Geovânio Katukina, coordenador de índios isolados e de recente contato da FUNAI
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Geovânio Katukina, coordenador de índios isolados e de recente contato da FUNAI

Diante da maior crise da história recente do indigenismo no país, após um mês do brutal assassinato do servidor licenciado Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, o coordenador de índios isolados e de recente contato da Fundação Nacional do Índio (Funai) , Geovânio Katukina, entrou em férias. 

O pedido aconteceu logo depois de Katukina ter sido convidado pela Comissão de Direitos Humanos do Senado (CDH) para depor presencialmente sobre a crise instalada no Vale do Javari, local com a maior concentração de povos isolados do mundo. Katukina não confirma se irá depor. 

A decisão sobre o período de descanso de 04 a 15 de julho para o servidor foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) nesta quinta-feira.

As férias de Katukina têm início na semana seguinte ao protocolo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) de uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para que o governo federal apresente, em 60 dias, um plano de proteção para regularização e proteção das terras com presença de povos indígenas isolados e de recente contato. 

A medida foi motivada pelo brutal assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, no Vale do Javari, na Amazônia, no último dia 5 de junho. A ação foi distribuída para o ministro Edson Fachin, que deu prazo de cinco dias úteis para a Presidência da República e a Funai se manifestar. O prazo termina nesta sexta-feira.

“Nº 460- Art. 1º Designar PRISCILA RIBEIRO DA CRUZ, matrícula n° 1920166, para exercer o encargo de substituta do Coordenador-Geral de Índios Isolados e de Recente Contato, código DAS 101.4, da Diretoria de Proteção Territorial desta Fundação, no período de 04 a 15 de julho de 2022, em decorrência de vacância do titular e de férias do substituto eventual”, diz a publicação no Diário Oficial da União.

O GLOBO apurou que Priscila exerce função administrativa, burocráticas e de logísticas da área das frentes de proteção etnoambiental e não tem a mínima experiência com o tema dos povos isolados e de recente contato. Procurado pelo GLOBO, Katukina disse que tirou férias para finalizar um curso de mestrado. A Funai ainda não respondeu aos questionamentos da reportagem.


Katukina sai de férias em meio a um momento turbulento pelo qual passa a Funai, com greve de servidores, pedidos de renúncia do presidente Marcelo Xavier e denúncias de descaso de proteção territorial e da segurança de agentes que atuam no Vale do Javari cujas mazelas foram reveladas na ação brutal de pescadores ilegais que atuam onde a Funai deveria fiscalizar. O cargo que ele ocupa interinamente já foi chefiado por Bruno, de quem Katukina foi subordinado.

Na semana passada, Katukina foi convidado pela Comissão de Direitos Humanos do Senado a depor presencialmente na CDH sobre a crise no Vale do Javari, após o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) se irritar com respostas evasivas do chefe do órgão, em depoimento virtual.

Katukina foi nomeado como substituto de Marcelo Torres na chefia de índios isolados, que deixou o cargo após pressão do movimento indígena e indigenista. Torres assumiu o posto depois que o missionário Ricardo Lopes Dias Lopes foi exonerado após uma série de reportagens do GLOBO sobre sua atuação como religioso e tentativas de contatar índios isolados sem cumprir a quarentena.

A força-tarefa ainda segue presente em Atalaia do Norte, mas o clima é de insegurança na região de todo o Vale do Javari, principalmente, entre servidores da Funai, que apontam para o aumento das invasões. Em sete missões realizadas pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari, Bruno Pereira contou ao GLOBO que foram levantadas, ao menos, 120 pontos de invasões ao longo dos rios Itaquaí e Ituí.

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