A jornalista Glória Maria morreu aos 73 anos nesta quinta-feira (2), no Rio de Janeiro, em decorrência de um tumor cerebral . A informação foi divulgada pela TV Globo através de uma nota.
“É com muita tristeza que anunciamos a morte de nossa colega, a jornalista Glória Maria”, começa a nota da emissora carioca. “Em 2019, Glória foi diagnosticada com um câncer de pulmão, tratado com sucesso com imunoterapia. Sofreu metástase no cérebro, tratada em cirurgia, também com êxito inicialmente”, explica o texto. "Em meados do ano passado, Glória Maria começou uma nova fase do tratamento para combater novas metástases cerebrais que, infelizmente, deixou de fazer efeito nos últimos dias, e Glória morreu esta manhã, no Hospital Copa Star, na Zona Sul do Rio".
Glória Maria bateu de frente com general da Ditadura Militar
Glória foi pioneira do jornalismo brasileiro em diversas frentes. A partir de grandes coberturas nacionais e internacionais, ela abriu os caminhos para jornalistas negros que sonhavam em ter um espaço na televisão. Com isso, sua trajetória também foi marcada por alguns episódios de recismo.
Um desses casos foi durante a Ditadura Militar . Glória entrevistou os chefes de Estado que protagonizaram o período. O fato de não reestruturar suas perguntas para agradar aos militares fez com que a jornalista se tornasse uma desafeta do general João Baptista Figueiredo , o último dos militares a comandar o regime.
“Eu perguntava o que eu queria e eles me olhavam e se perguntavam: ‘de onde saiu essa maluca?", disse durante participação no Roda Viva.
Glória e Figueiredo tiveram uma discussão que foi ao ar no Jornal Nacional. O episódio foi relembrado pela repórter em uma entrevista ao programa Conversa com Bial em 2020.
"Não me suportava. Quando ele foi indicado, a gente foi fazer a famosa fala dele na Vila Militar, em que ele dizia: 'para defender a democracia, eu bato, prendo e arrebento", contou. "Isso que o senhor citou não existe mais", rebateu a jornalista, ao vivo. Com isso, acabou sendo expulsa pelo general: "Tira essa mulher daqui, tira essa mulher daqui".
A jornalista contou que, a partir desse dia, o militar passou a odiá-la e tratá-la com desprezo. "Onde eu chegava, dizia para a segurança: 'Não deixa aquela neguinha chegar perto de mim'", relatou ao Projeto Memória Globo.
Apesar da tensão, ela reiterou que não tinha medo do general. "Esse episódio do Figueiredo foi horroroso. Mas eu não tinha essa preocupação de ele me mandar prender ou fazer algo comigo, porque se ele fizer alguma coisa, eu mando ele para outra coisa."
Glória estreou como repórter na TV Globo em 1971. Ela apresentou o Fantástico de 1998 a 2007, e, desde 2010, integrava a equipe do Globo Repórter. Ela deixa duas filhas, Laura, de 14 anos, e Maria, de 15 anos.
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