Com o desaparecimento do jornalista Dom Phillips e do indigenista licenciado da Funai Bruno Pereira, Renata Ilha teve o mesmo pensamento de outros ativistas ambientais: “poderia ter sido eu”.
Renata ficou sete anos na floresta. Já foi ameaçada duas vezes por pessoas armadas e acredita que hoje não conseguiria fazer os mesmos trabalhos do passado, como quando passou um ano praticamente embarcada, junto a comunidades pesqueiras.
"Hoje acho que eu seria ameaçada toda semana e não voltaria com vida", afirma a ambientalista, que acredita que a ameaça de violência se espalhou pela região. "O Brasil sempre foi difícil para se trabalhar no campo, mas hoje há um incentivo muito grande para que essa violência se concretize".
A primeira ameaça foi quando Renata trabalhava para um instituto no manejo territorial de áreas de pesca. Numa viagem em 2013 com outras três pessoas, uma reunião em uma comunidade pesqueira foi interrompida por três homens armados que mandaram a equipe deixar o local em cinco minutos. A comunidade também servia de entreposto de drogas da Colômbia.
"A gente não tinha comunicação alguma. Navegamos o mais longe possível, mas já era noite. Chegamos numa casa isolada e o morador contou que aquele pessoal era muito violento e já havia expulsado muitos moradores antigos. Ele até emprestou uma arma para que dormíssemos com ela no barco", recorda-se.
O segundo episódio foi em 2017. A ambientalista investigava o tráfico de indígenas, especialmente crianças, para trabalhos turísticos em Manaus em condições precárias. Houve uma operação da Polícia Federal na comunidade em que estava, e moradores a acusaram de ser uma agente. Ela foi recebida por um morador com um facão, na beira do rio. Mas conseguiu convencê-lo de que não tinha nenhuma ligação com a polícia.
"Entre 2013 e 2017, foi possível observar o aumento da degradação social e ambiental na região. O Rio Negro já estava sendo apelidado de Rio da Fome, por causa do empobrecimento. O desmatamento, que estava em níveis alarmantes, era incipiente perto do que vemos hoje", lembra.
Hoje, Renata coordena o Amazônia em Pé, iniciativa para usar áreas públicas da Amazônia como Terras Indígenas e Unidades de Conservação. Mãe de um filho de 3 anos, teme voltar à floresta.
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