O indigenista Bruno Pereira (ao centro) em missão realizada pela Funai , no Vale do Javari
Divulgação/Funai/Arquivo
O indigenista Bruno Pereira (ao centro) em missão realizada pela Funai , no Vale do Javari

O indigenista Bruno Araújo Pereira, da Fundação Nacional do Índio (Funai) , denunciou há dois meses uma organização criminosa que atua na pesca e caça ilegal no Vale do Javari, local onde desapareceu em 5 de junho na companhia do jornalista inglês Dom Phillips

Pereira fez um mapeamento da área para as autoridades, inclusive com indicação do local e de fotos dos envolvidos na organização criminosa. Entre eles, estavam Amarildo da Costa de Oliveira, conhecido como Pelado, e o irmão dele, Oseney da Costa Oliveira, o Dos Santos. Ambos estão presos pela morte do indigenista e do jornalista .

A denúncia de Pereira foi feita à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal (MPF) de Tabatinga. Um dossiê foi entregue aos representantes dos órgãos em 4 de abril.

Após a reunião, o MPF requisitou a abertura de inquérito policial com base nas informações dos relatos. Desde dezembro, o Ministério Público Federal tem um procedimento instaurado para investigar os relatos.

O GLOBO apurou que os nomes então apontados por Bruno Pereira ao delegado da PF, Ramon Santos Morais, e da procuradora Aline Morais Martinez, presentes na reunião, também já figuravam como suspeitos no envolvimento da morte de outro servidor da Funai, Maxciel Pereira dos Santos, morto em 2019, em plena luz do dia, em Tabatinga.

Maxciel foi assassinado com dois tiros na cabeça na frente de sua mulher, uma semana depois de participar de uma apreensão de mais de 1 tonelada de carne de pescados e caça. A suposta organização teria continuado com a prática ilegal três anos depois da morte do servidor. Até hoje ninguém foi preso ou acusado pelo assassinato.

Lavagem de dinheiro

A Polícia Federal investiga um esquema de lavagem de dinheiro para o narcotráfico por meio da venda de peixes e animais que pode estar relacionado ao desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips.

O GLOBO apurou que apreensões de peixes que seriam usados no esquema foram feitas recentemente por Pereira. As embarcações levavam toneladas de pirarucus, peixe mais valioso no mercado local e exportado para vários países, e de tracajás, espécie de tartaruga considerada uma especiaria e oferecida em restaurante sofisticados dentro e fora do país.

A ação de Pereira contrariou o interesse do narcotraficante Rubens Villar Coelho, conhecido como "Colômbia", que tem dupla nacionalidade brasileira e peruana. Ele usa a venda dos animais para lavar o dinheiro da droga produzida no Peru e na Colômbia, que fazem fronteira com a região do Vale do Javari, vendida a facções criminosas no Brasil. Há suspeita de que ele teria ordenado a Amarildo da Costa de Oliveira, o Pelado, a colocar a “cabeça de Bruno a leilão”.

Prisão dos suspeitos

Pelado foi preso em 8 de junho, três dias após o desaparecimento de Phillips e Pereira. O suspeito foi detido com cartuchos deflagrados de espingarda calibre 16. Os policiais também encontraram com ele uma munição intacta de calibre 762 e uma pequena quantidade de um pó branco, supostamente cocaína.

Dos Santos foi preso nesta terça-feira. Trecho de interrogatório enviado em relatório da PF ao ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), revela que uma testemunha viu as embarcações de Bruno e Dom e, em seguida, encontrou um outro homem nominado de “Dos Santos".

Conforme o depoimento obtido pelo O GLOBO, Dos Santos estava remando uma pequena embarcação de madeira no meio do rio. Dos Santos solicitou ajuda para ser rebocado até mais à frente, tendo o ajudado a chegar ao barco de "Pelado", que estava parado no meio do rio, com apenas um tripulante. Esse depoimento, segundo a PF, coloca "Pelado" e "Dos Santos" no lugar do suposto desaparecimento.

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