A antropóloga e diretora de Proteção Territorial e de Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato do Ministério dos Povos Indígenas, Beatriz Matos, afirmou que as bases de proteção das comunidades estão em situação precária, tendo um "problema seríssimo de recursos humanos”.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, Matos diz que "entre os yanomamis, há povos isolados e parte deles de recente contato. Aquela situação é fruto do sucateamento". Ela completa dizendo que eles assumiram o "departamento no MPI preocupados com o órgão indigenista" e que estava "sem condição nas bases, é impossível ação efetiva de proteção aos direitos desses povos".
A antropóloga explica que é compreensível e deve ser respeitada a recusa dos povos indígenas em contatar o governo, e chama de "perverso" quem atribui a crise humanitária vista no povo yanomami a uma possível passividade da comunidade. "O que os faz vulneráveis é a ocupação violenta do território, que é deles ancestralmente. Estão lá muito antes de o Brasil existir”.
"Temos de combater as invasões para que possam viver da maneira que eles entendem ser a melhor”, afirma a antropóloga.
Beatriz Matos possui trabalhos com povos indígenas isolados e de recente contato a quase 20 anos. Ela atuou no Vale do Javari, no Amazonas. Ela é viúva do indigenista Bruno Pereira, que foi morto em junho de 2022 junto com o jornalista britânico Dom Phillips.
Matos e Pereira fundaram o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados em 2020, com o objetivo de monitorar e pressionar o governo do então presidente Jair Bolsonaro (PL) para manter as políticas dos povos indígenas.
Em fevereiro deste ano, ela foi nomeada como diretora do Ministério dos Povos Indígenas. Ela diz que ainda que a base do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenha atuado e votado contra os direitos indígenas, a "situação é infinitamente mais favorável que no governo passado”.
"Claro que há forças contraditórias no próprio governo. Também é um trabalho didático. Tendo indígenas nos fóruns mais centrais, como uma ministra, vão ouvir realidades que normalmente não ouviriam. […] É um trabalho de articulação", finaliza a antropóloga.