O líder espiritual indiano Sri Sri Ravi Shankar afirmou a mulheres que disseram terem sido abusadas sexualmente por instrutores da ONG Arte de Viver que um dos suspeitos, Swami Paramtej, estava “muito arrependido do que fez” e que temia que ele cometesse suicídio. As vítimas acreditam que a intenção dele era desestimulá-las a levar as denúncias à frente . A gravação do encontro virtual em que o Shankar admite que houve conduta inapropriada por parte de um de seus mentores foi obtida pelo GLOBO, mas as denunciantes pediram que o material, que pode ser usado na investigação, não fosse tornado público. Procurada, a entidade não se manifestou sobre o assunto.
De acordo com N., ex-instrutora e voluntária da ADV por oito anos, que acompanha as denúncias na Argentina, a conferência foi marcada para falar dos casos envolvendo Paramtej, ex-mentor de ioga e meditação da ONG na América Latina, e outro instrutor da instituição. Shankar disse que a organização estava do lado das vítimas, mas queria evitar que Paramtej se matasse.
As mulheres alegam que Shankar fez os comentários para desestimular as denúncias e a exposição dos casos . A reunião foi no dia 9 de abril, com frequentadoras da ADV no Brasil, Argentina e Uruguai. Uma ex-integrante do comitê de ética da Arte de Viver revelou ao GLOBO que quatro pessoas do grupo, criado para apurar as denúncias de abusos sexuais, renunciaram à função porque perceberam tentativas de abafar as investigações sobre os casos.
"Eu ouvi dele: 'você pode contar a quem você quiser, mas eu sei que Swami Paramtej não vai suportar se isso se tornar público, e ele vai se suicidar, e você não quer isso, certo?'" contou N. ao GLOBO.
A ex-voluntária rebateu que as vítimas não seriam responsáveis. “Não disse que é sua responsabilidade, mas é minha responsabilidade fazer com que as pessoas não cometam suicídio”, replicou Shankar .
"Quando ouvi a resposta, fiquei indignada e desprotegida. Não conseguia acreditar que meu mestre espiritual usava uma ferramenta de manipulação tão perversa", disse N., acrescentando que o guru já havia feito dois encontros com outra acusadora. "Nas reuniões anteriores, a vítima foi silenciada por Shankar, que disse que ela deveria seguir em frente e se juntar a uma das milhões de pessoas na Arte de Viver que não são abusadoras", relata.
Uma das vítimas perguntou como confiar na ONG depois de abusada. Shankar respondeu que Paramtej “não era uma pessoa perfeita” e perguntou que tipo de castigo gostariam que fosse dado. O guru acrescentou, no entanto, que não se opunha a quem quisesse ir à polícia.
A Arte de Viver disse desconhecer o vídeo. “Ressaltamos que todas as videoconferências são privadas e nem os voluntários nem os voluntários/gestores autorizaram qualquer gravação de imagem ou voz, portanto, qualquer áudio ou imagem não reconhecemos como legítima (vide LGPD). A ADV possui como princípios a preservação da intimidade e respeito às leis de todos os mais de 150 países em que atua”, afirmou a ONG, em nota.
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