O laboratório Patologia Clínica Doutor Saleme (PCS-Saleme), responsável pelos exames sorológicos em doadores de órgãos contaminados com HIV, foi interditado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nesta quinta-feira (10), de acordo com informações da Prefeitura de Nova Iguaçu.
Segundo informações do g1, o local tem como um de seus sócios Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, primo do ex-secretário de Saúde do Rio de Janeiro, Doutor Luizinho.
Embora tenha deixado a secretaria, fontes do governo afirmam que o ex-secretário ainda mantinha influência sobre a pasta. Além disso, sua irmã trabalha na Fundação Saúde, entidade que assinou o contrato com o PCS-Saleme. Em campanhas anteriores, Matheus chegou a apoiar o primo, Doutor Luizinho, nas redes sociais.
Atualmente deputado federal e líder do PP na Câmara, Doutor Luizinho ocupava o cargo de Secretário da Saúde durante o processo de contratação do laboratório.
Em nota, Luizinho se manifestou sobre o caso:
"Conheço o Laboratório Saleme há mais de 30 anos, dirigido pelo Dr. Montano e, posteriormente, pelo seu filho, Dr. Valter Vieira, casado com minha tia Ana Paula. Lamento veementemente o ocorrido, desejando, ao fim das investigações, punição exemplar para os responsáveis por esses gravíssimos casos de contaminação."
Ele também ressaltou que, durante seu mandato, não teve envolvimento com a contratação do laboratório:
"Enquanto Secretário de Estado de Saúde, mantive a mesma equipe do Programa Estadual de Transplantes da gestão anterior e jamais participei da contratação deste ou de qualquer outro laboratório."
Descoberta "sem precedentes"
A PCS-Saleme foi interditada após um escândalo de seis pessoas que estavam na fila de transplante da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) receberem órgãos contaminados com HIV.
O caso, inédito na história no serviço de transplantes do Brasil, foi divulgado pela BandNews FM nesta sexta-feira (11) e confirmado pela SES-RJ, que classificou o caso com "inadmissível".
“Esta é uma situação sem precedentes. O serviço de transplantes no Estado do Rio de Janeiro sempre realizou um trabalho de excelência e, desde 2006, salvou as vidas de mais de 16 mil pessoas”, declarou a SES-RJ.
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O PCS Lab Saleme, localizado na Travessa Quaresma, nas proximidades do Calçadão de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, é conhecido por realizar exames há mais de 50 anos.
A Secretaria Municipal de Saúde de Nova Iguaçu (Semus) informou que o contrato com o laboratório havia sido encerrado em fevereiro deste ano e transferido para organizações sociais (OS) responsáveis pela rede de atenção básica do município. No entanto, com a notificação da Anvisa sobre a interdição, o contrato entre a OS e o PCS foi encerrado imediatamente.
O caso está sendo investigado pela Coordenadoria Estadual de Transplantes, pela Vigilância Sanitária Estadual e pela Delegacia do Consumidor (Decon) da Polícia Civil. A Anvisa também identificou que o laboratório não possuía kits para exames de sangue nem comprovantes de compra desses materiais, levantando suspeitas de que os testes não foram realizados corretamente e que os resultados podem ter sido forjados.
Segundo o governo do estado, o erro partiu do PCS Lab Saleme, contratado emergencialmente em dezembro do ano passado, por R$ 11 milhões, para realizar os exames de sorologia dos órgãos doados. Após a denúncia, a Coordenadoria Estadual de Transplantes e a Vigilância Sanitária Estadual interditaram o laboratório, e o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) também abriu uma sindicância.
A descoberta do incidente ocorreu no dia 10 de setembro, quando um paciente, que havia recebido um coração, apresentou sintomas neurológicos e testou positivo para HIV. Até o transplante, ele não era portador do vírus.
Após a confirmação, a SES-RJ realizou uma revisão completa do processo e identificou outros erros nos exames realizados pelo PCS. Outros pacientes que receberam órgãos — como rins, fígado e córnea — também foram afetados. Dos seis receptores, cinco testaram positivo para HIV.
A única exceção foi a pessoa que recebeu uma córnea, que, por ser menos vascularizada, não contraiu o vírus.
Medidas adotadas
Diante da gravidade do caso, a Secretaria Estadual de Saúde transferiu todos os exames de sorologia para o Hemorio, uma unidade de saúde estadual, que agora será responsável por testar o material de todos os doadores.
“A partir do dia 13 de setembro, toda a doação é passada direto das doações para o Hemorio”, disse a secretária estadual de Saúde, Cláudia Mello. O departamento vai retestar o material armazenado de 286 doadores.
Confira a nova completa da SES-RJ
“A Secretaria de Estado de Saúde (SES) considera o caso inadmissível. Uma comissão multidisciplinar foi criada para acolher os pacientes afetados e, imediatamente, foram tomadas medidas para garantir a segurança dos transplantados.
O laboratório privado, contratado por licitação pela Fundação Saúde para atender o programa de transplantes, teve o serviço suspenso logo após a ciência do caso e foi interditado cautelarmente. Com isso, os exames passaram a ser realizados pelo Hemorio.
A Secretaria está realizando um rastreio com a reavaliação de todas as amostras de sangue armazenadas dos doadores, a partir de dezembro de 2023, data da contratação do laboratório.
Uma sindicância foi instaurada para identificar e punir os responsáveis. Por necessidade de preservação das identidades dos doadores e transplantados, bem como do encaminhamento da sindicância, não serão divulgados detalhes das circunstâncias.
Esta é uma situação sem precedentes. O serviço de transplantes no Estado do Rio de Janeiro sempre realizou um trabalho de excelência e, desde 2006, salvou as vidas de mais de 16 mil pessoas.”
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