A Polícia Civil começa a ouvir, na tarde desta terça-feira (25), profissionais que participaram do primeiro procedimento que levou a amputação do braço da passista Alessandra dos Santos Silva, de 35 anos. A vítima passou por uma cirurgia para a retirada de miomas do útero, no Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, em fevereiro. A cirurgia provocou uma série de complicações, que levaram a mulher ser submetida a uma histerectomia e perder o membro esquerdo.
O delegado da 64ª DP (São João de Meriti), que investiga o caso, Bruno Enrique Menezes, afirmou que já recebeu o prontuário médico de Alessandra do Hospital da Mulher e que remeteu os documentos ao Instituto Médico Legal (IML) para exames periciais. Segundo o titular, a passista já foi ouvida e, após as oitivas desta terça-feira, vai avaliar a necessidade dos depoimentos dos profissionais envolvidos no pós-operatório da paciente.
De acordo com Alessandra, que também é trancista, em agosto do ano passado, exames apontaram a presença de miomas em seu útero e os médicos recomendaram a retirada imediata. Entretanto, a cirurgia só foi realizada no dia 3 de fevereiro deste ano, no Hospital da Mulher. À noite, após o procedimento, as primeiras complicações começaram a aparecer, quando uma hemorragia foi identificada e Alessandra precisou ser submetida uma histerectomia total (retirada do útero), no dia seguinte.
Durante a visita, depois da cirurgia, familiares encontraram a paciente intubada, com as pontas dos dedos esquerdos escurecidas, além de braços e pernas enfaixados. Ao serem questionados, os profissionais alegaram que ela estava com frio. No dia 6 do mesmo mês, os parentes foram informados pela equipe médica que a mulher seria transferida para o Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro (Iecac), em Botafogo, na Zona Sul, porque seu braço estava praticamente preto e começando a necrosar.
A trancista chegou a passar por uma drenagem no Iecac, que não surtiu efeito. A família precisou ser convocada e autorizou a amputação do braço, já que os médicos afirmaram que Alessandra não sobreviveria se mantivesse o membro, por conta das chances da necrose se alastrar. Mesmo depois da cirurgia , a vítima ainda sofreu com complicações, tendo os rins e o fígado quase paralisados, além do risco de uma infecção generalizada.
Alessandra só foi extubada em 12 fevereiro e teve alta da unidade de saúde dois dias depois. Entretanto, ao retornar ao Instituto para a revisão da cirurgia de amputação, no dia 28 seguinte, o médico notou que os pontos das cirurgias realizadas em São João de Meriti estavam em mau estado e recomendou que ela procurasse um hospital.
"Achando que o pesadelo tinha acabado, fui tirar os pontos do meu braço no Iecac e minha mãe pediu, encarecidamente, para o médico olhar os pontos da minha barriga. Quando ele deu essa olhada, ele até se emocionou. Ele me disse que eu precisava procurar um hospital as pressas porque se não minha barriga ia necrosar igual meu braço, estava toda infectada. Eles [Hospital da Mulher Heloneida Studart] tentaram me matar duas vezes", revelou a passista.
Ela procurou outros hospitais, até conseguir uma vaga, em 4 de março, no Hospital Maternidade Fernando Magalhães, em São Cristóvão, de onde foi transferida e novamente internada no Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro. A alta aconteceu um mês depois.
Procurada, a Secretaria de Estado de Saúde do Rio (SES) informou que a Fundação Saúde abriu sindicância para apurar o ocorrido no Hospital da Mulher Heloneida Studart. Em nota, o Acadêmicos do Grande Rio disse que está acompanhando o caso de perto e que já ofereceu todo o suporte necessário para ela e sua família. "Nos uniremos ao esforço de buscar justiça diante do ocorrido", completou a agremiação.
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