Nesta semana, a Rede Vírus, iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Invações e Comunicações (MCTIC) criada para enfrentar a ameaça do Covid-19 , divulgou resultados promissores de um remédio que apresentou eficácia de 94% no combate ao novo vírus.
A pesquisa foi divulgada na última quarta-feira (15) pelo ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, que não divulgou o nome do remédio. Alguns órgãos da imprensa apontaram que seria o vermífogo Anitta, o que não foi confirmado pela coordenadora científica do LNBIO/CNPEM, Daniela Trivella.
A pesquisa, que até o momento era realizada no CNPEM, localizado na cidade de Campinas (SP), agora segue para a próxima etapa de testes clínicos. Segundo Daniela é importante manter o sigilo sobre o nome dos medicamentos pesquisados para evitar corrida às farmácias e falta de remédios para quem precisa.
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O avanço com o remédio finalista indica que os pesquisadores estão no caminho correto para encontrar um fármaco que consiga combater o vírus . Por este motivo, a busca por outros candidatos seguem acontecendo: a lista que antes contava com seis posssíveis nomes, já foi expandida para 11 e deve crescer ainda mais, visto que são cerca de 2 mil medicamentos sendo testados.
Entretanto, mesmo com os avanços, é preciso ter calma. Até o momento, os esforços científicos ainda não conseguiram entender o novo coronavírus (Sars-Cov-2) completamente, o que impossibilita a garantia de eficácia dos remédios, mesmo este selecionado para a próxima etapa, apenas em laboratório.
"Nós vamos continuar estudando esse medicamento . A prova principal que temos em laboratório que um composto funciona é ele ser capaz de reduzir a replicação do vírus em cultura de célula. Esse remédio fez isso. Porém, como ele fez isso é uma incógnita ainda, pois ele não tem um mecanismo de ação muito bem estabelecido. Então, nós vamos continuar investigando", afirma Daniela Trivella, coordenadora científica do LNBIO/ CNPEM .
"Segundo ela, esta "falta de informações" sobre o mecanismo de ação acontece até mesmo com remédios que já são largamente utilizados no Brasil, como a Aspirina e a Dipirona. Por este motivo, é tão importante que o processo seja feito com calma e que as pesquisas sigam acontecendo.
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"Temos outra lista de candidatos, que sempre é atualizada de acordo com os nossos resultados. Isso é importante porque não é um medicamento que irá resolver a questão da Covid-19 . Geralmente, vai ser um coquetel, uma combinação para atacar o vírus por todos os lados, garantido assim que ele é eliminado sem gerar resistência", aponta Daniela.
"Outra coisa importante de se ter algumas opções terapêuticas, principalmente para o médico que está à frente nessa batalha, é que nem sempre todos os grupos populacionais vão poder utilizar um mesmo medicamento. Ás vezes, algum grupo não pode usar o medicamento A. Então, se você tem o medicamento B, que se aplica a esse grupo, o médico não fica sem opção", conclui.
Automação, alvos individuais e ajuda do Sirius
Outra novidade diz respeito ao tempo, crucial em momento de pandemia . Agora, os ensaios passaram a ser automatizados, o que deve diminuir o prazo para a confirmação dos resultados: "houve uma padronização para aumentar nosso poder de análise. Então, ao invés de analisar cinco compostos em um mês, iremos analisar um número muito maior no vírus, em laboratório".
Além disso, houve a individualização dos estudos de cada alvo do vírus. Assim, os pesquisadores poderão testar mais moléculas , em um ambiente com nível de segurança menor, e realizar análises estruturais, que determinam a estrutura das proteínas do vírus e do hospedeiro que são relevantes para o ciclo de vida do Covid-19 e caracterizam melhor a interação desses alvos com os fármacos.
"Essa parte é muito importante porque as imagens que temos do vírus são representativas, pelo menos a maioria delas. Para termos uma imagem real, é preciso fazer um experimento chamado microscopia eletrônica, que determina a estrutura dessa partícula do vírus. Assim, conseguimos ver detalhes moleculares e entender como ele se comporta e entra na célula", define a pesquisadora.
Tal procedimento ajuda a entender interfaces específica da proteína, que são importantes na busca por "fechaduras" em que será possível encaixar os medicamentos. Até o momento, os cientistas conhecem cinco ou seis delas e têm focado as buscas com os 2 mil fármacos nestes locais já conhecidos. Entretanto, ainda há muitas a serem descobertas e é neste ponto que a microscopia eletrônica entra, assim como o Projeto Sirius .
"Além da microscopia, que geralmente se aplica em partículas maiores, usamos a cristalografia de proteína, onde são feitos experimentos de difração de Raio-X para formar a imagem em resolução próxima da atômica. Para isso, usa-se a luz síncrotron, como produzida pelo Sirius . Quando o estabilização do acelerador e a estação experimental estiverem disponíveis, vamos fazer esses experimentos", aponta Daniela.
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A expectativa, antes do início da pandemia do Covid-19 era que isso estivesse pronto até o final de abril ou começo do mês de maio. Porém, agora, é possível que aconteçam atrasos. De uma forma ou de outra, o prazo segue sendo o mesmo na cabeça dos pesquisadores: "se for possível, para ontem".