
Arqueólogos e historiadores que participam da escavação no estacionamento da Pupileira , no bairro de Nazaré, em Salvador, capital baiana , confirmaram, nesta segunda-feira (26), que ossos e dentes humanos foram encontrados no local durante escavação.
No passado, aquela área funcionou como cemitério de escravizados e de outras pessoas que viviam à margem da sociedade de Salvador .
O grupo, que participa do projeto intitulado “ Levantamento Arqueológico na Área do Antigo Cemitério do Campo da Pólvora ", estima que, até 1844, ano em que as atividades do cemitério foram encerradas, cerca de 100 mil pessoas tenham sido enterradas no local.
Se confirmada essa estimativa, este poderá ser o maior cemitério de escravizados da América Latina já descoberto.
Estas informações foram divulgadas durante uma coletiva de imprensa, da qual participaram as promotoras de Justiça Lívia Vaz e Cristina Seixas, do Ministério Público da Bahia (MP-BA ); a pesquisadora, arquiteta e urbanista Silvana Olivieri; a arqueóloga Jeanne Dias; o jurista Samuel Vida; além de representantes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Primeiros vestígios
Segundo eles, os primeiros vestígios foram encontrados no dia 19 de maio, cinco dias após o início da pesquisa de campo. Os trabalhos começaram no dia 14, data que marcou 190 anos da execução dos líderes da Revolta dos Malês . Eles também podem estar enterrados neste sítio arqueológico.
No local, foram encontrados vestígios de ossos longos e dentes humanos que estavam a pouco mais de dois metros e meio de profundidade, provavelmente, de indivíduos diferentes.
Parte do material foi retirada em peneiras e enviada para pesquisa em laboratório e o resto foi preservado.
Os pesquisadores destacaram a acidez acentuada e a umidade do solo do sítio arqueológico .
O grupo afirmou ainda que decidiu não divulgar imagens dos vestígios, em respeito à memória das pessoas que ali foram enterradas.

Nos primeiros dias de trabalho, eles divulgaram apenas imagens de pequenos fragmentos de objetos e porcelanas localizados na área escavada, que equivale a três vagas do estacionamento.
História de Salvador
De acordo com as pesquisas de Silvana Olivieri, o cemitério, criado no século 18, funcionou por aproximadamente 150 anos, e era administrado inicialmente pela Câmara Municipal e depois pela Santa Casa de Misericórdia da Bahia.
O local teria sido fechado em 1844 e sumiu na paisagem urbana de Salvador.
Foi ela que, utilizando mapas e plantas de Salvador, do século 18 , conseguiu chegar até a localização do cemitério.
Um dos objetivos do grupo é trazer à tona parte da história de Salvador, sobretudo no que diz respeito à escravidão.
Os próximos passos do projeto ainda serão decididos em negociação entre a Santa Casa de Salvador, que é detentora do espaço, Ministério Público e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) .