Um tiroteio ocorrido na manhã de segunda-feira (23/10) na Escola Estadual Sapopemba, localizada na Zona Leste de São Paulo, deixou uma estudante morta e outros três alunos feridos.
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Um tiroteio ocorrido na manhã de segunda-feira (23/10) na Escola Estadual Sapopemba, localizada na Zona Leste de São Paulo, deixou uma estudante morta e outros três alunos feridos.

O ataque à Escola Estadual de Sapopemba, na Zona Leste de São Paulo (SP), na segunda-feira (23) , foi o nono caso de violência em escolas registrado em 2023, ano que contabiliza nove vítimas dessa natureza.

Um levantamento do Instituto Sou da Paz mostra que houve 26 casos desse tipo desde 2002. Dos 22 anos analisados, em 12 não foi registrado nenhum ataque, mas a situação muda a partir de 2019. Só nos últimos 4 anos foram 20 ataques, a maioria deles em 2023.

Ao todo, foram sete ataques em escolas nos primeiros seis meses deste ano e mais dois neste mês de outubro - em Poços de Caldas (MG), no dia 10, e agora em Sapopemba. Ainda segundo os dados dos Sou da Paz, em geral, os crimes são cometidos por homens, adolescentes ou adultos.

Os autores normalmente são alunos ou ex-alunos das escolas. Desde 2002, 49 pessoas morreram nesse tipo de ataque e muitas ficaram feridas. 


A escola como retrato da sociedade

A cada novo ataque, a discussão sobre a violência no ambiente escolar e as fragilidades na segurança dos alunos recomeça. De acordo com a Constituição Federal de 1988 e com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a educação é responsabilidade do Estado, da sociedade e das famílias e a escola deveria ser um lugar seguro, onde os conflitos são tratados de forma pedagógica. 

Vitor Blotta, do Núcleo de Estudos da Violência (NEV-USP), pontua que a escola nunca esteve separada da violência social e, desde a sua fundação, ela é um reflexo da sociedade e das suas exclusões, como por exemplo, o fato de meninas e pessoas pretas demorarem para entrar nesses espaços. 

O pesquisador analisa que a escola passou a receber muitas responsabilidades que a sociedade não estava conseguindo entregar para os estudantes e como o ambiente escolar faz parte da rotina dos jovens.

“Cada vez mais as escolas estão inseridas em relações de cuidado com os estudantes e com as famílias. Os alunos passam mais tempo nas escolas do que em casa. A escola passou a assumir cada vez mais responsabilidades que deveriam ser compartilhadas com outros grandes setores da sociedade.”

Dados de violência 

De acordo com um estudo realizado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) , mais de 150 milhões de adolescentes entre 13 e 15 anos de diferentes países já tiveram alguma experiência de violência dentro ou ao redor da escola com outros colegas.

Além disso, somente no Brasil, 14,8% dos estudantes com idades semelhantes já revelaram faltar à aula por não se sentirem protegidos dentro e fora do ambiente escolar, e outros 7,4% foram vítimas de bullying. Na outra ponta, 19,8% dizem já ter praticado essa violência.

Segundo um levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 23% dos brasileiros declararam ter sofrido bullying em algum momento da sua vida.

“O bullying esconde questões de violência ligadas a identidade de gênero, racial, personalidade, orientação sexual, religião, que são os direitos mais fundamentais da personalidade”, analisa Vitor.

O pesquisador também relembra a importância de entender quais são as violências estruturais por trás do bullying, pois a escola era para ser um ambiente de resolução pacífica, mas não consegue.


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