José Marcos Moura, conhecido como “Rei do Lixo”, tinha contratos milionários com prefeituras
Reprodução/redes sociais
José Marcos Moura, conhecido como “Rei do Lixo”, tinha contratos milionários com prefeituras


O empresário José Marcos Moura , conhecido como “Rei do Lixo” na Bahia , é, para a Polícia Federal , peça-chave de uma organização criminosa que teria desviado 1,4 bilhão de reais em recursos de emendas parlamentares por meio de contratos fraudulentos entre o Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs) e prefeituras administradas por filiados ao União Brasil .

Ele foi preso no último dia 10 pela PF na Operação Overclean , e está detido no Centro de Observação Penal de Salvador . Segundo as investigações, o esquema operava em 17 estados e em dezenas de municípios, sempre em locais em que o União Brasil tinha influência. A constatação foi feita a partir da análise dos documentos apreendidos no avião de Moura, interceptado em Brasília com R$ 1,5 milhão em dinheiro.

Além dele, outras quinze pessoas foram detidas, acusadas de participação no esquema. Moura é ligado ao primeiro vice-presidente nacional do União Brasil, ACM Neto. 

Possível delação

O “Rei do Lixo” foi convocado a prestar depoimento na terça-feira (17) mas preferiu ficar em silêncio. Um eventual acordo de colaboração premiada não é descartado pelos investigadores. Dependendo do que relatar, Moura poderá causar sérios danos políticos às principais lideranças do partido.

Suas empresas, que atuam no ramo de limpeza urbana, têm contratos bilionários com a prefeitura de Salvador desde a gestão de Neto (2013-2020), herdados pelo atual gestor e afilhado político Bruno Reis (União Brasil). Além dos contratos públicos, Moura é sócio de Renata Magalhães, irmã de ACM Neto, na propriedade de um jatinho particular.

Atuação em 17 estados

Além da Bahia, Moura atua em estados como Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Tocantins, Mato Grosso, Pernambuco e Amapá. Em todos esses locais o União ou é o partido do governador e do prefeito ou administra alguma secretaria.

Essas informações estão em um relatório de 50 páginas sob a análise dos investigadores. Ao lado de cada bloco de estados e municípios há colunas com nomes, valores, contratos e empresas prestadoras de serviço, em um aparente organograma do esquema administrado por Moura.

De acordo com a investigação, o dinheiro arrecadado nos contratos com o setor público seria lavado por meio de empresas de fachada. A PF estima que o grupo tenha movimentado R$ 1,4 bilhão nos últimos quatro anos, dos quais R$ 800 milhões apenas em contratos firmados em 2024.

A PF já sabe que, além da coleta de lixo, suas empresas e as de fachada também entraram em licitações para obras, dedetização e fornecimento de material escolar.

Sinal de alerta no Planalto e na cúpula do União Brasil

O Palácio do Planalto e a cúpula do União Brasil acompanham com atenção os desdobramentos da Operação Overclean. A principal preocupação é com o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) , único candidato à presidência do Senado, que está na mira da PF pela operação, e aparece mencionado no inquérito.

Sua chefe de gabinete, Ana Paula Magalhães, aparece em mensagens trocadas com os investigados ajudando a liberar uma emenda que destinaria R$ 14 milhões para uma licitação em Juazeiro (BA).


Ela, inclusive, está entre as testemunhas que devem ser ouvidas pela PF. Alcolumbre diz confiar na chefe de gabinete, e que a funcionária fala diariamente "com mais de mil pessoas" por causa da sua função de trabalho. O senador, até o momento, não é investigado no caso.

Moura ingressou formalmente na cúpula do União em junho de 2023 por indicação de ACM Neto, após a eleição de Rueda para o comando do partido em uma guerra travada com o antigo cacique do partido, deputado Luciano Bivar (PE). O empresário, segundo relatos, se aproximou do dirigente partidário, com quem passou a conviver nas sedes da sigla, em festas e celebrações entre amigos.

** Formado em jornalismo pela UFF, em quatro anos de experiência já escreveu sobre aplicativos, política, setor ferroviário, economia, educação, animais, esportes e saúde. Repórter de Último Segundo no iG.

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