A 'Liga da Justiça' é uma das maiores milícias da zona oeste do Rio
Reprodução: Flipar
A 'Liga da Justiça' é uma das maiores milícias da zona oeste do Rio


A violência no Rio de Janeiro chama a atenção por ir muito além do tráfico de drogas e assaltos. As milícias, grupos paramilitares que envolvem muitos ex-policiais envolvidos com o crime, também são responsáveis por um número incontável de delitos e mortes na região. 

O grupo conhecido como “Liga da Justiça”, uma das maiores milícias do Rio de Janeiro se consolidou à base de corrupção e violência, e um de seus membros, identificado como “Mister M”, que foi condenado a 18 anos de prisão e já está em liberdade, relatou em entrevista concedida à repórter Bruna Fantti da Folha de São Paulo, sob condição de anonimato que durante seus anos de “trabalho” na milícia nunca matou ninguém, e só se arrepende de “não ter ficado mais rico”. 

O grupo que se utiliza do nome da famosa equipe de super heróis da DC se formou por volta dos anos 2000, no bairro de Campo Grande, zona oeste do Rio de Janeiro, e cresceu muito rapidamente, tornando-se a maior milícia da cidade em pouco tempo. 


Mister M diz que os planos de criação da milícia em Campo Grande começaram em uma visita à comunidade Rio das Pedras, onde ex-policiais que criaram a Liga da Justiça fizeram uma espécie de “estágio”, para aprender como os criminosos locais faturavam altas quantias de dinheiro com a prestação de serviços de transporte com vans. 

O grupo pediu armas emprestadas a milicianos de Rio das Pedras, prometendo dividir os lucros com eles. "Chegamos nos donos das vans e falamos: 'agora, tudo é nosso'. Uma linha de van transporta de 700 a 900 passageiros por dia. Era um lucro milionário", conta Mister M.

"Tinha o Batman, o Mão Leve, o Sem Alma. Eles eram justiceiros. Os moradores gostavam deles porque impediam que traficantes ficassem nas ruas, impediam roubos", disse o ex-miliciano. 

Dentre os membros da “Liga da Justiça”, o mais conhecido era o ex-policial militar Ricardo da Cruz Teixeira, conhecido como Batman, expulso da polícia em 1992. Ele fugiu do presídio de Bangu pela porta da frente no ano de 2008, por meio do pagamento de propina a agentes penitenciários. 

Fora da prisão, o “Batman” publicou vídeos se colocando como chefe da milícia e negando os assassinatos que lhe foram imputados. Ele acabou recapturado e foi condenado a 16 anos de prisão em março deste ano de 2023. “Mister M” fazia parte da logística da “Liga da Justiça”, motivo pelo qual foi condenado a 10 anos de prisão.

Com o tempo, comerciantes também passaram a ser cobrados por “taxas para segurança”. Segundo o Mister M, quando o bando descobria algum morador tinha ligado para o Disque Denúncia, por meio de um infiltrado no serviço de denúncias anônimas, a pessoa desaparecia.

"De repente, você via morador sumir. Falavam: 'cadê fulano? Ele não era envolvido com nada'. Realmente, não era. Mas a gente tinha um cara que recebia R$ 50 mil por semana no Disque Denúncia. Ele trazia as ligações gravadas, que não dava para rastrear. A gente escutava a voz e reconhecia quem fazia a denúncia. Ele sumia", disse, rindo.

"O Disque Denúncia mantém a preocupação em atender com qualidade a população fluminense, em vez de dar voz para um 'ex-criminoso', com acusações sem qualquer prova", declarou o serviço de denúncias.

A violência não era exclusivamente contra os moradores que se negavam a “contribuir” com a milícia. Jornalistas que investigaram a “Liga da Justiça” também foram ameaçados e torturados.

Um exemplo memorável foi a captura de uma equipe do jornal O Dia, na favela do Batan, em 2008. O fato levou à criação da CPI das Milícias na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio).

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