Dorothy Stang, ativista ambiental assassinada em 2005
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Dorothy Stang, ativista ambiental assassinada em 2005

O relatório da ONG internacional Global Witness publicado em 2020 revela que ao todo 20 pessoas foram assassinadas naquele que foi considerado o ano mais perigoso para indígenas e ativistas que defendem a conservação e a preservação da natureza. A maioria dos casos registrados no país ocorreu na região da Amazônia, região onde crimes ambientais, garimpo ilegal, pesca predatória e tráfico de drogas, fazem parte da realidade de quem vive ali. 

Nesta quarta-feira (15), a confissão de dois homens envolvidos supostamente na morte do indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista Dom Phillips, agravou  realidade brasileira e reacendeu os holofotes para um problema histórico no país. 

Assassinatos ne lideranças indígenas e ambientalistas 

Em 2020, o indígena Ari Uru-Eu-Wau-Wau, de 34 anos, foi encontrado morto no distrito de Jaru (RO) do outro lado da via onde sua moto estava estacionada. Ari Uru-Eu-Wau-Wau denunciava extrações ilegais de madeira dentro da aldeia de povo indígena. 

No mesmo ano, os indígenas Original Yanomami, de 24 anos, e Marcos Arokona da mesma idade, foram mortos em conflito com garimpeiros na região do rio Parima, na Terra Yanomami em Alto Alegre (RO). Outra vítima da violência foi trabalhador rural Raimundo Nonato, morto na região de Junco, no Maranhão no mesmo ano de 2020. 

Caso Dom Phillips e Bruno Araújo

Dom e Bruno estavam desaparecidos desde 5 de junho após seguirem em expedição na densa região do Vale do Javari, mas apesar das confissões dos supostos assassinos, os corpos ainda não foram encontrados. A Polícia Federal conduziu hoje, Amarildo da Costa de Oliveira, o Pelado junto de seu irmão, Oseney da Costa Oliveira, o Dos Santos, ao local onde supostamente os corpos estariam enterrados. 

Servidor de carreira da Fundação Nacional do Índio (Funai), Bruno era um dos maiores indigenistas de sua geração e atuou na região de Atalaia do Norte, no Amazonas, por mais de uma década chegando a ocupar o cargo de coordenador regional. Há 3 meses ele havia denunciado uma quadrilha de pescadores ilegais da qual supostamente Pelado e Dos Santos faziam parte. 

Já Dom, jornalista inglês, trabalhou como correspondente no Brasil por mais de 15 anos. No país ele escreveu reportagens para dezenas de jornais de todo o mundo, sobretudo, a respeito de temas ambientais.

Caso Dorothy Steng

Em 2005 o assassinato da ambientalista Dorothy Steng comoveu o mundo.A missionária foi assassinada por intermediar conflitos agrários na região de Anapu no Pará. Nascida em 1931 nos Estados Unidos, Steng se dedicou ao trabalho missionário no final dos anos 60. Desde então Stang atuava em defesa dos trabalhadores rurais sem terra no estado.

De acordo com relatório da ONG internacional Global Witness, na região da Amazônia brasileira e peruana, mais de 70% dos assassinatos estão relacionados à defesa do meio ambiente e da terra ou ligados à exploração de recursos naturais como extração madeireira, mineração e agronegócio em grande escala, garimpo ilegal, barragens hidrelétricas e outras infraestruturas.

Maxciel Pereira dos Santos

O colaborador da Fundação Nacional do Índio (Funai) Maxciel Pereira dos Santos, que atuava em defesa dos indígenas da Terra Indígena do Vale do Javari, na Amazônia, foi morto em 2019 na mesma região onde o jornalista britânico Dom Phillips e o servidor Bruno Araújo Pereira foram assassinados. Na época, a Polícia Militar informou que Maxciel morreu com dois tiros na nuca quando andava de moto com a esposa e a enteada na cidade de Tabatinga. As duas sobreviveram, mas ele faleceu no local.

Conforme noticiou O GLOBO, a investigação do caso por parte da Polícia Federal ainda está com o inquérito aberto, sob sigilo, e nenhum suspeito foi localizado. Desde 2018 até a data do crime, a base da Funai no Vale do Javari já havia sido atacada quatro vezes.

Maxciel atuava principalmente na base Ituí-Itacoaí, que funciona sobre uma balsa e está a cerca de 40 km da cidade de Atalaia do Norte. O objetivo dessa base é impedir a entrada de invasores a uma área identificada como a de maior presença de índios isolados do mundo. Pessoas ligadas ao colaborador da Funai apontam que ele teria sido assassinado por seu trabalho de combate ao garimpo, à exploração ilegal de madeira, à caça e à pesca ilegais na região. Ele trabalhava na coordenação da Frente de Proteção Etnoambiental.

