Os focos de incêndio recorde que atingiram a região do Pantanal nas últimas semanas foram apagados pelas chuvas, indicam os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgados nessa segunda-feira (20).
A situação, porém, alerta para a falta de prevenção, que culminou no recorde histórico de focos de incêndio para o mês de novembro, com 3.957 focos acumulados, ultrapassando em cinco vezes a média histórica dos últimos 25 anos. A média para o período, anteriormente mantida desde 1998, era de 441 focos de incêndio em novembro.
Segundo Angelo Ribeiro, presidente do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), fundado em 2002, "as mudanças climáticas estão causando essa alteração e nós estamos sofrendo as repercussões desse extremo". As áreas mais prejudicadas foram o Parque Nacional do Pantanal e o Parque Estadual Encontro das Águas, reconhecido como o maior refúgio de onças-pintadas do mundo.
"Além da condição climática, temos que pensar que a prevenção é o principal recurso que temos para combater o fogo", afirma Ribeiro. "O que estamos vendo agora é um resultado que indica que houve falha nessa prevenção. Os incêndios precisam ser identificados e combatidos quando ainda estão menores, o que não ocorreu em muitas partes".
A maior parte da área queimada neste mês corresponde ao estado de Mato Grosso, cuja situação foi agravada pelo período de seca na região, que demorou a receber chuvas e bateu "sensação térmica de mais de 45 graus". De acordo com Ribeiro, o Instituto atua na prevenção desde 2021.
"Com o sistema Pantera, detectamos um sinal de fumaça 3 minutos após ele ser registrado, o que faz ganharmos no tempo para organizar o combate e tentar acionar logística enquanto ainda é possível apagar o fogo". Neste ano, contudo, a intensidade do fogo, os ciclos necessários para o bioma, de água e vazante, e a recuada do rio Paraguai intensificaram os danos.
"Em 2020 tivemos uma tragédia", lembra Ribeiro. "Os estudos mostraram que mais de 17 milhões de vertebrados foram vitimados com o fogo de 2020". Desde 2020, quando um desastre climático assolou o Pantanal, o IHP atua em um trabalho de brigada permanente.
"Passamos a atuar na recuperação de áreas degradadas na Serra do Amolar e com apoio do Funbio plantamos 25 mil mudas e estamos fazendo acompanhamento para que elas cresçam", afirma.
"No monitoramento que estamos fazendo com armadilhas fotográficas, já identificamos que várias espécies voltaram a circular na área que está sendo recuperada. Um sinal muito positivo". Ribeiro alerta que a prevenção, em conjunto com a tecnologia e a presença humana – considerando que algumas áreas só podem ser acessadas por barco ou avião –, deve ser priorizada imediatamente. "É muito necessário estabelecer o padrão do diálogo entre instituições, governos, agir preventivamente".