O julgamento de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, assassinos confessos de Marielle Franco e Anderson Gomes, continua nesta quinta-feira (31), no 4º Tribunal do Júri da Justiça do Rio de Janeiro. Durante a audiência, promotores do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) entregaram aos 7 jurados um kit com 207 páginas com fotos sensíveis do crime.
Segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro, a intenção era mostrar, sem expor as vítimas, as imagens do local do crime e dos corpos da vereadora e do motorista antes de serem levados para o Instituto Médico Legal (IML).
"O objetivo é levar ao conhecimento dos jurados as provas existentes no processo e mostrar que a condenação não é só com base na confissão”, disse o promotor de Justiça Eduardo Morais, que decidiu não expor as imagens dos corpos no plenário. “Não estamos aqui para expor ainda mais as vítimas”, destacou.
Ao longo da sustentação oral do Ministério Público, o promotor Fábio Vieira traçou o perfil dos jurados: todos são homens, de meia-idade e de pele clara. As defesas dos réus recusaram todas as mulheres sorteadas para o júri, uma prerrogativa absolutamente prevista dentro das normas do Tribunal do Júri brasileiro.
"Eu achei muito interessante a composição do júri. A maior parte, pessoa de meia-idade, pessoas de pele clara, as mulheres que foram sorteadas, foram dispensadas. (...) Qualquer pessoa, independente de raça, independe de religião, independente de partido, vai sentar aí, vai ver esse processo e vai chegar à mesma conclusão. É importante, também, mostrar para o povo que eu não preciso escolher pessoas para analisar essa causa", afirmou o promotor.
MPRJ pede condenação de Lessa e Queiroz
Na sustentação do MP, o promotor Eduardo Martins pediu a condenação da dupla em todos os quesitos, afirmando que Lessa e Queiroz só delataram porque sabiam que seriam descobertos e porque queriam trocar a delação premiada pela redução das penas.
O promotor aproveitou para criticar a postura de Lessa, que pediu perdão à família de Marielle pelo assassinato da parlamentar durante o primeiro dia do julgamento.
"Que arrependimento é esse com algo em troca? Vocês já pediram arrependimento a alguém e disseram: 'quero seu perdão se me der alguma coisa em troca'? Porque foi isso que eles fizeram. Eles são réus colaboradores. Eles não vieram e se arrependeram. Eles vieram ao Ministério Público e pediram algo em troca para falar o que falaram", disse o promotor.
A acusação afirmou que os réus negavam completamente o crime até a delação premiada.
"Até ontem, até outro dia, os dois estavam aqui negando todas as imputações. Negando. 'Eu não estava no carro'. 'Não era eu'. 'Não fui eu'. 'Eu não tenho motivo para matar'. 'Eu não conheço essas pessoas'. 'Eu nunca ouvi falar de Marielle'. 'Nunca ouvi falar de Anderson'. Então quer arrependimento é esse?", destacou.
O promotor ainda destacou que, após a condenação, os ex-PMs deverão que cumprir parte da pena em regime fechado.
"O Ministério Público fez um acordo e eles vão cumprir 30 anos de pena. Eles vão cumprir toda a pena máxima da legislação. A única diferença é que eles terão algumas progressões. Mas, é bastante tempo que eles ficarão no regime fechado. esse é um dos acordos mais rígidos do Brasil".
Martins apresentou slides sobre a investigação, como a recuperação do histórico de busca no Google feita por Ronnie antes do crime. Nessa hora, Luyara, filha de Marielle, deixou o plenário.
Relembre o crime
Marielle e Anderson foram mortos em um ataque a tiros realizado em 14 de março de 2018. Ao sair de um evento na Casa das Pretas, espaço coletivo de mulheres negras na Lapa, na Centro do Rio, Marielle embarcou em um carro dirigido por Anderson, ao lado da assessora Fernanda Chaves.
O veículo foi emparelhado por um Cobalt prata, dirigido por Élcio de Queiroz, e foi atingido por diversos disparos de uma submetralhadora HK MP5, manuseada por Ronnie Lessa, que havia monitorado Marielle dias antes do crime. A parlamentar e o motorista foram atingidos e morreram no local.
Eles respondem por homicídio triplamente qualificado e tentativa de assassinato da assessora Fernanda Chaves, que sobreviveu. O Ministério Público busca a pena máxima de até 84 anos, e ambos estão presos desde março de 2019.