À epoca, indígenas da região relataram que invasores fizeram novas ameaças após o assassinato de Maxciel, dizendo que "mais mortes poderiam acontecer".

Paulo Paulino Guajajara

Paulo Paulino Guajajara, conhecido como Lobo Mau, foi assassinado a tiros em 1º de novembro de 2019, na Terra Indígena Arariboia, no Maranhão. Paulino era um guardião da floresta, responsável por fiscalizar e denunciar invasões na mata. Ele estava acompanhado de Laércio Guajajara, liderança da região, que conseguiu fugir do ataque, apesar de ter sido alvejado com tiros no braço e nas costas, e outros de raspão. Ambos voltavam de um dia de caça, quando se depararam com uma emboscada, homens armados que podem ser caçadores ou madeireiros

A morte de Paulo Paulino despertou comoção imediata entre as entidades de apoio ao meio ambiente. Jovem, com espírito de preservação da mata e de seu povo, era casado e pai de um menino. Os criminosos, Raimundo Nonato Ferreira de Sousa e Antônio Wesley Nascimento, foram indiciados em 10 de janeiro de 2020 pela morte do indígena. A dupla foi condenada por homicídio doloso – quando há intenção de matar – e por porte ilegal de arma de arma de fogo e caça ilegal. O delegado da Polícia Federal responsável pelo caso, Nathan Vasconcelos, afirmou que as investigações apontam que os dois estavam na região praticando atividades de caça.

Chico Mendes

Na noite de 22 de dezembro de 1988, o ecologista Chico Mendes, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, no Acre, foi morto a tiros de espingarda, no quintal de sua casa, por Darcy Alves da Silva, a mando de seu pai, o fazendeiro Darly Alves da Silva.

Chico Mendes havia sido condecorado pela ONU no ano anterior, por sua luta em defesa do meio ambiente. O ecologista, que ajudou a organizar o trabalho e a resistência dos seringueiros, foi o fundador da primeira reserva extrativista do Brasil, 40 mil hectares de exploração conservacionista, em São Luiz do Remanso, situado a 80 quilômetros de Rio Branco, capital do Acre. Sua morte repercutiu no mundo inteiro, onde era conhecido como o “herói da floresta”, tendo sido o único brasileiro a participar, em 1988, de uma reunião de 500 ecologistas de todo o mundo na ONU, em Washington.

Em dezembro de 1990, depois de um julgamento que durou quatro dias, os assassinos foram condenados a 19 anos de prisão.

Emyra Wajãpi

Indígenas da etnia Wajãpi denunciaram no dia 25 de julho de 2019 que um grupo de garimpeiros assassinou o cacique Emyra Wajãpi, de 68 anos. A morte foi o início de um ataque à aldeia Mariry, que se concretizou com a invasão de 50 garimpeiros no local, localizado no oeste do Amapá. Segundo relatos, o cacique foi esfaqueado no meio da mata no momento em que se deslocava até sua aldeia, depois de ter ido visitar a filha.

O inquérito que investigava a morte do cacique foi arquivado em dezembro pelo Ministério Público Federal (MPF). A entidade alegou que a investigação da Polícia Federal (PF) constatou morte acidental e sem indícios de invasão de garimpeiros. O processo de apuração foi feito por meio de visitas na Terra Indígena, audição de testemunhas, sobrevoo da região e laudos periciais do corpo do indígena.

Segundo a polícia, dois fatores dão indícios que a morte do cacique foi acidental: a ausência de hemorragia ou traumatismo craniano, mesmo com lesões superficiais na cabeça, e o fato da passagem pelo córrego onde o corpo foi encontrado ser feita por meio de um tronco, o que pode ter provocado a queda de Emyra. As informações foram divulgadas pelo G1.

Durante a perícia, o corpo do indígena foi exumado, ao longo de duas horas, com autorização da família e de outros líderes indígenas, respeitando as tradições daquele povo.

Reginaldo Alves Barros e Maria da Luz Benício de Sousa

O casal de trabalhadores rurais, identificados como Reginaldo Alves Barros e Maria da Luz Benício de Sousa, foi encontrado morto no dia 18 de junho de 2021, na Gleba Campina, também conhecida como comunidade Vilela, no município de Junco do Maranhão (MA). Maria da Luz era ativa em movimentos sociais em defesa do direito à terra e era suplente da direção do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) da região. Ao ver a vítima, a filha, de 3 anos de idade, permaneceu sobre o corpo da mãe durante horas.

Na época, a Polícia Civil do Maranhão realizou uma operação intitulada de “Terra Vermelha”, que deu cumprimento a dois mandados de prisão e três de busca e apreensão na zona rural do município de Junco do Maranhão. Segundo os agentes, os mandantes do crime ameaçavam trabalhares para tomar as terras. Além das prisões, foram apreendidas duas espingardas, três revólveres calibre 38, e outros itens usados pelos criminosos para fazer ataques na região.

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