Gabriel da Silva dos Santos Ferreira e Vitória Carvalho Borges Barria foram presos por crime de homicídio qualificado por policiais da 135ª DP (Itaocara), nesta terça-feira, pela morte da própria filha, Helena Borges Ferreira, de 3 meses. De acordo com as investigações da polícia, o bebê foi agredido por dias seguidos e apresentava lesões corporais, como fraturas de tíbia e fêmur caracterizando a Síndrome de Silvermann (criança espancada).
"As investigações descartaram essa possibilidade logo de início, o que foi comprovado com os laudos médicos", disse o delegado Carlos Augusto Guimarães da Silva, titular da 135ª DP Itaocara. "A mãe foi omissa e será punida pela omissão".
O laudo médico revela que a menina sofreu contusão abdominal com lesão hepática, lesão do pâncreas e hemorragia peritonial e retroperitoneal, além de contusão do crânio com edema cerebral provocados por ação contundente.
A menina deu entrada no Hospital de Itacoatiara na última sexta-feira. A enfermeira Elaine da Silva Escobar, que estava de plantão, disse que a criança já chegou na unidade sem respirar e que por mais que tenham sido feitas manobras de reanimação pela equipe, "a menina já apresentava início de rigidez".
Por considerar a morte suspeita e as lesões não patológicas, o médico plantonista Raphael Santiago Dias não emitiu atestado de óbito e chamou a polícia. O comportamento frio e indiferente de Gabriel logo após a notícia da morte da filha chegou a chamar a atenção da polícia. De acordo com os investigadores, ele também não deixava Vitória sozinha.
Em seu primeiro depoimento, Gabriel negou as agressões e chegou a dizer que as manchas roxas no corpo da criança eram consequência de anemia e infecção urinária. O pai disse ainda que o bebê tinha acompanhamento de um ortopedista por ser portadora da doença dos ossos de vidro (osteogenesis Imperfecta). No entanto, as investigações e os exames confirmaram as agressões.
As primeiras marcas no corpo de Helena teriam surgido no dia 26 de abril, na perna. No dia primeiro de maio, um hematoma no rosto do bebê fez com que Vitória levasse a filha ao Hospital de Itaocara/RJ. Uma semana depois, uma nova passagem por uma unidade de saúde, desta vez, um posto médico na Cidade Nova.
Lá, a criança recebeu encaminhamento para o Hospital de Itaperuna e foi informada no local de que sua filha estaria sendo agredida fisicamente. Sem qualquer marca no corpo após a internação, a mãe constatou novamente manchas roxas no peito de Helena, no dia 24 de maio. No dia 30, novas marcas, desta vez, no maxilar.
Passagens do bebê, nos dias 30 de junho e 8 de julho, pela Casa de Saúde Pio XII, em Santo Antônio de Pádua, mostram registros de fraturas. O médico Marcelo da Silva Lima Dias alertou a mãe sobre o risco da fratura evoluir para morte, caso não fosse feita a imobilização. A mãe não atendeu aos apelos do médico.
"Após o bebê sofrer fraturas na tíbia e no fêmur, o médico orientou a mãe sobre a necessidade de mobilização, mas foi inerte, não levou a criança para ser imobilizada. A evolução dessa conduta pode ter culminado na morte da criança", disse o delegado.
A mãe confirma que não seguiu as orientações do médico, mas disse à polícia que estaria tentando levantar dinheiro para levar a criança a um especialista e que ela estaria bem de saúde, o que os laudos mostram que não. Ela disse não desconfiar das agressões e maus-tratos praticados por Gabriel.
No dia da morte de Helena, o pai disse que a menina tinha manchas roxas no corpo e que a botou para dormir por volta das 23h. Uma hora depois, o bebê teria acordado com fome, mas dormiu logo depois de tomar mamadeira.
Por volta de 4h da manhã, Gabriel e Vitória teriam acordado para ir ao banheiro e perceberam que o bebê estava imóvel e sem respiração. O pai diz que tentou reanimar o bebê, que não respondeu às manobras. Só então a criança foi levada para o hospital.
O casal estava junto há cerca de um ano e, de acordo com Jhonatan Gonçalves Borges, enfermeiro e primo de Vitória, Gabriel tinha personalidade forte e temperamento agressivo, não trabalhava e vivia da renda da mulher. Segundo ele, Gabriel dominava psicologicamente a mulher.
Ele disse, ainda que após um exame feito no Hospital de Itaperuna, foram constatados indícios de maus-tratos, o que foi comunicado ao Conselho Tutelar, e que lá ficou constatado que as marcas no corpo da bebê não tinham relação com qualquer doença, mas sim a traumas sofridos.
Em seu depoimento, Jhonatan disse que Gabriel não deixava que ele examinasse Helena.
Em um novo depoimento, Gabriel continuou negando as agressões, disse não saber a origem das marcas no corpo da filha, mas disse que deixou a menina cair no chão. Ele afirmou que Helena ficava apenas sob os cuidados dele e de Vitória.
Madrinha de Vitória, Michelli Correa de Oliveira Souza, reforça que Gabriel tinha um temperamento difícil e que ele teria a impedido de conversar com a afilhada após os primeiros relatos de lesões em Helena. Vizinha do casal, Michelli relatou ter escutado a criança chorar muito e que as agressões apareciam sempre depois que ela ficava sozinha com o pai.
Entre no canal do Último Segundo no Telegram e veja as principais notícias do dia no Brasil e no Mundo. Siga também o perfil geral do Portal iG.