Ondas de calor como a que atingiu diversos estados brasileiros nas últimas semanas tendem a ser cada vez mais frequentes com o avanço do aquecimento global e das mudanças climáticas. No Centro-Oeste e Sudeste, capitais chegaram a bater 42ºC e muitas delas registraram temperatura recorde, como São Paulo.
O calor extremo também acende o alerta para outras questões, como os riscos à saúde e um maior gasto de energia elétrica, especialmente em áreas urbanas, que devem se adaptar para lidar com esse aumento nas temperaturas.
Paula Katakura, Coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo do Instituto Mauá de Tecnologia, explica que o calor em si não representa um problema para a infraestrutura das cidades, mas sim as mudanças que decorrem deste contexto extremo.
"Ventos muito acima das médias normais e chuvas mais intensas têm impacto enorme sobre a cidade, que vão de deslizamentos a inundações e desabamentos. Com o calor intensificado existe também maior gasto de energia e uso de equipamentos de ventilação e resfriamento e que têm impacto sobre a economia e também sobre a produção energética e sua distribuição nas cidades", afirma.
No início do mês, cerca de 1,4 milhão de moradias chegaram a ficar dias sem luz na capital paulista após fortes chuvas atingirem a cidade. De acordo com a Aneel, em todo o estado de São Paulo, o número de pessoas que ficaram sem luz foi de 3,7 milhões durante o fim de semana.
"Existe um efeito cascata, a energia elétrica
tem impacto sobre o fornecimento de água, sobre outras redes como telefonia e internet e outros serviços urbanos essenciais", diz a especialista.
De acordo com ela, para lidar com o aumento das temperaturas, as cidades precisam reter a água nas superfícies por mais tempo. Entre as mudanças necessárias estão:
- Ampliar o uso de pisos drenantes;
- Ampliar os jardins de chuva em trechos de vias e calçadas, o que contribui para amenizar os impactos das altas temperaturas;
- Implementar mais vegetação, pois são importantes elementos de sombreamento.
Além desses pontos, a quantidade de edifícios presentes em grandes cidades também favorece a elevação da temperatura do ar. Segundo Paula Katakura, o problema não é a altura dos prédios em si, mas a aglomeração deles, já que isso acaba impactado o meio ambiente.
A escolha dos materiais para a construção de um edifício é outra questão que deve ser levada em consideração, já que eles também impactam na sensação de aquecimento, como no caso de prédios com a fachada espelhada.
De acordo com a arquiteta, além de esse material apresentar "alto consumo de energia, causa muito desconforto aos pedestres e aquece o ambiente urbano, criando as ilhas de calor".
Nesse caso, a especialista chama a atenção para a importância das áreas verdes dentro das cidades.
"É fundamental que existam praças, parques e muito verde nas cidades, porque elas ajudam a amenizar a temperatura e reduzem a formação das ilhas de calor. Essas áreas sombreadas e permeáveis precisam ser ampliadas para que haja um equilíbrio entre construções e espaços verdes urbanos", pontua.
Além de fazer um melhor planejamento das cidades, a especialista destaca a necessidade da criação de políticas públicas "para não ficarmos apenas tentando solucionar problemas já consolidados".
"Nossas cidades foram organizadas a partir de vias e circulações baseadas no uso intenso do automóvel, sem a preocupação de que em algum momento os recursos naturais de energia como petróleo e carvão poderiam deixar de existir", explica.
Hoje em dia, de acordo com ela, já é possível "simular gastos energéticos, emissão de CO2, verificar as melhores posições das edificações para melhor insolação, ventilação e redução do gasto energético, assim como simular adensamentos e formas de ocupação da cidade para encontrar soluções mais inteligentes".