Nesta segunda-feira (13), foi revelado pelo jornal O Estado de S.Paulo que assessores do Ministério da Justiça e Segurança Pública, pasta gerida por Flávio Dino, se reuniram com Luciane Barbosa Farias, esposa do integrante do Comando Vermelho "Tio Patinhas" e conhecida como "dama do tráfico amazonense" . Ela era o braço financeiro do CV do Amazonas, tendo um salão de beleza para fazer a lavagem de dinheiro. Farias também teria se encontrado com outros aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Os nomes destacados são os deputados federais Guilherme Boulos (PSOL-SP) e André Janones (Avante-MG). Os encontros teriam acontecido em maio e março deste ano. Vale ressaltar que o PT vai deixar de lançar um nome para concorrer à Prefeitura de São Paulo para poder apoiar Boulos na campanha. Já sobre Janones, o deputado foi um dos integrantes da tropa de choque do PT nas eleições presidenciais de 2022.
Nas redes sociais, Janones disse que atende a todos que chegam para falar com ele. No dia em que teria tirado foto com Luciane, foram ao seu gabinete "diversas mulheres que se apresentaram como representantes de associações civis em defesa dos direitos humanos, bem como duas mães que tiveram os filhos vítimas de crimes e aguardam por Justiça”.
Janones ainda provoca os adversários políticos dizendo: "Eu vou ficar muito feliz de dar a oportunidade de qualquer um que force que exista uma relação minha com crime de provar na justiça, sejam corajosos".
Eu vou ficar muito feliz de dar a oportunidade de qualquer um que force que exista uma relação minha com crime de provar na justiça, sejam corajosos 💪
— André Janones (@AndreJanonesAdv) November 13, 2023
Boulos também se pronunciou sobre o assunto. Seguindo em uma linha parecida com a publicação de Janones, o pré-candidato a prefeito de São Paulo disse que ele teria sido abordado por Luciane no Salão Verde da Câmara junto a outras mulheres que se diziam representantes do Instituto Liberdade do Amazonas.
Boulos também faz uma provocação contra os adversários políticos: "Aliás, quem deve explicações sobre relação com criminosos são os bolsonaristas: contratam milicianos em seus gabinetes, homenageiam milicianos e tem caminhões e aviões oficiais apreendidos com drogas.”
A direita bolsonarista vive de fake news e hoje aposta em mais uma. Vamos aos fatos. Em maio deste ano, fui abordado no Salão Verde da Câmara – uma área pública por onde circulam pessoas autorizadas pela polícia legislativa - por mulheres, que se apresentaram como representantes…
— Guilherme Boulos (@GuilhermeBoulos) November 13, 2023
Fotos com parlamentares
A 'dama do tráfico amazonense' registrou os encontros e publicou nas redes sociais. Dentre os nomes com quem Luciane teria tido interações estão o secretário de assuntos legislativos do Ministério da Justiça, Elias Vaz, e a coordenadora da chefia de gabinete da Secretaria Nacional de Promoção e Defesa de Direitos Humanos, Erica Meireles.
Além disso, há vídeos de Luciane andando pelos corredores do Congresso Nacional, na ala dos gabinetes e nas proximidades do plenário. Na publicação, Luciane escreve: "A associação Instituto Liberdade do Amazonas vem levando os pleitos do Sistema Prisional do Estado do Amazonas as reivindicações de seus associados familiares de pessoas custodiadas" — organização que Boulos e Janones citaram.
A amazonense também já foi vista com a advogada Camila Guimarães de Lima e a ex-deputada estadual Janira Rocha (PSOL-RJ), que foi condenada pelo crime de "rachadinha" em 2021, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). A ONG ILA teve participação de Janira em sua criação.
'Dama do tráfico amazonense'
Luciane é casada com Clemilson dos Santos Farias, o "Tio Patinhas", há 11 anos. Em 2012, ela abriu um salão de beleza. A polícia identificou que o estabelecimento era uma fachada para um esquema de lavagem de dinheiro do tráfico de drogas.
As investigações teriam iniciado após incongruências na declaração do Imposto de Renda de Luciane. Apenas em um ano, o patrimônio dela teria saltado 1.053%, saindo de R$ 30 mil em dezembro de 2015 para R$ 346 mil no ano seguinte. Ela seria o "braço financeiro" do esquema, segundo as investigações.
Ela foi condenada por lavagem de dinheiro, associação para o tráfico e organização criminosa em segunda instância. Entretanto, ela segue aguardando recurso em liberdade.
Na sentença de uma das apelações no Tribunal de Justiça do Amazonas: "Tudo a evidenciar, de forma reluzente, que os apelados não possuem uma vida habitual e lícita, e sim um propósito de acobertar os lucros sórdidos advindos do submundo do crime. Assim sendo, diante do conjunto de operações efetuadas, conclui-se que os denunciados Clemilson dos Santos Farias e Luciane Barbosa Farias agiram em conluio para ocultar ou dissimular a ilegalidade do dinheiro proveniente do tráfico de drogas”.