Na noite da última sexta-feira (4), o influenciador e autodeclarado ex-coach Pablo Marçal (PRTB)
compartilhou uma publicação
que associava o concorrente político Guilherme Boulos (PSOL)
com o uso de drogas. Na publicação, o candidato à Prefeitura de São Paulo
anexou um suposto laudo médico
que dizia que o psolista teria procurado ajuda médica por conta do uso de cocaína.
Entretanto, uma série de evidências mostram que o documento apresentado por Marçal trata-se de um prontuário médico falso. Boulos já entrou na Justiça de São Paulo com um pedido de prisão do ex-coach por falsificação de documento.
O que diz o documento?
O suposto laudo compartilhado por Marçal afirma que Boulos teria procurado a clínica Mais Consultas em janeiro de 2021, na unidade localizada no Jabaquara — Zona Sul de São Paulo —, para o tratamento de um surto psicótico.
Boulos teria levado um exame toxicológico que apontava a presença de cocaína no sangue do candidato a prefeito.
Documento falsificado?
O juiz da 2ª Zona Eleitoral de São Paulo, Rodrigo Marzola Colombini, definiu na manhã deste sábado (5) que o laudo é fraudulento e concedeu uma liminar para que os vídeos publicados nas redes sociais do ex-coach que citassem o tal laudo, fossem apagados.
Na decisão, Coluombini afirma: "Há plausibilidade nas alegações [dos autores da representação], envolvendo não apenas a falsidade do documento, a proximidade do dono da clínica em que gerado o documento com o requerido Pablo Marçal, documento médico assinado por profissional já falecido e a data em que divulgados tais fatos, justamente na antevéspera do feito".
Alguns pontos do documento apresentado podem ser ressaltados para classificá-lo como falso. Veja os pontos:
- Erro de documentação: O RG de Guilherme Boulos que está no suposto laudo possui um número a mais;
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Médico:
Quem assina o suposto prontuário é o médico José Roberto de Souza. No entanto, o profissional já morreu e não possui especialidade cadastrada no site do Conselho Federal de Medicina;
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Proximidade com Marçal:
A clínica Mais Consultas
, que teria sido a responsável por emitir o laudo médico, possui como sócio Luiz Teixeira da Silva Junior. Entretanto, ele possui vídeo com Marçal e já foi condenado por falsificar diploma de curso de medicina e ata de colação de grau;
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Álibi:
Na data apontada como o dia da consulta com o suposto médico — 19 de janeiro de 2021 — Boulos fez uma transmissão ao vivo nas redes sociais no fim da manhã, em que comentava sobre a importância das vacinas. No dia 20, ele participou de uma ação do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) na favela do Vietnã. A informação foi confirmada pelo vereador Emerson Vitalino (PC do B), de Osasco, que estava com o candidato na ocasião;
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Laudo pronto no Google:
No Google Imagens, ao digital os termos "toxicológico cocaína" e "laudo cocaína", um dos primeiros resultados é uma foto de um exame positivo, com os valores de concentração no sangue destacados. Os valores são os mesmo vistos no laudo compartilhado pelo ex-coach.
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Identidade visual do documento inconsistente:
Ao analisar o documento, é possível identificar que o nome e a logo da clínica possuem diferenças. No suposto laudo, a logo é uma cruz simples, formada por duas linhas de cores semelhantes, Entretanto, em imagens do Google Street View da unidade do Jabaquara em dezembro de 2016, a clínica utilizava uma cruz formada por cinco quadrados interligados. Além disso, o nome da clínica aparace como "Mais Consulta
", enquanto o nome real é "Mais Consultas
", no plural. O nome e a logo do documento, no entanto, são os mesmo utilizados por uma clínica em Manaus.
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Ex-funcionária
: Uma ex-funcionário do médico responsável por assinar o laudo afirmou ao jornal O Globo
que não reconhece a assinatura do documento.