As primeiras imagens feitas pelo telescópio James Webb e divulgadas no dia 12 de julho surpreenderam muitas pessoas, inclusive cientistas, pela nitidez e pelos detalhes encontrados nos registros do espaço.
Por conta disso, pesquisadores que terão a possibilidade de utilizar o novo instrumento espacial da Nasa criaram ainda mais expectativa para a realização das observações. Como é o caso de um grupo coordenado pelo Observatório Nacional, com sede no Rio de Janeiro.
“Todas as indicações que recebemos com as imagens e outras informações divulgadas recentemente pelo James Webb são impressionantes. Agora nós sabemos que o telescópio está funcionando muito melhor do que foi planejado”, ressaltou Roderik Overzier, astrofísico holandês que lidera o projeto do Observatório Nacional.
A equipe do cientista fará as observações em duas janelas disponibilizadas pelo instituto que coordena o telescópio: de janeiro a março de 2023 e entre junho e agosto do mesmo ano. Serão 72 horas de observações no total.
A proposta do grupo consiste em estudar a mais antiga radiogaláxia já identificada, conhecida como TGSS J1530+1049, de 12,5 bilhões de anos. Eles também concentrarão as pesquisas em uma radiogaláxia mais nova, de 10 bilhões de anos.
De acordo com o astrofísico, as radiogaláxias são galáxias, gigantes, ativas e que possuem um buraco negro no centro. Essa região tem como característica a emissão de diversos jatos que emitem comprimentos de onda de rádio.
“Essas radiogaláxias que nós vamos observar com o James Webb podem nos mostrar mais sobre como se formam e crescem esses buracos negros que nasceram na primeira fase do universo. Também estudaremos como esses jatos de emissão de rádio que saem da radiogaláxia interagem com a galáxia que está tentando crescer”, destaca Roderik.
O processo de observação
O grupo de 15 pessoas coordenado pelo cientista holandês recebeu a notícia de que teve a proposta aprovada para utilizar o telescópio espacial aprovada em março de 2021, após mais de 6 meses de análise. Ao todo, cerca de 1.200 projetos demonstraram interesse em usar o James Webb, mas apenas 286 foram aprovados.
Overzier destaca que, logo que se inicia o período de observação, uma equipe que se encontra nos Estados Unidos realiza um primeiro processamento das informações relacionadas à proposta, para só então enviá-las para o Observatório Nacional.
“Lá acontece um primeiro processamento dos dados e depois eles são enviados para nós, para só então iniciarmos o nosso trabalho. Começaremos com um reprocessamento dos dados recebidos, para depois iniciarmos, de fato, as nossas pesquisas”, afirma.
“Na proposta original nós precisamos explicar o que precisa ser feito pelo James Webb. Logo, durante a locação do telescópio ele só executa o que nós planejamos. Então já sabemos mais ou menos o que vamos receber, só não sabemos quais serão as descobertas.”
Ele enfatiza ainda que, por mais que alguns cientistas tenham as datas específicas para fazer as observações, desde o dia 14 de julho todas as pessoas já tiveram o acesso liberado aos dados fornecidos pelo James Webb. Logo, os estudos já começaram a ser realizados.
Expectativas em relação ao James Webb
A comunidade astronômica ao redor do mundo criou, desde o desenvolvimento do James Webb, uma grande expectativa em relação à possível revolução que este instrumento espacial pode realizar no que diz respeito ao conhecimento dos primórdios do universo.
“Essa expectativa é baseada na experiência que tivemos com o telescópio espacial anterior, o Hubble. Ele foi projetado para fazer diversas descobertas, porque há 30 anos tivemos outras perguntas principais sobre as galáxias e buracos negros, por exemplo. Mas as maiores descobertas de Hubble ninguém previu, como a expansão do universo e planetas descobertos em outras estrelas”, enfatiza Roderik.
Segundo o astrofísico, as discussões acerca do que o James Webb vai descobrir ainda são muito filosóficas, uma vez que ele começou a ser utilizado recentemente. Contudo, ele espera que os astrônomos sejam surpreendidos pelas respostas que serão dadas nos próximos anos pelo novo telescópio.
“Eu, particularmente, espero que o Webb mostre que tudo o que nós achamos que sabemos está errado. Esse seria o melhor resultado. Porque se a única coisa que descobriremos for o que já conhecemos, o telescópio talvez não atenda às expectativas colocadas em cima dele.”
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