerente de Soluções para Pesquisa da América Latina da Elsevier.

“Acredito também que as mulheres não eram incentivadas a almejar cargos mais elevados na ciência, isso não era visto como algo possível. Apenas recentemente essa visão começou a ser modificada”, acrescenta.

“O MEC criou recentemente um grupo de trabalho para realizar estudos técnicos relacionados à Política Nacional de Permanência Materna nas Instituições de Ensino Superior. Acredito que são iniciativas na direção correta”, complementa.

“Nos últimos anos, várias universidades têm criado iniciativas para apoiar e incentivar cientistas mulheres em momentos como a maternidade. Acredito que essas ações irão contribuir para acelerar o alcance da equidade em diferentes áreas do conhecimento”, finaliza.

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