O presidente da Câmara se nega a dar qualquer declaração à imprensa sobre o caso
Agência Câmara
O presidente da Câmara se nega a dar qualquer declaração à imprensa sobre o caso

Em entrevista publicada nesta segunda-feira (17) pelo Universa , Jullyene Lins, ex-esposa do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), acusou o parlamentar de bater nela, estuprá-la e fazer ameaças com o objetivo de levá-la a modificar o depoimento à polícia para que ele fosse absolvido.

Jullyene e Arthur Lira se casaram em 1996 e ficaram juntos por 10 anos. Ao site Universa, ela contou que em novembro de 2006, Lira - ainda deputado estadual de Alagoas e divorciado há seis meses -  descobriu que ela estava se encontrando com outra pessoa, começando as agressões. 

"Ele dizia: 'Sua puta, sua rapariga, você quer me desmoralizar?', enquanto puxava meu cabelo e me batia. Quando me deu uma rasteira, eu caí, e ele começou a me chutar", relata Jullyene.

Batalha judicial

Além do laudo atestando as marcas de violência no corpo de Jullyene, o processo judicial ainda contava com testemunhas que confirmaram a versão dela sobre o ocorrido. O processo correu até o ano de 2015, quando Lira já havia sido eleito deputado federal e tinha foro privilegiado, devendo ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). 

No julgamento, ele foi inocentado após as mudanças nos depoimentos de Jullyene. Ela contou que foi ameaçada pelo ex-marido, afirmando que a mataria para ficar com os filhos do ex-casal. Ela também deu entrevistas à Folha de São Paulo e à Agência Pública, em 2021 e em 2023, respectivamente. 

Na última, ela contou sobre o estupro que sofreu no mesmo dia em que falou sobre o caso, e explicou não ter entendido, no passado, que o que ela sofreu trata-se de violência sexual.

"Tive o entendimento há uns três ou quatro anos, vendo reportagens e divulgações na internet sobre o assunto. Me senti enojada, suja, horrível"

Em uma das agressões, Jullyene relata que Arthur Lira a questionou sobre o fato de estar em um barzinho e disse que iria até a sua casa para conversar pessoalmente. "Quando abri a porta, ele já me deu um soco. Começou a me chutar. Foi muito humilhante". 

A agressão seguiu escalonando quando ele empurrou a ex-esposa contra a parede, esganando-a enquanto dizia “Você está procurando homem? Não quer homem? Você tá vadia? Tá atrás de homem pra fu***?".

Nesse momento, segundo a vítima, Arthur Lira a estuprou. "Ele ficou por cima de mim. Eu esperneava, gritava, pedia socorro, enfim. Ele fez o ato e eu não consegui me desvencilhar. Só escapei no momento em que ele foi se arrumar.”

Nesse momento, ela pediu ajuda à babá de seus filhos, que chamou a mãe e a irmã da vítima - as testemunhas do processo - para socorrê-la.

Deboche, coação e “personalidade violenta” 

O parlamentar chegou a ser afastado de seu mandato e até recebeu voz de prisão, mas não foi punido pela Justiça. Durante o processo, Lira foi chamado a depor mais de uma vez, sem jamais comparecer. 

No relatório do processo, o desembargador Orlando Monteiro Cavalcanti Manso atestou desprezo do atual presidente da Câmara dos Deputados pela Justiça, citando um momento em que o mesmo teria dito “Eu recebo já essa merda”ao oficial de justiça, referindo-se à intimação sobre o processo. 

Para o desembargador, “tornou-se clarividente a personalidade violenta do réu, não só com sua ex-esposa". Contudo, quando ele se elegeu para o Congresso, o processo passou para o STF, que o absolveu devido à mudança nos depoimentos da vítima e das testemunhas. Questionada sobre o motivo de ter mudado sua versão dos fatos, Jullyene afirmou ter sentido medo das ameaças feitas pelo parlamentar. 

“Ele dizia: 'Vou tirar os meninos de você e vou acabar com a sua vida. E você vai me pagar se não fizer isso. Acabo com a sua vida. Dentro de Alagoas, do Brasil, você não vai ser ninguém'”. Diante da ameaça, Jullyene pediu à mãe, ao irmão e à babá que também mudassem os seus depoimentos. "Sou responsável por isso e não me isento da minha culpa", disse a vítima, que hoje lamenta o fato de não ter mais contato com seus filhos e, segundo a reportagem, chora ao falar sobre eles.

Agora, Jullyene está em contato com seus advogados para avaliar se é cabível e se vale a pena ou não entrar com uma nova denúncia contra Arthur Lira, dessa vez pelo estupro. Para além das entrevistas à imprensa, ela também está usando as redes sociais para denunciar o caso e ajudar outras mulheres que sofreram abusos semelhantes a quebrarem o ciclo de violência, e também cobra uma ação concreta da Justiça contra suspeitas de crimes supostamente cometidos por Lira em escândalos como o do orçamento secreto, por exemplo. 

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